It takes two to tango

Quantas vezes a vida não parece mais estranha do que a ficção? Isso é porque toda a ficção se inspira directamente na vida! É porque somos todos medricas que costumamos optar pela ficção. Só que este blog vai optar pela vida... ou algo assim...

segunda-feira, abril 17, 2006

V de Vendetta

Numa dessas revistas que me enfiam pela caixa do correio dentro, a Certa, neste caso, do Continente, Margarida Pinto Correia é citada na capa como afirmando que "devemos retribuir à sociedade o que ela nos dá". Coisa mais complexa do que poderá parecer, como poderão ajuizar. Serve, no entanto, como introdução para vos aconselhar uma ida ao cinema, onde passa actualmente um filme que deveria constituir um must, mais que não seja pelas suas implicações...


De um modo geral, os filmes baseados em bandas desenhadas são um imenso barrete - e não me fico pelos Flintstones, posso bem incluir na categoria os filmes do Batman e por aí fora...
Não é o caso de V de Vendetta. Optando por não vos desvelar a história, devo, no entanto, dizer que a sua grande força reside no facto de retratar uma situação que se aproxima de realidades demasiadamente possíveis, possíveis graças ao sentimento de medo e aceitação que perpassa a generalidade das nossas sociedades, e ainda porque, voilà!, conta com óptimas representações, óptimos diálogos e, porque não?, óptimos efeitos especiais inclusive. Imaginem que os vossos medo, apatia e aceitação permitem às nossas sociedades pré-totalitárias transformarem-se em sociedades verdadeiramente totalitárias, onde os escrúpulos já não existem sequer de forma disfarçada... Seria bom surgir um "herói" dedicado a resolver a questão de uma vez por todas, ou não? Alguém que, como o mascarado V desta película, fosse capaz de afirmar "As pessoas não deveriam ter medo dos seus governos. Os governos deveriam ter medo das pessoas". Os neo-liberais, tão utópicos à sua maneira como os anarquistas ou os comunistas, costumam pensar que encontraram a fórmula mágica para acabar de vez com todas as revoluções. Nisso, demonstram um absoluto desconhecimento das lições que a história nos vai ensinando. Este filme é uma revolução no futuro. Mas fala-nos claramente do presente.
Dirigido por James McTeigne e com script de Andy e Larry Wachowski, V de Vendetta conta com a participação de Hugo Weaving no papel de V, Natalie Portman como Evey e John Hurt como Adam Sutler, o ditador abjecto e que só surge em grandes ecrãs, sempre tão furioso que me interrogo como é que não morre de ataque cardíaco (mas Hitler também parecia permanentemente furioso, não era?). Suponho que o filme venha a ser esquecido pela Academia como o foi o memorável Fight Club... Mas quem se preocupa com a Academia?