Carta aberta aos sindicatos dos professores e a quem mais quiser
Se há uma coisa que não pretendo é transformar o It Takes Two num blog sobre Educação. Tenho muito mais sobre que falar. Mas há coisas que têm que ser ditas... Ainda que assim mesmo, de improviso, sem rede, com todos os riscos que (não) acarreta. E cá vai...
Quando alguns afirmam, com uma leveza estonteante de quem não sabe do que fala (tão caracteristicamnte portuguesa, porque todos somos todas as profissões e todos os treinadores de futebol...), que os professores não fazem nada, que trabalham poucas horas, que ganham balúrdios, quando pretendem ensinar aos profissionais da educação a sua profissão... quando alguém faz isso, as razões são várias...
Por um lado, Portugal é uma "casa onde não há pão. Todos ralham e ninguém tem razão". Por outro, trata-se de gente que se rege pela mesquinhez e pela inveja, sentimentos que ficam muito mal seja a quem for - costumo afirmar, e disso estou cem por cento certo, que Mao nasceu no país errado; em Portugal, isso sim, teria encontrado campo aberto para nivelar tudo e todos por baixo e daí recolher muitos aplausos. Aliás, em diversas comunidades da nossa emigração, somos vergonhosamente conhecidos como "os invejosos". Por outro lado ainda, muita gente ficou-se pela adolescência à la Roger Waters: o professor é o inimigo não confessado, que deve simultaneamente carregar as nossas falhas e pagar por elas. Por fim, a imprensa, que de tudo sabe e de nada sabe, assim como os "fazedores de opiniões", que tudo conhecem e nada conhecem, ambos levados por uma onda anti-função pública (quando a função pública deveria ser apreciada e acarinhada precisamente por se tratar de "função pública") patrocinada por Governos incapazes de gerar condições propícias ao crescimento nacional mas ávidos de poupança que sustente as benesses dos poderosos, fez-lhes a cabeça de forma inominável.
O defeito não é dos professores. O defeito é mesmo do país inteiro, que insiste em funcionar abaixo dos mínimos exigíveis, ficando-se por discursos pomposos e algo bipolares (com períodos maníacos e períodos depressivos). Todos sabemos disso, porque todos vivemos Portugal. A "batalha da produção" não existe e nunca existiu - ou não haveria justificativa para que nos vissemos facilmente ultrapassados pela República Checa ou pela Eslovénia, sendo que tudo parece fazer parte de algum fado intransponível de faca e alguidar. Não se pode exigir que as escolas dêem lucro, trata-se de uma ideia absurda e que, a prazo, conduziria ao elitismo, para não afirmar ao capitalismo selvagem. Não se pode exigir que um serviço público dê lucro, seja ele qual for - muito menos as escolas, que nunca têm dinheiro para o essencial, quanto mais para o supérfluo. Ah, mas pode exigir-se que as escolas ensinem bem, uma vez que todos por lá passamos e sem escola deixa de existir tudo o resto - adeus médicos, engenheiros, advogados, arquitectos, etc., etc. e olá Idade Média! Pois é isso que as escolas têm feito, muito para além das suas forças, desgastando vidas individuais, que não são de somenos importância, visto que um professor não é um escravo grego mas sim, bem pelo contrário, como a própria Lurdinhas afirmou no fraquíssimo Prós e Contras sobre a Educação, "profissionais altamente qualificados". E de que modo são os professores compensados? Resposta: de nenhum. Um professor não vive de água e vento, não tem vontade de trabalhar de borla, não tem nem tem que ter espírito missionário, não tem obrigação absolutamente nenhuma de andar a reboque dos caprichos de Governantes incompetentes mas bem compensados pela sua incompetência, nem de empresários desonestos e incapazes mas que sugam as suas empresas até ao tutano, nem de funcionários de todas as áreas que, na sua teimosa mas arrogante incultura e incivilidade, trabalham mal em grande número, muito mal; e posso afirmá-lo pelo simples facto de não ser cego nem nunca ter estado encerrado num qualquer mosteiro onde o resto do mundo se torna invisível e que daria pelo nome de "escola". Aliás, se não cabe ao Estado gerar directamente riqueza e ela não é gerada, onde se encontra o drama e o problema? No público ou no privado? Quem revela verdadeira incompetência global, pela qual pagam os professores e restantes funcionários públicos? Façamos o favor de ser minimamente realistas!
