It takes two to tango

Quantas vezes a vida não parece mais estranha do que a ficção? Isso é porque toda a ficção se inspira directamente na vida! É porque somos todos medricas que costumamos optar pela ficção. Só que este blog vai optar pela vida... ou algo assim...

sábado, dezembro 31, 2005

Chamem-me cota!


Toda a gente sabe que a TV portuguesa é especialmente destinada a desocupados, desmiolados e desacompanhados, mais alguns curiosos e outros tantos distraídos. E que neste campeonato sem estribeiras, há um canal (o da igreja, LOL) que os bate a todos e os deixa a milhas de distância. Para quê falar de concursos imbecis quando todos sabemos que são imbecis e que imbecis é um suave eufemismo? Para quê falarmos de "jornalistas" tipo Manelita, que não permitem aos seus entrevistados exprimirem-se? Para quê falar da podridão de uma certa sociedade de Cascais que pretende impingir ao país inteiro modos de estar e de ser quando as suas próprias incongruências são, no mínimo, conducentes ao suicídio? Não vale mesmo a pena... Eu não vejo televisão (tempos houve em que não me imaginaria a afirmá-lo, assim, como um resistente romântico, face à intempérie, no cimo da escarpa enquanto o oceano ruge) e tenho muito mais sobre que escrever do que essa mediocridade atroz que carneiriza o nosso povo ao mesmo tempo que se fazem discursos imberbes sobre exigência e educação.

Confesso, no entanto, dei, este Natal, ao meu filho de sete anos, um CD dos D'Zert. Porque não acho que em si sejam perniciosos e porque as prendas se devem destinar a quem se destinam. Os D'Zert não são mais do que um amodernado produto pop à la Tozé Brito. Por si só não acrescentam caos ao caos.

Mas que dizer dos Morangos com Açúcar, essa xaropada quarto-mundista que actualmente põe os nossos putos, púberes e adolescentes a vibrar? Bom, eu gosto sempre de conhecer a razão dos fenómenos... E acho que começo a compreender em que espécie de pantanal se move essa coisa que a TVI, sem pingo de responsabilidade cívica ou meramente humana, se digna transmitir diariamente às sete da noite, quando a garotada já terminou a escola. Hoje mesmo, estava eu aqui a ler um livro (felizmente, depois de ter influenciado o Alexandre a fazer uma experiência poética própria para a sua idade e de o ter ajudado e entusiasmado numa experiência feita de guaches para a escola), quando começo a ouvir:
- Sexo! Sexo! Sexo! Sexo!
Parece que as personagens do McA se despem, fazem montes de sexo e se beijam no pipi e mais não sei o quê.
Fiquei, então, a saber mais umas coisas sobre a série:
- O Tupac (acho que é um dos boys dos D'Zert) esfaqueou a Madalena ou a Mariana ou coisa que a valha, mas não lhe aconteceu nada porque não foi descoberto;
- Não sei mais quem, foi raptado e parece que há vários raptos por lá;
- Os miúdos querem saber como são as drogas, nomeadamente aquelas que, nas festas, se deitam em copos alheios para conseguir sexo.

Sem querer parecer uma dama da Liga da Moral e dos Bons Costumes, algo me cheira muito mal nisto tudo. Alguns miúdos têm quem fale com eles e possua um mínimo de bom senso. E os restantes, a maioria imensa, os borreguinhos todos? Quem se responsabiliza por eles? A TVI?
Dá-me vontade de rir quando ouço os detractores dos inocentes e, à sua maneira, educativos, videojogos. Dá-me vontade de rir porque a realidade, e disso os McA são o exemplo mais-que-perfeito, é que a televisão ainda continua a ser pelo menos cem vezes mais envenenadora de mentes do que qualquer videojogo que já tenham inventado ou ainda possam vir a inventar.
Correndo o risco, também, de parecer, eu que tão liberal e anarquista gosto de me declarar, um pároco severo no seu sermão dominical, acuso aqui as televisões privadas, dominadas por uma sociedade em que estão na moda as orgias de coca e os amantes masculinos para homens, de estarem a contribuir decididamente para o fim definitivo de Portugal, para não dizer do Ocidente (se juntarmos à TVI as outras TVIs todas que existem por esse mundo fora). Não me parece bem... E seria bom que muita gente, em lugar de se alhear, fizesse chegar a sei-lá-bem-quem-que-regula-estas-coisas (porque é muito possível que ninguém regule estas coisas num país onde não podemos dar dois passos sem receber um olhar de censura e pagar uma multa) a preocupação dos pais e mães portugueses dignos desse nome diante de tanta idiotice - mas muito pior, tanta idiotice altamente perniciosa.
Disse. Quem não concordar, que vá deitar uma droga qualquer num copo alheio ou apunhalar a Madalena!


Imagem original de http://teatrometragem.no.sapo.pt.

3 Comments:

At 3:24 da manhã, Blogger Antonio Santos said...

Isto é, como costuma dizer-se, "tiraste-me as palavras da boca".

 
At 2:57 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Eu ainda diria mais, digno de ser publicado.
McA foi a tentativa mais furada da representaçao dos nossos adolescentes. Eu como uma, tenho vergonha de ser "representada" por um bando de filhinhos do papa a tentarem ser rebeldes!
A vida nao é so amores, sexo e droga. A vida é saber apreciar cada minuto do q ela nos reserva,é saber viver cada minuto como se fosse o ultimo.
Beso

 
At 4:52 da tarde, Blogger Jorge Simões said...

Obrigado pelos comentários, António e Joaninha! O meu miúdo, felizmente, parece que deixou de ver aquela palhaçada. Mas o que não lhes falta é jovens e muito jovens espectadores e parece-me lamentável que ninguém chame a atenção da TVI, o canal mais deseducador e contraproducente (salvo para o próprio canal) do nosso país, para o facto.

 

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