Frank Zappa: o último dos compositores
Nascido em Baltimore a 21 de Dezembro de 1940 e vitimado a 4 de Dezembro de 1993, aos 52 anos de idade, por um cancro da próstata, Frank Zappa (baptizado Frank Vincent Zappa e não Francis Vincent Zappa como habitualmente se julga), era descendente de sicilianos, italianos, gregos, árabes, franceses, irlandeses e alemães. Aos 10 anos de idade, a família mudou-se para a Califórnia devido à asma de Frank, tendo acabado por assentar em Lancaster, junto ao deserto do Mohave. O seu pai era um químico que trabalhava para o exército na pesquisa de gases venenosos, pelo que a casa familiar estava repleta de máscaras de gás just in case...
No liceu, começou a tocar bateria em bandas de garagem e ainda na banda da escola, da qual foi expulso após ter sido apanhado a fumar em uniforme. Por estranho que possa parecer (ou não), aos 18 anos compunha música erudita e só depois dos 20 começou a compôr temas de rock. Mas já nessa altura os seus compositores favoritos eram Stravinski, Stockhausen e Varèse, tendo-se referido a este último inúmeras vezes ao longo da sua carreira de mais de 50 álbuns, alguns deles duplos e triplos.
Em 1964 juntou-se aos Soul Giants, que haveriam de se reformular como Mothers e actuar nos primeiros álbuns do músico como The Mothers of Invention, nome reinventado em função de pressões da editora Verve. O seu primeiro álbum foi o célebre Freak Out! (Julho de 1966) e o último da sua carreira Läther (Setembro de 1996). Desde cedo revelou a sua faceta satírica, inclusive em álbuns como We're Only in it for the Money, no qual troçava dos hippies e de Seargent Peppers. Entretanto, os Mothers dissolveram-se no final da década de 60, tendo regressado para alguns álbuns no início da década seguinte, mas com formações absolutamente diferentes, em que se destacaram músicos como Jean-Luc Ponty, Napoleon Murphy Brock, Ruth Underwood e muitos outros. Zappa só aceitava os melhores e diz-se que os obrigava a saber de cor e na perfeição o Top 10 a cada semana...
Dessa fase datarão, possivelmente, alguns dos seus álbuns mais inspirados, como Overnite Sensation, Apostrophe, One Size Fits All e Roxy & Elsewhere, um duplo ao vivo com fortes influências da música jazz, ainda que seja nesse mesmo álbum que o podemos escutar dizendo: "Jazz is not dead. It just smells funny!".
Reconheço que não tenho pachorra para escutar toda a dicografia do músico, nomeadamente quando me recordo de álbuns como o triplo Shut Up 'N Play Yer Guitar, integralmente constituído por solos de guitarra. Não é como se Zappa fosse um guitarrista mediano... Pelo contrário, era claramente excelente e possuía um estilo verdadeiramente pessoal. Mas certos álbuns, só mesmo para os apreciadores absolutos, vulgo fanáticos - sem ofensa a nenhum ou nenhuma certamente apreciadores de boa música.
Nos cerca de 50 álbuns do músico, incluem-se alguns gravados por orquestras sinfónicas e composições do autor precisamente para orquestra. E a esses somam-se 7 bootlegs (piratas) cuja reedição foi autorizada pelo próprio Zappa, mais 24 bootlegs não autorizados.
Pai de quatro filhos e filhas: Moon Unit, Dweezil (também ele músico), Ahmet Roda e Diva, todos eles com nomes peculiares, Zappa declarou que não o preocupavam os primeiros nomes da prole, uma vez que se tivesse problemas seria em consequência do nome de família.
Frank Zappa chegou a ser nomeado Ministro da Cultura para o Ocidente pelo então primeiro-ministro checoslovaco Vaclav Havel, um homem de cultura. Infelizmente, a nomeação foi vetada por pressão do Departamento de Estado norte-americano, na época dirigido por James Baker, cuja esposa, Susan, tinha sido uma das co-fundadoras do PMRC (Parents Music Resource Center, um comité fundado pelas esposas de diversos congressistas em 1985, o qual insistia que o rock encorajava a violência, o uso das drogas, o suicídio e o crime, tendo procurado censurar a música e convocado inúmeros músicos para depôr no Congresso, entre eles, naturalmente, Zappa, um dos principais detractores da iniciativa).
Mas à inteligência e ao talento nunca faltam detractores... Talvez por isso, mesmo após a sua doença ter sido declarada, Frank Zappa foi por duas vezes rejeitado pelo Rock'n'Roll Hall of Fame. É possível que se tenham lembrado da afirmação de que os jornalistas de rock são "gente que não sabe escrever a entrevistar gente que não sabe falar para gente que não sabe ler". Mas é duvidoso que Zappa se tenha ressentido fatalmente disso. Na verdade, foi ele mesmo quem declarou: "Não é sequer importante ser-se recordado. Ou seja, as pessoas que se preocupam com isso são gente como Reagan, Bush... A mim, não me importa".
Bom, e já que começamos a entrar pelas citações dentro, permitam-me apresentar-vos alguns dos pensamentos do músico nas suas palavras:
A mente é como um pára-quedas. Não funciona se não estiver aberta.
Entrevistador: Frank, tens cabelo comprido. Isso faz de ti uma mulher?
Frank: Tu tens uma perna de pau. Isso faz de ti uma mesa?
Há mais canções de amor do que de qualquer outro género. Se as canções realmente nos levassem a algo, amar-nos-iamos todos uns aos outros.
