It takes two to tango

Quantas vezes a vida não parece mais estranha do que a ficção? Isso é porque toda a ficção se inspira directamente na vida! É porque somos todos medricas que costumamos optar pela ficção. Só que este blog vai optar pela vida... ou algo assim...

quarta-feira, abril 26, 2006

De um Instinto Fatal fraquito a um Fatal imoral


Há, na construção de jogos vídeo a partir de editores de níveis, uma coisa a que se dá o nome de paper thin walls, muito praticada entre os caloiros e que confere ao resultado final um aspecto pouco profissional...
Foi algo que me saltou de imediato à mente quando, ontem, assisti à sequela de Instinto Fatal, cuja primeira edição, um thriller com um certo interesse, contou com uma boa interpretação de Michael Douglas (que é feito do homem?) e serviu para lançar Sharon Stone.
E porquê? Porque me lembrei eu de semelhante coisa? Em primeiro lugar, porque uma larga fatia da parte inicial da película faz claramente pensar numa banda desenhada - ou num jogo de vídeo. Depois, porque o filme está cheio de paper thin walls, ou seja, pontas soltas, inconsistências, coisas por explicar. Para não falar da forma irritante como Sharon se meneia exageradamente, mas isso é outra história!
Parece que a actriz, determinada a mostrar que o sexo começa aos 50, terá sido muito exigente relativamente à forma como o filme se deveria desenrolar e como a sua personagem deveria ser construída... Mau. É que, dessa forma, terá acabado, quiçá, por assumir um papel de segunda realizadora e a verdade é que, se há actores que sabem realizar, haverá, provavelmente, uma maioria que não tem uma ideia suficientemente clara do processo.
O filme vê-se bem. É engraçadinho e não posso afirmar que me tenha aborrecido. A verdade, no entanto, é que a sala não estava sequer cheia pela metade, o que indicia que Sharon Stone errou, que lhe permitiram errar e que vão pagá-lo na facturação.



Bom, mas tudo isso é problema da produção. Aprende-se com os erros. Pior, bem pior, foi a curtíssima metragem portuguesa de título Fatal - que mais? - que serviu de introdução ao filme. Trata-se da história de uma prostituta que envenena os seus clientes e comenta para si mesma que é isso que lhe dá prazer. No fim, um barbicha de diabo que a andava a observar, troca os copos, percebemos que é ela quem vai morrer e o filme acaba. Os diálogos são paupérrimos, as representações são aquele exagero teatral que tão bem conhecemos, a imagem é fraquinha e a história não passa disso.
A mini-curta metragem conta com diversos patrocínios, o que não fica mal a ninguém... Como os produtores de Instinto Fatal 2, cada um é livre de deitar o seu dinheiro pela janela como muito bem entender. O pior, o tal pior, é que Fatal conta, de igual modo, com os apoios do ICAM e do Ministério da Cultura! Enquanto continuarem a gastar os nossos impostos em exercícios de estudante, enquanto continuarem a não perguntar a ninguém se o podem fazer, nem o cinema português avança, nem os contribuintes podem deixar de achar que a coisa está mal e que de macacadas estamos mesmo cheios.



Imagem de http://movies.yahoo.com.