It takes two to tango

Quantas vezes a vida não parece mais estranha do que a ficção? Isso é porque toda a ficção se inspira directamente na vida! É porque somos todos medricas que costumamos optar pela ficção. Só que este blog vai optar pela vida... ou algo assim...

quarta-feira, junho 07, 2006

Master Minder, o revolucionário........

Hoje, acordei com vontade de explicar que não acho que a revolução seja o melhor caminho para Portugal. A revolução não traz apenas justiça, traz igualmente injustiça. É verdade. Por outro lado, às vezes ela quase se transforma no único caminho possível em determinados momentos históricos... Não quer dizer que seja ideal. A revolução não é um ideal e sim uma necessidade histórica ocasional. Todos os que acham que não haverá mais revoluções no mundo ocidental, estão claramente a perder a inteligência da história e a revelar uma dose de ingenuidade patética. Mas a verdadeira revolução é uma revolução de costumes, de mentalidades, de comportamentos - a verdadeira revolução, a melhor, é uma revolução interior. Devemos interrogar-nos, então, o que há nos genes humanos que não permite à humanidade global comprender um facto tão óbvio... O que leva a humanidade a optar pelo egoísmo, pelo salve-se quem puder, pelo descontrolo, pelo desrespeito e autoritarismo, quando já se possui um conhecimento de tantas gerações de que se trata de um caminho que apenas leva ao eterno ciclo em que acaba por se tornar necessário destruir para construir, dar dois passos atrás para se poder dar um à frente? O que leva a humanidade a não ter memória? Os responsáveis pelas revoluções não são apenas os poderosos, ainda que esteja na natureza serem os peixes maiores a engolir os mais pequenos. As revoluções são uma responsabilidade colectiva. Minha, deles, delas, vossa, de todos. Ainda muito longe vem a sociedade perfeita defendida pelas verdadeiras filosofias anarquistas (a sociedade cívica e culta, na qual cada um assume as suas responsabilidades e a sociedade se organiza da melhor forma para o colectivo, de modo já absolutamente natural, dispensando assim o próprio Estado com todas as injustiças de jogos de interesses que gera). Utopia? Talvez. Talvez não. Mas que vem longe, vem. Para bem de alguns e para mal de uma maioria cega. Esteve na moda afirmar-se que Jesus Cristo era comunista. Nem nada... O comunismo tolhe o desenvolvimento pessoal, o que é anti-natural e só pode gerar uma reacção. Jesus Cristo era, permitam-me, anarquista - por isso (e por outros factores, quiçá inclusive porque a hora estava marcada, etc.) morreu pregado numa cruz. Mas morreu com uma convicção e um desígnio (se bem que tão falhado após tantos séculos!). No mundo, não faltam crucificados sem causa. Isso é puramente lamentável e não conduz a um pingo de nada.
Por acaso, até me aconteceu hoje dialogar com José Sócrates em sonhos... Acho que estava a ter que ser... Não se tratou de um diálogo profundamente filosófico. Não debatemos teoria política. Tratou-se meramente de compreender que não há dinheiro e que o primeiro-ministro não está a ser capaz de fazer melhor do que tem vindo a fazer. Simpatizei com o homem, nomeadamente na versão inglesa: I sympathized with him. Não deixo, no entanto, de continuar a achar que o presente rumo das coisas é imensamente errado para Portugal. É. Não há quem o não sinta na pele. Na sua perdição face a um país complicado de governar, José Sócrates esquece as mais básicas regras do bom senso, as mais básicas regras do marketing inclusive (mesmo as regras mais cândidas e menos maquiavélicas), as que nos dizem, muito logicamente, que nada se consegue com o descontentamento de alguém. Bem pelo contrário. É a esperança que move a humanidade. Sem esperança, sem projectos, resta apenas o caminho aberto a prazo para mais uma revolução repetida e repetida e repetida - de pouco adianta enganarmo-nos com afirmações do género A Espanha não permitiria ou Só houve 25 de Abril porque