Porque é que voto não
Um dia destes, vinha eu a conduzir e a ouvir um pacóvio que defendia o "sim" na Antena 1... Afirmava ele, a propósito da posição assumida pelo professor Marcelo e outros, que se tratava de gente que, na realidade, defendia o "não" mas que não se queria assumir, pelo que tratavam de espalhar a confusão. Dizia ele que não fazia sentido tratar, por um lado, a despenalização e, por outro, a liberalização. "Este é um referendo e num referendo diz-se sim ou não. O contrário é estar a discutir o sexo dos anjos!", sublinhava ele aproximadamente.
Pois bem, eu acho e sempre achei que uma coisa e a outra são perfeitamente diferentes. Não precisei que ninguém mo explicasse. É verdade que a igreja e a direita passam o tempo a dar tiros nos pés com argumentações absurdas. Mas esta, este absolutismo tão socratiano, tão na moda, tão cheio de arrogância e vontade de nos fazer a todos passar por imbecis, bate, acho eu, a direita e a igreja juntos e no seu melhor. E dá-me uma imensa vontade de votar "não".
Como diabo é que os nossos políticos, depois de tanto se ter já discutido o facto de a pergunta colocada no primeiro referendo estar mal elaborada, podem ser tão burros ou mal-intencionados ou preguiçosos que nos colocam precisamente a mesma pergunta nos mesmos termos? Afinal, estamos nós a decidir não punir com uma potencial (ainda que não geralmente aplicada) pena de prisão mulheres que, por alguma razão, façam o aborto ou estamos nós a decidir que o aborto vai ser liberalizado e legalmente realizado ao bel-prazer de cada abortista com o dinheiro dos contribuintes? Porque não gastar essas verbas na prevenção e educação?
Podem indignar-se e dizer-me que há situações dramáticas e coisa e tal. E eu dir-vos-ei que métodos contraceptivos não faltam, incluída a pílula do dia seguinte, nem informação de todas as formas e feitios. Dir-vos-ei também que a lei já prevê inúmeras situações de aborto, que já prevê as situações mais dramáticas.
Mas há quem opte por só ver o que quer... Como uma senhora que, dando a cara pelo aborto num noticiário da TVI, afirmava com muita naturalidade ter feito três abortos e contava a história. "Tenho filhos e gosto muito deles porque foram desejados. Mas os outros, poderiam ser tecido vivo mas não eram desejados e não eram meus filhos". Não? Eram filhos de quem? Não sei se apercebem até que ponto se trata de uma situação somente dramática por nos levar a pensar que as pessoas são doidas ou não prestam.
Recordo-me perfeitamente de ter acompanhado o crescimento do meu filho no útero da mãe através de ecografias. Se pretendemos liberalizar o aborto até às 10 semanas, não nos esqueçamos que um feto com 10 semanas tem cerca de 5 cm mas encontra-se muitíssimo formado. Lembro-me do meu fetozinho, a quem se ouvia o bater do coração, dando voltas e reviravoltas, como que andando numa bicicleta intergaláctica - e tinha, precisamente, à volta de 10 semanas! Poderia ser "tecido vivo"? Não me façam rir!
É lamentável que se pespegue o "não" à direita e ao conservadorismo bacoco nacional enquanto a esquerda imbecil nacional se apropria do "sim". Quem é de esquerda vota sim. Quem vota não é de direita. Que idiotice pegada! E assim se menoriza a capacidade de pensar livre e independentemente dos portugueses. E assim se aborta todo o livre pensamento nacional de uma só penada.
Aliás, gostaria de saber por que razão o PS do engenheiro Sócrates, cada vez mais detestado pela sua arrogância de tipo, dir-se-ia, nacional-socialista, terá feito tanta questão em gastar dinheiro neste referendo quando o país está cada vez pior, as leis idiotas e quantas vezes retroactivas fluem à velocidade da luz, quando se goram impunemente as esperanças de todos portugueses. Será para desviar as atenções das coisas que realmente nos afectam a todos? Até quando é que os portugueses vão permitir alegremente que os continuem a tratar como um bando de cordeirinhos da matança? Como já foi dito, o PS encarará uma vitória do "não" como uma derrota do partido - entenda-se, do PS que hoje temos. Se são eles mesmos a afirmá-lo... Quem quer um melhor motivo para votar "não" a 11 de Fevereiro?
Imagem de http://lifesite.net.
6 Comments:
NÃO TE CONHEÇO, ANTES PENSO QUE ALGUMA COISA DA TUA PESSOA JÁ ME FOI REVELADO NO NOSSO ESPAÇO ILIMITADO.ASSIM , CONCORDANDO COMPLETAMENTE COM OS TEUS ARGUMENTOS A FAVOR DO NÃO, NÃO AO ABORTO, EU MÃE DE TRÊS FILHOS CADA UM SUPER -ESPECIAL E TENDO PERDIDO DOIS BEBÉS EM GESTAÇÃO DENTRO DE MIM E CUJA VIDA SEU PAI ACOMPANHOU PARA DEPOIS SERMOS PROFUNDAMENTE ABALADOS COM AS SUAS IDAS...DIGO-TE SIMPLESMENTE OBRIGADA.PARECE QUE CONTO COM COMPANHIA NESTA MINORIA A QUEM CHAMAM DE HIPÓCRATAS.AFINAL ONDE ESTARÃO ESTES?
UM ABRAÇO
MENA
Obrigado pelo comentário. Claro que isto do votar sim ou não é subjectivo qb. E estamos contra a corrente, nomeadamente face à pobreza de argumentos de tantas margens do não. O que é preciso, no entanto, é, depois de tudo medido, votar em consciência. Um abraço.
Ainda a propósito do meu comentário anterior, permito-me inserir uma frase tua, se bem que desinserida do contexto:
"E assim desencadeou o habitual conjunto de disparates que os conservadores costumam latir nestas situações, o habitual desrespeito pela vida humana que todos tão bem conhecemos."
A propósito também da questão do sim e não, já soube que o Governo anunciou que, de acordo com a lei que está a ser preparada, as mulheres que pretendam abortar não terão que fazer aconselhamento - é óbvio, tendo em conta o sobrelotamento do SNS - mas apenas que meditar durante três dias...
Posto isto, ainda bem que já não tens problemas em aceder ao blog. Um abraço.
Quando uma mulher se propõe abortar, concerteza que já pensou e repensou sobre a sua atitude. Acho desnecessário o SNS dispender esforços e tempo.
Só agora verifiquei que o meu primeiro comentário não "entrou".
(Nada fiz, mas já acedo perfeitamente ao blog. Ainda bem)
Abraço
Bom, mas há mais... É que também tenho a certeza que o SNS, completamente entupido e numa altura em que se fecham maternidades, centros de saúde, urgências, etc., etc., nunca na vida vai dar resposta aos pedidos de interrupção voluntária da gravidez, sejam eles muitos ou poucos, pelo que não se vai pôr fim nenhum ao vão de escada - como tudo nesta terra (ou será que nos esquecemos facilmeente de onde vivemos?), não passa de uma fachadazita para inglês ver.
E depois, embora isso seja mais subjectivo, nem todos os casos de aborto são "casos desesperados", "situação dramáticas", etc. (ou será que nos esquecemos em que mundo vivemos?), pelo que há algo de podre no reino da Dinamarca. Mas reconheço que isso pode ser mais subjectivo...
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