As presidenciais e o sistema
As presidenciais vão chegando enquanto o país, mais frágil do que a Europa globalmente, se afunda numa Europa que também se afunda.
Temos na linha de partida Cavaco Silva, Mário Soares, Manuel Alegre, Francisco Louçã, Jerónimo Martins e mais um par de brincadeiras. Normalmente, o Master gosta de brincar, mas talvez este não seja o momento mais adequado. Falemos, então, embora resumidamente, a sério...
Todos sabemos que Cavaco Silva em muito contribuiu para o descalabro das finanças públicas e que, num período de um certo crescimento e no qual nos chegaram muitos milhões da União Europeia, todo esse dinheiro foi sublimemente desaproveitado com a falta total de fiscalização aos que encheram o bandulho e compraram Ferraris sem nada dar em troca - a todos os que cometeram o crime de burla. Todos nos lembramos da crispação terrível de Cavaco enquanto no Governo (os jornalistas lembrar-se-ão também da forma de agir dos seus seguranças) e da incompetência dos seus últimos executivos. Todos nos lembramos de episódios como o da ponte 25 de Abril, onde a morte esteve presente. Todos nos recordaremos de que Foz Coa deveria ter sido afundado ou de que umas certas pegadas de dinossauro deveriam ter sido erradicadas por teimosia em não desviar uma certa estrada uns metros. Todos saberemos que a conhecida "estrada da morte" - isso mesmo, a IP5 - foi construída no tempo de Cavaco, quando qualquer alma mais inteligente saberia perfeitamente que se tratava de uma estrada absolutamente normal com estilo de especial e que havia dinheiro para mais. Todos nos recordamos igualmente do escândalo da SIDA e dos hemofílicos. Todos podemos pensar em Roberto Carneiro como o único ministro da Educação digno desse nome até à data e de como acabou por baixar os braços perante a permanente recusa em lhe conceder os meios necessários para dar um empurrão ao sistema educativo público. E todos conseguimos entender que o país estava cheio de jobs for the boys, embora a imprensa só tenha inventado a etiqueta para o também famigerado governo de Guterres.
Todos sabemos que Mário Soares sempre se declarou amigo de ditadores como Ceausescu e outros não ditadores mas corruptos, que foi um dos responsáveis pelo descalabro vivido quando da descolonização, que viveu exílios de luxo, enquanto outros, menos protegidos, viam o sol atrás das grades, que está pelo menos tão velho como os papas que declarou deverem demitir-se ou não aceitar o cargo em função da sua idade. E todos nos lembramos da crispação que revelou com os governos enquanto presidente da República com pose de rei. Um rei que mandava embora sem ponta de polidez os agentes da lei que apenas cumpriam a sua função, um rei que insiste em estar acima da lei quando hoje em dia apela ilegalmente ao voto na sua prole.
Sabemos que Louçã não pretende ser presidente, como não pretende ser governo, e que representa uma certa elite intelectual da capital que, em lugar de se preocupar com o estado de degradação economico-social do país, bate permanentemente na mesma tecla, diríamos em assuntos de importância comparativamente menor.
Sabemos que Jerónimo Martins se apoia num partido ortodoxo e destituído de uma pose democrática para os próprios militantes e que o ideário comunista, com os diabos, não tem os pés assentes neste mundo, pelo que um Jerónimo Martins na presidência facilmente contribuiria para maiores problemas e injustiças, isso por muito bem intencionado que até possa ser.
Quem sobra? Sobra Manuel Alegre obviamente. Dirão alguns que não querem um presidente poeta. Ora, o que significa essa obra-prima da dialéctica? Significará também que não pretendem presidentes economistas? Que não pretendem presidentes advogados? Que não pretendem ex-operários na presidência? Sejamos justos. A sensibilidade poética de Alegre nada lhe rouba, pelo contrário, acrescenta, para um cargo como a presidência da República. Porque os economistas e os advogados já se encheram de demonstrar as suas capacidades durante trinta anos de governos incompetentes, permanentemente centrados em objectivos de curto prazo e prisioneiros de lógicas e lobbies económicos e partidários.
Não costumo manifestar-me de forma tão directa... Mas parece-me que Manuel Alegre, extrema e injustamente maltratado pelo aparelho partidário dominado pela tradição da família Soares, será o único candidato que se apresenta com um perfil honesto, de homem, e que poderá eventualmente tornar-se um presidente da República que não envergonhe Portugal e trate todos os portugueses por igual.
Por isso, o It Takes Two to Tango (esperando que quando atrás se afirmou que os portugueses se recordavam disto e daquilo, isso corresponda a uma realidade, que a memória não seja tão curta que sempre favoreça os mesmos e a mesma incompetência dos poderosos) aqui manifesta o seu apoio à candidatura de Manuel Alegre. Sem pretender convencer ninguém. Mas manifestando-se.
Imagem de http://alegrepresidente.blogspot.com.
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