Do "fascista" Cardia à "liberdade" actual
Estava por cá a lembrar-me de quando estudei no António Nobre (isto, depois de dois anos no caótico D. Manuel/Rodrigues de Freitas/Amílcar Cabral) e que, por esse tempo, Sottomayor Cardia foi ministro da Educação...
Cardia, naturalmente, como todos os ministros da Educação, decidiu que tinha que deixar a sua marca - uns deixam marcas, outros cicatrizes, outros feridas abertas e outros ainda nem se entende bem o que deixam - e encontrou uma forma, "fascista" na altura, de o fazer... Até aí, as escolas não estavam necessariamente muradas, fechadas ao exterior. Pois bem, Cardia decidiu que se deveria construir muros à volta das escolas.
"Fascista Cardia!", "Querem fechar-nos em gaiolas!", clamou-se. Os estudantes não gostaram e as manifestações sucederam-se. No final, construiram-se muros em redor das escolas, claro está. E já ninguém se lembra disso.
Na foto do lado, assistimos a uma americanice, dir-me-ão. Mas para lá caminhamos... Para já, nas escolas portuguesas os alunos não têm liberdade de entrar e sair como muito bem entenderem. Faz-me pensar um pouco naquele filme em que há um miúdo que, devido à sua doença, vive a vida inteira dentro de uma bolha esterilizada... Na minha escola, há umas maquinazitas à entrada e para se entrar ou sair torna-se necessário passar um cartão com banda magnética que, regra geral, é necessário passar meia-dúzia de vezes antes de funcionar. Ideal, sobretudo para os dias de chuva.
Recordo-me também que no meu longínquo tempo íamos a pé para a escola ou de eléctrico ou de autocarro, enfim, os nossos pais irem-nos levar e buscar era coisa ocasional. Hoje já não é assim. As "crianças" estão impreparadas para se moverem num mundo onde os "maus" são mesmo muito maus e dedicam os seus dias vis sorrateiramente aguardando em cada canto e cada esquina. Claro que não é isso que impede os roubos de telemóveis e as agressões fora da escola - que, actualmente, fazer um arranhão dentro da escola é motivo para investigação aprofundada e intervenção urgente da psicóloga de serviço. "Hoje em dia, o mundo já não é o que era", justifica a generalidade dos portugueses. E não deixo de raciocinar que são os medos os principais causadores das situações que eventualmente não existiriam sem eles...
Bom, tudo isto, depois de já ter falado um pouco sobre o que foi Portugal no imediato pós-25 de Abril, dá-me uma certa vontade de falar no que foi o pós-pós-25 de Abril... Que também tem que se lhe diga. Mas ficará para mais tarde...
Imagens de http://tocolante.blogspot.com/ e www.recoversecurity.com.
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