Encontro com o Mestre Zen
Um Mestre Zen de vidas passadas, recentemente iluminado num dia em que choveu e fez sol em simultâneo, encontra-se com um discípulo, que humildemente se lhe dirige:
Discípulo: Mestre, porque devo aprender, dar o meu melhor e trabalhar diariamente, se um dia me tornarei pó da terra?
Mestre: Porque se não aprenderes ficas ignorante e tendencialmente burro e arrogante, se não deres o teu melhor é provável que dês o teu pior e se não trabalhares não terás dinheiro para gastar nos calmantes que terás de tomar para acalmar a neura que em ti se instalará, à qual os mestres sublimes chamam O Tau.
Discípulo: Mestre, mas porque me hei-de preocupar com isso se tudo pode não passar de uma imensa ilusão?
Mestre: Há tantas maneiras de medir a ilusão como formas de medir a realidade: réguas, fitas métricas, conta-quilómetros e ainda muitas outras que o teu pequeno cérebro não lograria entender. Se te partirem as pernas, os braços, as costelas e a caixa craniana com um bastão de baseball ou um taco de mini-golfe, as tuas sensações parecerão reais e nem os sonhos místicos de mil deuses hindus te convencerão do contrário.
Discípulo: Mestre, mas porque deverei eu dedicar a minha vida ao trabalho quando o vejo a si, venerável Mestre, dedicar muito do seu tempo ao lazer, além de tomar café, beber e fumar?
Mestre: Antes de mais, displicente criatura, soubesses tu um pouco de física Einsteiniana e terias a noção de que o tempo não existe, pelo que quando dedico tempo não dedico tempo. Em todo o caso, o lazer é uma prerrogativa da minha condição de Mestre... Enquanto imaginas que me entrego a um lazer inconsequente, treino, em verdade, o cérebro e a paciência para as perguntas com que me invades.
Discípulo: Mas, Mestre, e a parte do café, do álcool e do tabaco?
Mestre: Conhecesses tu, displicente criatura, um pouco de medicina e saberias que cerca de três chávenas de café diárias favorecem a saúde, enquanto que o vinho tinto é bom para o coração e o whisky se revela um excelente vasodilatador. Quanto ao tabaco, se a vida é basicamente absurda, quem és tu, displicente criatura, para pretenderes negar-me a minha quota-parte de absurdo?
Discípulo: Penso que sim...
Mestre: Ninguém te ordenou que pensasses! Prossegue...
Discípulo: Neste instante, honorável Mestre, nada mais tenho a perguntar. Demorarei várias vidas, certamente, até lograr absorver todos os conhecimentos que acabam de me ser transmitidos...
Mestre: Volta-te!
O Discípulo volta-se. O Mestre fulmina-o com uma forte chibatada.
Discípulo: Mestre!... Porque me haveis chibatado?
Mestre: Cansativa e ignorante criatura! No decurso de tão breve diálogo, chamaste-me Mestre meia-dúzia de vezes! Ignoras, então, que nenhum ser humano é digno de ser tratado por Mestre!...
Discípulo: Tens razão... Estás sempre a dar opiniões e a justificares-te. A verdade é que, hoje em dia, somos todos iguais.
Mestre: Volta-te!
O Discípulo volta-se. O Mestre fulmina-o com duas fortes chibatadas.
Discípulo: Ai! Porque me haveis chibatado novamente?
Mestre: Desrespeitaste as hierarquias! Crês tu que acaso alguém nasce Mestre de espontânea geração? Só os ignorantes, mais ignorantes do que amebas e menos realistas do que vírus, crêem realmente que somos todos iguais. Cumpre a tua obrigação de me chamares Mestre!
Discípulo: Mas... Mestre, havieis acabado de dizer...
Mestre: E eis que me chamas Mestre de novo!... És incapaz de ter uma opinião própria. Mereces que te encha de chibatadas até à próxima Lua Nova! Mas não te preocupes... Sendo que nada é real, nada sentirás.
Imagem de www.otoons.com.
1 Comments:
Humildemente te agradeço. Também acho que saiu engraçado (e mal seria se o autor não achasse!). Sinceramente, às vezes não sei de onde é que certas coisas me saem... Acho que deve ser da prática. Boa noite e bons sonhos.
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