It takes two to tango

Quantas vezes a vida não parece mais estranha do que a ficção? Isso é porque toda a ficção se inspira directamente na vida! É porque somos todos medricas que costumamos optar pela ficção. Só que este blog vai optar pela vida... ou algo assim...

segunda-feira, setembro 19, 2005

Ministra decide negar aulas aos alunos



Como devem saber, de há uns anos para cá as aulas nas EB 2,3 e Secundárias decorrem em blocos de 90 minutos (45 mais 45) sem direito a intervalo.
Até aqui - imaginem apanhar com um engarrafamento descomunal ou o que seja -, o professor que chegasse, por hipótese, atrasado ao primeiro tempo da manhã, poderia leccionar os segundos 45 minutos embora tivesse falta ao primeiro tempo, pelo que os alunos ainda poderiam aproveitar metade da aula.
A partir de agora e com as inovações inteligentes da ministra Maria de Lurdes, faltando o professor ao primeiro tempo terá que faltar a todos os 90 minutos.
Será que a ministra está mais preocupada em castigar o professor que não conseguiu chegar ao toque prisional da campainha do que com a aprendizagem dos miúdos? O que é que as sempre tão activas associações de pais têm a dizer relativamente a isso?




O problema - assim parece ao vosso humilde qb mas também observador qb Master - é que o executivo para a Educação de Sócrates padece do mesmo mal de que sempre tem padecido ao longo dos anos e dos anos e dos anos...
Senão, veja-se... A ministra Maria de Lurdes, actualmente com 49 anos, passou a vida a coleccionar diplomas e a fazer publicações e a única experiência que tem do ensino é a de alguns anos como docente no Departamento de Sociologia do ISCTE.
O secretário de Estado adjunto e da Educação, Jorge Pedreira, dois anos mais novo e pertencente ao Departamento de Sociologia (estamos inundados de sociólogos) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, andou igualmente a coleccionar diplomas e dedicou-se durante tempos mais afincadamente à sua função de vice-presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNEsup), de que foi fundador. A sua história é, aliás, curiosa... Enquanto vice-presidente do dito sindicato e num momento em que o ensino superior decidiu realizar uma greve de quase um mês que afectou inúmeros exames, prejudicando muitos estudantes, manteve uma posição de apoio à referida greve. Já na greve dos professores do básico e secundário convocada para 20 a 23 de Julho deste ano, revelou-se um dos seus mais ferozes detractores, tendo considerado fora da lei os professores que não cumprissem os serviços mínimos, ameaçando-os com processos disciplinares.
Finalmente, o secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, da mesma idade da ministra, professor do Instituto Superior Politécnico e mais um coleccionador de diplomas, desempenhou, entre 1979 e 1981, as funções de professor do Curso de Formação de Professores do Ensino Especial do Instituto Aurélio da Costa Ferreira, funções essas que acumulava com uma breve passagem pelo Secundário. É, presentemente, um dos responsáveis por todo o tipo de limitações impostas aos professores no tocante a acumulações, incluindo acumulações de trabalhos esporádicos que nada tenham a ver com o ensino. Considera-se que os professores trabalham em regime de exclusividade. Será? Os médicos que trabalham em regime de exclusividade ganham muito mais. Os juízes que trabalham em regime de exclusividade ganham muito, muito mais. Não me parece que seja o caso dos professores... A sua noção de direitos democráticos, nomedamente o da greve, revelou-se claramente na já referida paralisação de três dias deste ano, quando declarou que "os professores escalonados ao abrigo do despacho do serviço mínimo..." - apressadamente publicado pelo Governo de Sócrates - "...não podem fazer greve ou terão falta injustificada porque a legislação em vigor é para cumprir".



Qual é e qual tem sido, afinal de contas, o problema com os nossos ministérios da Educação e porque é que a Educação em Portugal, pelo menos em parte, não anda nem deixa andar? Ainda não perceberam? É que, como sempre, encontramo-nos face a mais um bando de teóricos ligados ao ensino Superior, tutelando níveis de ensino dos quais não percebem nada, mas absolutamente nada.



O Master - sim, que o Master também tem a sua dose ocasional de ingenuidade ao acreditar que democracia não é votar em partidos no dia das eleições - recorda-se de ter enviado uma carta ao engenheiro Sócrates tempos antes da eleições, na qual apresentava propostas claras para a Educação e referia a necessidade urgente de, por uma vez que fosse, se nomear um ministério capaz de entender as realidades e problemas específicos do ensino não-superior.
Mas parece-me que Sócrates talvez padeça do mesmo mal... Político, teórico e não percebendo nada, mas absolutamente nada do país que tutela!



Imagens de www.truevisiontv.com e do blog O Centro da Esquerda em http://eskerda.blogspot.com (que diabo, como é difícil arranjar imagens do engenheiro com tamanho maior que o de um alfinete!).

4 Comments:

At 7:22 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Seria óptimo e muito desejável que mais gente na blogosfera tivesse a tua clarividência e a soubesse expressar de forma clara e nada chata como fazes. Parabéns, Master!

 
At 7:44 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Concordo totalmente! Não entendo como é que este blog não está nos tops. Por mim, volto cá sempre.

 
At 12:07 da tarde, Blogger Ruben Badaró said...

Concordo em absoluto.

Parabéns pelo blog que se destaca pela quantidade e qualidade de informação que colocas em cada post. Muito bom.

Abraço.

 
At 3:26 da tarde, Blogger Jorge Simões said...

Um obrigado da minha parte. :)

 

Enviar um comentário

<< Home