It takes two to tango

Quantas vezes a vida não parece mais estranha do que a ficção? Isso é porque toda a ficção se inspira directamente na vida! É porque somos todos medricas que costumamos optar pela ficção. Só que este blog vai optar pela vida... ou algo assim...

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Romanices

Não sei bem porquê, o comum dos mortais tem a mania de achar que o século XX (e o actual) são o cúmulo dos cúmulos das atrocidades e idiotices atrozes dos déspotas. A verdade, no entanto, é que os antepassados sempre foram muitíssimo mais especialistas em sanguinolências e surrealismos variados. Recordemos só um pouquinho algumas histórias da história de Roma, geralmente considerada tão civilizada e avançada por muitos historiadores...


Calígula (37 a 41 d.C.) costumava divertir-se assistindo a sessões de tortura enquanto comia. Sobejamente conhecido por ter feito de um burro ministro (burro no sentido literal), era peludo como uma cabra, assim tipo Tony Ramos, pelo menos... Quem pronunciasse a palavra cabra na sua presença podia encomendar a alma aos deuses da Antiguidade.

Nero (54 a 68 d.C.) ganhou as Olimpíadas de 67 d.C. apesar de ter caído da sua quadriga. "Teria ganho se não tivesse caído", afirmou o júri. Estão a entender... Este imperador, que se considerava um deus e mandava atirar aos esgotos quem não o tratasse por deus, considerava-se um excelente artista e cantava e actuava durante horas e horas (um pouco à maneira dos discursos do Fidel), mas ninguém ousava abandonar a plateia. Salvo que, nas palavras do cronista Suetónio (que, por acaso,não gostava muito do imperador), havia quem optasse por se fingir morto para ser carregado do teatro para fora.

Vitélio (69 d.C.) era o rei dos glutões. Passava o dia a comer e tinha por hábito fazer cócegas com uma pluma no fundo da garganta até vomitar. Assim, poderia continuar a comer.

Domiciano (81 a 96 d.C.) detestava o facto de ser careca. Certa vez, tendo ordenado que lhe pintassem o retrato, o artista, muito comprensivelmente, mostrou-o com cabelos longos e soltos.

Cómodo (180 a 192 d.C.) adorava fazer-se passar por gladiador, embora só lutasse com armas embotadas e contras opositores fracos. De acordo com Dio Cássio, certa vez reuniu todos os homens da cidade que tinham perdido os pés por doença ou por acidente, atou-lhes os joelhos, deu-lhes esponjas para atirar em lugar de pedras e matou-os à mocada, fingindo que se tratava de gigantes. Por outro lado, os jogos no Coliseu assumiram uma dimensão perfeitamente nova e interactiva quando da sua governação... Várias vezes, o imperador escolheu meros espectadores à sorte e lhes ordenou que fossem combater para a arena.

Constantino (306 a 337 d.C.), conhecido por ter transformado o cristianismo na religião oficial de Roma (isto, depois de se ter entretido a matar um bom número de cristãos anteriormente), inventou um novo tipo de execução em que a vítima era primeiramente amarrada a um poste, de seguida abriam-lhe bem a boca e finalmente lhe deitavam chumbo quente pela garganta abaixo (um pouco à maneira dos fabricantes de foie gras). Se não morresse queimado, pelo menos morreria envenenado...

Tudo isto nos chega, claro está, através dos escritos de cidadãos romanos que poderiam muito bem ser (e muitas vezes eram) da oposição. Ainda assim, escrever crónicas não era, na época, das actividades mais seguras... Domiciano mandou executar Hermógenes de Tarso por um livro de história que escreveu. Mas Domiciano não se satisfez com a execução do responsável: os escribas que tinham copiado o livro foram também, todos eles, parar à cruz. E que não se queixem os papparazzi e jornalistas pop da actualidade...

Dados recolhidos de História Horrível - Os Romanos Sanguinários, de Terry Deary, publicado em Portugal pela Europa-América e no original pela Scholastic Ltd.
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www.romanempire.net.