It takes two to tango

Quantas vezes a vida não parece mais estranha do que a ficção? Isso é porque toda a ficção se inspira directamente na vida! É porque somos todos medricas que costumamos optar pela ficção. Só que este blog vai optar pela vida... ou algo assim...

terça-feira, abril 04, 2006

Roubar música na net nº 2


Começo a repetir-me, mas nem por isso...
Na página 3 do Jornal de Notícias, vulgo JN, de hoje, deparei com o artigo a uma página É possível acabar com os downloads gratuitos? Não sei se é ou não. Possivelmente não. Mas gostaria de fazer aqui uma pequena navegação em torno do pântano que encontrei por detrás do artigo (não no artigo)...
No momento em que vão, como já foi dito, chegar cartas com multas a casa de cidadãos que vivem, certamente, muito pior do que os donos das fonográficas, ficamos a saber que os dois servidores portugueses do Emule encerraram portas depois de as autoridades "neofascistas" belgas e suíças terem prendido um dos operadores do programa e fechado o servidor Razorback 2, que constituía, para a Motion Picture Association - vá, riam-se! - uma ameaça para a sociedade!
No mesmo artigo, acedemos às opiniões de várias pessoas ligadas ao meio, nomeadamente Miguel Guedes, dos Blind Zero, João Peste, dos Pop Dell Arte, e Pedro Leitão, do Test Tube, um dos net labels portugueses...
Fala Miguel Guedes, muito liricamente fala, tão liricamente fala que me poderia interrogar se tem, de facto, 33 anos, a idade de Cristo quando morreu, em amar a música e os músicos. Refere-se à partilha de ficheiros como pirataria da inspiração. E denomina-a de assalto à criatividade dos artistas e dos demais intervenientes na indústria discográfica, assumindo-se assim como defensor do patrão que o explora mas de cujos favores sente necessitar
Felizmente, surge João Peste, que sublinha que ainda bem que as coisas chegam a mais pessoas. João Peste fala nas atitudes prepotentes em relação à circulação da música na internet, a qual só denuncia um certo totalitarismo latente nas sociedades contemporâneas. E garante: Disponibilizarei e farei sempre com que a música dos Pop Dell Arte esteja mais de acordo com o espírito libertário da internet do que com os interesses da grande indústria ou os interesses dos sistemas autoritários, para não dizer totalitários.
Quanto a Pedro Leitão, que assume sacar música sem pagar, classifica a iniciativa da Associação Fonográfica Portuguesa (AFP), em conluio com a International Federation of Phonographic Industry (IFPI) de perfeita estupidez. É com grande clarividência que salienta: É uma caça às bruxas. Fariam melhor se colaborassem com a Polícia Judiciária, acabando com a venda de discos pirata que existe todos os dias nas feiras deste país.

O que eu atrás disse nem necessita de comentários... Como toda a gente sabe, quem quiser DVDs (ou "discos pirata") é só ir ao fornecedor habitual da feira, que há-de ter uma série de títulos antes mesmo de sairem a público - eu, por acaso, gosto de ir ao cinema e não tenho pachorra para DVDs... mas isso sou eu. Como toda a gente também sabe, ainda por cima em tempo de crise, quando o cidadão comum não pode sequer vestir-se, quanta gente é que se vai meter a comprar discos que não queira mesmo comprar? Como todos sabemos ainda, os músicos não vivem dos discos vendidos e sim dos seus concertos. De outro modo, morreriam à fome. O resto, já o disse no artigo mais abaixo.
A quem interessa, então, tudo isto, senão aos senhores que guiam grandes carros, vivem em grandes casas, vestem grandes roupas, comem em grandes restaurantes e fazem grandes férias, enquanto o povo vive numa míngua cada vez maior? Digo bem, o povo, porque há, de facto, um novo povo, só que se recusa a compreender que é povo.
Gostaria de saber, seria interessante saber, quem são os músicos que apoiam, como Miguel Guedes, estas medidas... Depois, o povo faria bem em nunca mais comprar fosse o que fosse de tais "artistas". E em optar antes pelos que se mostram realistas e solidários.
Quanto a mim, que, como Pedro Leitão (e mais um número incontável de pessoas de todas as idades), assumo sacar música sem pagar, saco tão pouquinho e tantas vezes coisas com o rótulo de distribuição livre, só mesmo as pinguinhas que me podem eventualmente interessar, que nada disto me assusta. Pessoalmente, não sou nada. Mas isto faz-me pensar e devia fazer-vos pensar a vocês: hoje acabam com a partilha de ficheiros (e não lucram nada com isso, que é mais irónico - ou pretendem lucrar? Vejam o primeiro comentário a este artigo), amanhã limitam o uso dos blogs, processam-nos por usarmos imagens de outros, multam-nos por fazermos eco de notícias de outros lados, transformam a net num espaço totalmente cinzento, entretanto proibem o tabaco e depois o álcool, sempre com o aplauso dos "carneiros nazis" mais ferrenhos, aqueles que precisam de deixar escapar o ódio por algum lado, servos abjectos do sistema, finalmente obrigam-nos a trabalhar horários da Revolução Industrial... Tudo isto, enquanto o jet-set bebe whisky do melhor, fuma charutos de Havana e faz festinhas de sexo e coca. Poderia continuar por aí fora... Parece-vos ficção? Talvez... Men in Black, Big Brother, 1984, pensem...

3 Comments:

At 11:45 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Gostei muito da tua opinião, mas digo-te mais, por detrás desta operação está algo mais que a maioria dos portugueses ainda desconhece.
Muito em breve um grande grupo da comunicação social portuguesa vai lançar um portal de download de musicas a pagantes.
Como me foi dito á uns meses, para esse portal ter sucesso, iriam ser multados e mesmo presos alguns habituais utilizadores da rede peer to peer, para dar o exemplo.
E esta, afinal de contas é tudo um negócio de gente que vende a 10 € um Cd que lhes fica por cerca de 1€ ou até menos, afinal quem rouba quem? Afinal quem são os piratas?
De facto se esses senhores vivem-se com as dificuldades da maioria dos portugueses por certo teriam outra opinião.

 
At 2:31 da manhã, Anonymous Anónimo said...

http://clientes.netvisao.pt/pintosaa/Manifesto.htm

 
At 9:24 da manhã, Blogger AA said...

Gostaria de saber, seria interessante saber, quem são os músicos que apoiam, como Miguel Guedes, estas medidas...

o corporativismo nunca tem face...

 

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