It takes two to tango

Quantas vezes a vida não parece mais estranha do que a ficção? Isso é porque toda a ficção se inspira directamente na vida! É porque somos todos medricas que costumamos optar pela ficção. Só que este blog vai optar pela vida... ou algo assim...

sexta-feira, abril 28, 2006

Billie Holiday inigualável para ver e escutar


Billie Holiday, frequentemente referida como Lady Day e de seu nome de baptismo Eleanora Fagan Gough, nasceu em 1915, em Baltimore, neta de um dos 17 filhos de uma escrava negra da Virgínia com um fazendeiro irlandês. A sua mãe tinha, então, somente 13 anos e o pai, pouco mais velho, abandonou a família para se dedicar à música, o que não facilitou o início da vida de Billie, geralmente atirada para casa de conhecidos e familiares que a maltrataram e violada aos 11 anos de idade. Disse Billie, a propósito da infância, o seguinte: Nunca tive oportunidade de brincar com bonecas como as outras crianças. Comecei a trabalhar com seis anos de idade.
Em 1929, mudou-se para Nova Iorque, onde teve que trabalhar incialmente como criada e ainda, durante algum tempo, como prostituta teenager. Por fim, iniciou a sua carreira musical em bares obscuros do Harlem, até que, descoberta, cantou com Count Basie e Artie Shaw, antes de se aventurar numa carreira a solo, impulsionada por Benny Goodman, em 1933. Entretanto, apesar de ter gravado cerca de 200 temas entre essa data e 1944, nunca chegou a tocar um cêntimo de royalties durante esse período. Da mesma forma, foi explorada por homens que a sugaram até à última moeda e lhe apresentaram a heroína, que acabou por ser a grande causa da sua morte prematura, a 17 de Julho de 1959, com apenas 44 anos de idade.
No final de 1947, Billie teve que passar 18 meses da sua vida numa penitenciária por acusações de posse de droga! Nessa altura, a droga era um crime, não uma doença... Foi a própria Billie quem afirmou, referindo-se à droga: A droga nunca ajudou ninguém a cantar melhor, nem a tocar melhor, nem a fazer coisa nenhuma melhor. Tudo o que a droga pode fazer por alguém é matá-lo - devagar e arduamente. Ou ainda: Se acham que a droga é diversão, não podem estar bem da cabeça. Há mais diversão num caso de paralisia por poliomielite ou na respiração assistida. Ironia das ironias, a lei conseguiu ainda arranjar forma de a prender no seu leito de morte por posse de droga!
Nos últimos anos da sua carreira, durante os quais gravou para a Verve, juntara-se ao abuso da heroína uma nova adição ao álcool, que fazia com que a voz de Billie não atingisse mais determinadas notas. Há quem não goste desta fase, a que pertence o vídeo que em baixo vos apresento, por isso mesmo. A verdade, no entanto, é que os seus temas foram muito mais bem escolhidos e a sua voz alcançou uma expressividade inigualável e nunca anteriormente conhecida. Peço-vos a máxima atenção para uma interpretação fabulosa de Billie e da sua banda, neste vídeo gravado para o programa The Sound of Jazz, da CBS, em 1957. É alma, alma e mais alma do início ao fim. Por favor, não me venham falar de outras intérpretes femininas. Com todo o mérito que possam ter, nenhuma delas jamais igualou Lady Day.
Concluindo e para finalizar o drama desta vida, Billie viu-se impedida de trabalhar em Nova Iorque durante os seus derradeiros 12 anos, por não lhe ter sido concedido o necessário cartão de autorização. Continuamente explorada, faleceu com 70 cêntimos no banco e 750 dólares em casa. Encontra-se sepultada no Bronx, Nova Iorque, no cemitério de Saint Raymond.





Imagem de www.legacyrecordings.com.