O comunismo não funciona porque as pessoas gostam de ter coisas.
Alguns cientistas afirmam, em consequência da enorme abundância de hidrogénio, que este constitui a base do universo. Discordo. Acho que há mais estupidez do que hidrogénio e que essa é a base do universo.
A coisa triste dos anos 60 foi a fraqueza mental dos ditos radicais e a forma como conseguiram ser manipulados. Acho que uma das coisas que ajudou foi o LSD. É o único químico conhecido capaz de converter um hippy num yuppie.
Bién, terminemos com uma referência ao passado, ao meu passado... Quando fui para o 3º ano do Curso Geral (actual 9º ano) e me mudei do Rodrigues de Freitas para o António Nobre, conheci o Joca, também ele vindo do Rodrigues, que foi quem me apresentou a Frank Zappa quando me emprestou o álbum Apostrophe (1974), certamente um dos melhores. Don't Eat the Yellow Snow e Nanook Rubs It são os temas de abertura desse álbum e constituem aqui simultaneamente uma homenagem a Zappa e ao Joca, onde quer que se encontre...
Dreamed I was an Eskimo
Frozen wind began to blow
Under my boots 'n around my toe
Frost had bit the ground below
Was a hundred degrees below zero
And my momma cried:
Boo-a-hoo hoo-ooo
And my momma cried:
Nanook-a, no no (no no . . . )
Nanook-a, no no (no no . . . )
Don't be a naughty Eskimo-wo-oh
Save your money: don't go to the show
Well I turned around an' I said:
HO HO
(Booh!)
Well I turned around an' I said:
HO HO
(Booh!)
Well I turned around an' I said:
HO HO
And the Northern Lites commenced to glow
And she said
With a tear in her eye:
WATCH OUT WHERE THE HUSKIES GO
AN' DON'T YOU EAT THAT YELLOW SNOW
WATCH OUT WHERE THE HUSKIES GO
AN' DON'T YOU EAT THAT YELLOW SNOW
Well right about that time, people,
A fur trapper
Who was strictly from commercial
(Strictly Commershil)
Had the unmedicated audacity to jump up from behind my igyaloo
(Peek-a-Boo Woo-ooo-ooo)
And he started in to whippin' on my fav'rite baby seal
With a lead-filled snow shoe . . .
I said:
With a lead
LEAD
Filled
LEAD-FILLED
A lead-filled snow shoe
SNOW SHOE
He said Peak-a-boo
PEEK-A-BOO
With a lead
LEAD
Filled
LEAD-FILLED
With a lead-filled snow shoe
SNOW SHOE
He said Peak-a-boo.
PEEK-A-BOO
He went right up side the head of my favourite baby seal
He went WHAP!
With a lead-filled snow shoe
An' he hit him on the nose 'n he hit him on fin 'n he . . .
That got me just about as evil
As an Eskimo boy can be . . . so I bent down 'n I reached down
'n I scooped down
An' I gathered up a generous mitten full of the deadly . . .
YELLOW SNOW
The deadly Yellow Snow from right there where the huskies go
Whereupon I proceeded to take that mitten full
Of the deadly Yellow Snow Crystals
And rub it all into his beady little eyes
With a vigorous circular motion
Hitherto unknown to the people on this area,
But destined to take the place of THE MUD SHARK
In your mythology
Here it goes now . . .
THE CIRCULAR MOTION . . . (rub it) . . .
(Here Fido . . . Here Fido)
And then, in a fit of anger, I . . .
I pounced
And I pounced again
GREAT GOOGLY-MOOGLY
I jumped up 'n down the chest of the . . .
I injured the fur trapper
Well, he was very upset, as you can understand
And rightly so
Because
The deadly Yellow Snow Crystals
Had deprived him of his sight
And he stood up
And he looked around
And he said:
I CAN'T SEE
I CAN'T SEE
OH WOE IS ME
I CAN'T SEE
NO NO
I CAN'T SEE
NO . . . I . . .
He took a dog-doo sno-cone
An' stuffed it in my right eye
He took a dog-doo sno-cone
An' stuffed it in my other eye
An' the huskie wee-wee,
I mean the doggie wee-wee
Has blinded me
An' I can't see
Temporarily
Well the fur trapper
Stood there
With his arms outstretched
Across the frozen white wasteland
Trying to figure out what he's gonna do
About his deflicted eyes
And it was at that precise moment that he remembered
An ancient Eskimo legend
Wherein it is written
On whatever it is that they write it on up there
That if anything bad ever happens to your eyes
As a result of some sort of conflict
With anyone named Nanook
The only way you can get it fixed up
Is to go trudgin' across the tundra . . .
Mile after mile
Trudgin' across the tundra . . .
Right down to the parish of Saint Alfonzo . . .
Para finalizar... Frank Zappa e família têm um site muito bem feito e bastante interessante que passam a poder encontrar nos links deste blog. Não se esqueçam de visitar. Abraço do Master.
Dados de www.hotshotdigital.com, www.vh1.com, www.digitaldreamdoor.com, www.brainyquote.com e da minha cabeça.
Imagens de http://images.wsm-us.com, www.krisstal.com, www.vh1.com, http://myhero.com e http://gauntlet.ucalgary.ca.
4 Comments:
Zappa, nobre...que bons tempos um @braço
Obrigado. Outro. Do I know you? :)
Tu não, mas eu conheço muito bem...
Bravo!
E todas as felicidades a esse tal Joca, esteja onde estiver... ;)
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