a CIA autorizou. A história repete-se, mas só de forma aparente, e o passado está morto e enterrado, Deus nos livre de andar para trás! Para caos, já temos qb. Mas de onde nasce, afinal, tamanha cegueira para os factos simples da vida? De uma fé cega-faca amolada? De uma auto-convicção exagerada? De uma postura tão rígida que não permite entender que o universo flui naturalmente e que esse facto é, pura e simplesmente, impossível de contrariar? Enfim, desejo o melhor a José Sócrates, pragmática e humanamente, desejando simultaneamente que consiga respirar fundo várias vezes e recobrar uma visão global e realista, a prazo, das coisas (quanto à ministra da Educação, aquela senhora que masca chicletes quando fala para a televisão, e a toda a sua entourage, desde a mais próxima à mais alargada, estou, neste momento, zangado com todos. E com muita, muita razão).
Felizmente, tenho a capacidade rara de me dar bem com os meus inimigos a posteriori. Não entendo essa coisa de rancores eternos que mina tanta gente, que leva a guerras milenares, nas quais já nem sabe o que lhes esteve realmente na origem. A não ser que as pessoas persistam no erro tão eternamente que não haja posibilidade de entendimento... Há pessoas que merecem uma estadia nos calabouços? Há. Um calabouço pode constituir, para alguns, um sítio ideal para repensar a vida, a existência, os valores e os diferentes modos de agir. Aos suficientemente inteligentes e sensíveis para aproveitar esses momentos de calabouço, interno ou externo, para mudar, abro os braços sem problemas. Com a cautela necessária (nem sempre visível), mas com sinceridade. Afinal de contas, as poucas filosofias efectivamente construtivas existentes no nosso mundo têm esse tipo de comportamento no seu fulcro... Repito-me, afirmando: a verdade mais palpável, apesar de tão esquecida, do nosso universo, é que tudo flui naturalmente. Resta-nos sempre a escolha entre caminhar com o universo de forma construtiva ou optar pela dissolvência corrosiva que, enfim, não poderá servir a ninguém, é certo que nunca durante muito tempo...
Muito falta fazer em Portugal - e no mundo - para chegarmos a uma sociedade ideal. Alguns considerar-me-ão ingénuo. Eu direi que é na rigidez que mora a maior ingenuidade, plena de laivos falsos de inteligência. No fim de contas, sem nunca me furtar ao que a minha própria consciência considera como as minhas obrigações, sou perfeitamente capaz de me dar bem com todos. Dou-me bem e, simultaneamente, nunca deixo de fazer sentido. Que tal? Não é auto-propaganda (embora a falsa modéstia, como a arrogância, sejam graves erros humanos), mas gostaria de vos ver a todos agir do mesmo modo... Não para ter seguidores. Meramente para chegarmos a um mundo melhor - dito de uma maneira mais infantil mas também mais real do que todas as jogadas inteligentes e defensivas momentâneas: para sermos todos um pouco mais felizes. Essa é a única verdadeira revolução e quem me dera que os humanos fossem capazes de se auto-conquistarem o suficiente para um dia lá chegarmos aproximadamente...

2 Comments:

At 2:44 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Gostei desta revolução que assim se desvenda. Pronta para a acção e pronta para o equilíbrio. Parabéns! Bj

 
At 3:53 da tarde, Blogger Jorge Simões said...

As moedas têm um milhão de faces. Em todo caso, apeteceu-me teorizar um pouco, simultaneamente explicando-me. Não tenho armas em casa nem pretendo tê-las. A minha revolução só pode nascer de uma necessidade premente e não deve ser básica e sim construtiva. Neste blog, vou chamando a atenção para algumas coisas que ocorrem, mas que parecem passar ao lado de muita (diria, quase toda?) gente. Esse, considero, é, em si, um gesto revolucionário possível. Cada um faz o que sabe e o que pode, porque de incompetência, de gente nos lugares absolutamente errados, está já o mundo cheio demais. :( Beijo.

 

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