It takes two to tango

Quantas vezes a vida não parece mais estranha do que a ficção? Isso é porque toda a ficção se inspira directamente na vida! É porque somos todos medricas que costumamos optar pela ficção. Só que este blog vai optar pela vida... ou algo assim...

segunda-feira, março 20, 2006

Caso concreto dos novos concursos de professores


Ok, já todos sabem que sou professor e eu sei que, graças à campanha orquestrada nos últimos anos pelos sucessivos governos, com a ajuda inestimável da comunicação social, no que estou a incluir os sabe-tudo bem pagos a que chamam "fazedores de opiniões", um bom número de vós, pelo menos um bom número de gente por vós conhecida, acha tudo de mal dos professores, o que é um disparate pegado, mas a vida também é feita de disparates pegados.
Por isso, o que vou aqui apresentar, se é que interessa a alguém, é um caso muito concreto. Não me queixarei dos salários para que vocês não se queixem de volta. Não me queixarei das condições de trabalho para que vocês não se queixem de volta. Não me queixarei do facto de toda a gente achar que pode meter o bedelho no meu local de trabalho para que vocês não se queixem de volta. Sim... Eu tenho a perfeita noção de que todos vós estais muitíssimo pior do que eu, calaceiro-mor, incompetente e corporativista que é necessário meter na ordem! O que aqui tenho é, pois, um humilde caso concreto...

Tenho, até agora (apesar de ter tirado o curso de Estudos Franceses e Ingleses, que existe desde meados dos anos 70) leccionado por obrigação no grupo 8º B (21), que corresponde às disciplinas de Português e Francês nos 3º Ciclo e Secundário. Bom, já estou habituado, tudo bem... Este ano, porém, o ministério decidiu alterar as regras do jogo, sendo que devo escolher apenas uma disciplina para leccionar. Como, com toda a sinceridade, não me vejo prisioneiro do Português (que nunca escolhi - o que não significa "para o qual não possuo conhecimentos", façam o favor de notar) para o resto da vida, pensei optar pelo Francês. Ensino-o melhor e com mais gosto, o que se reflecte, de igual modo, nos meus alunos.

Ora, consultando o manual disponibilizado no site do ministério, verifiquei na página 8 de 71, que ao grupo 21 (o meu) é atribuído o novo código 320, correspondente à disciplina de Francês.
Mais adiante, entretanto, na página 9 do manual, lê-se no ponto 7.1.: Os candidatos pertencentes aos quadros dos antigos grupos de docência 8ºA (Português, Latim e Grego) e 8º B (Português e Francês) devem reportar-se ao grupo de Português, código 300.
Mais à frente ainda, no ponto 7.3., segue-se isto: Os candidatos pertencentes aos quadros, titulares de cursos cuja designação integra combinatórias disciplinares não coincidentes com a designação do antigo grupo de docência, devem reportar-se ao grupo de recrutamento correspondente à disciplina para a qual possuem estágio pedagógico, tendo em atenção o referido nos pontos 7.1., 7.2. e capítulo III do aviso de abertura do concurso.

Entenderam alguma coisa? Eu não. Parece que ninguém. E parece também que, quando a pergunta é colocada à DGHRE, nos mandam reportarmo-nos ao ponto 7.1. do manual. Faz-me lembrar aquela aventura do Astérix em que o mandam compulsivamente de um lado para o outro, até que o caso acaba por ser imediatamente resolvido com uns sopapos...
Em todo o caso, como o site disponibiliza um serviço de email para resolução de dúvidas, acabei por enviar-lhes a minha. O limite de caracteres é 500. Agora, tentem, sinceramente, expôr o presente em 500 caracteres... Andam a gozar com a malta!

Já agora, se alguém souber de fonte certa, gostaria que me esclarecesse... Ouvi dizer que o célebre presidente das Associações de Pais, o Albino não-sei-quê, sim, aquele que emite faíscas sulfurosas pelos olhos, ouvidos e narinas quando fala dos professores, foi convidado para trabalhar com o Valter Lemos, sim, o secretário de Estado da Educação que não conseguiu provar que não perdeu um mandato político por excesso de faltas.
Se alguém o puder confirmar, não é que eu seja masoquista, mas gostaria de saber...