Claro que os professores têm uma imensa dose de culpa em tudo isto... Têm, sim senhor. São muitos, progressivamente desmotivados, muito confundidos quando mais fracos de espírito e, confessemo-lo, muitos deles científica e pedagogicamente incompetentes. Em muita, muita gente, como em todo o lado, tem que haver incompetentes, pois tem... Qual seria a solução? Haver ainda menos professores? Passarem as turmas, que actualmente têm cerca de trinta alunos, a ter sessenta? Ou noventa? Nem é exequível nem positivo, quer para docentes, quer para alunos. Que é como quem diz, não é exequível mesmo para ninguém.
Gostaria, no entanto, de me reportar ao título e acusar os sindicatos dos professores: é lá, à esquerda e à direita, que começa a incompetência mais absoluta. A incompetência e as politiquices que já ninguém consegue aturar, a má representação mais perfeita da classe, o servilismo ridículo e o apego persistente a causas secundárias. Não posso deixar de me lembrar da figura tristíssima dos representantes sindicais dos professores no já referido (e tão, mas tão mal preparado por uma suposta "profissional de jornalismo"...) Prós e Contras. Verdadeiros yes-men do sistema. Servis. Amarelos. Fracos. Egoístas.
Estes sindicatos, pejados de ex-professores, estes sindicatos que só se representam a si mesmos e nunca, que me lembre, apresentam sequer alguém capaz de articular um discurso em condições, dão-me vontade de vomitar. Preocupem-se com as questões profissionais! Pensem que os professores são "profissionais altamente qualificados" e que têm, com as suas famílias, que viver (já nem digo de acordo com a posição que deveriam ter, por respeito ao caos da economia)! Não permitam que a ministra mande leis atabalhoadas que só podem nascer da ignorância de quem nunca de facto pôs os pés no ensino, diariamente cá para fora! Limpem a imagem profissional que servilmente permitiram que ficasse suja! Façam o favor de enfim esclarecer o mundo que alguém que, por acaso, deu aulas alguma vez e não encontrou continuidade, não é professor (ou também eu seria uma série de coisas, pois nunca a minha vida se resumiu a um aspecto fechado e graças a Deus sempre fui suficientemente multifacetado, como está na moda) - questões absolutamente laterais como essas retiram tempo ao tratamento do que é sério e distorcem a realidade! Numa palavra: trabalhem em prol de quem é suposto representarem!
Confesso que não sou sindicalizado. Não sou, não fui e não serei. Não adiro a organizações inúteis e mesmo perniciosas de políticos menores profissionais que fazem de conta que são professores ou que os representam. A vossa cobardia, que nunca encontrará equivalente sequer distante no Master, enjoa e mata, lenta e eficazmente como um veneno instilado gota a gota. Se não conseguem fazer melhor, demitam-se! Ninguém vos levará a mal, porque é bem sabido que nem todos podemos ter personalidades e convicções fortes e capazes de fazer a diferença, qualquer diferença digna desse nome...
O único sindicato a que alguma vez pertenci, devo esclarecer, foi o SJ, Sindicato dos Jornalistas. Talvez não seja o melhor dos sindicatos mas... ah! É um sindicato!
2 Comments:
Oh meu!
Afinal foste, ou não, sindicalizado?
Não deu para entender...
Não sou teu... mas deixa lá. Está claro. Ora relê... Fui sindicalizado como jornalista. Não fui, não sou e não me parece que venha a ser sindicalizado como professor. Capice?
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