It takes two to tango

Quantas vezes a vida não parece mais estranha do que a ficção? Isso é porque toda a ficção se inspira directamente na vida! É porque somos todos medricas que costumamos optar pela ficção. Só que este blog vai optar pela vida... ou algo assim...

sábado, maio 27, 2006

Jack Welch dá tareia a empresários portugueses


Jack Welch, que presidiu aos destinos da gigante norte-americana General Electric durante 20 anos e que foi, em 1999, considerado gestor do século pela revista Fortune, esteve em Lisboa a convite do Jornal de Negócios e do Fórum para a Competitividade, tendo aproveitado para dar uma pequena tareia à assistência (pseudo)empresarial.
"É humilhante para os portugueses a percepção que o exterior tem de Portugal, que é a de uma contínua degradação e declínio ao longo dos últimos anos", afirmou o empresário. "Causa-me impressão que os portugueses não se sintam envergonhados".
Muito a propósito da forma de encarar as empresas em Portugal, Welch afirmou: "O mais importante é gerir o capital humano. (...) A pessoa mais importante para mim numa empresa não é o administrador financeiro mas sim o administrador dos recursos humanos. Quem é mais importante para o desempenho de uma equipa de futebol? O gestor financeiro ou o treinador?"
E criticou ainda: "Em Portugal, encontrei mais associações do que empresas, sendo difícil de encontrar duas que concordem entre si e com o ministro da Economia".

Infelizmente, nado e criado português que sou, tenho a certeza que o discurso de Welch entrou a cem e saiu a mil.
Certamente que o empresário teria sido muito mais contundente se, de facto, compreendesse, o que se passa no nosso país... Corrupção, clientelismo, pura ganância imediatista e amadorismo a toda a prova em todas as camadas da sociedade, desde o Estado (que deveria dar o exemplo) às ditas empresas (que deveriam ser capazes de gerar a riqueza que o país não tem, pelo menos se quisessem merecer o nome de empresas e os seus gestores de empresários). Um estado de coisas em que ninguém consegue pagar a ninguém por, na base, existir um bom número de "chicos espertos" que minam a totalidade do sistema, sabendo de antemão que a lei é demasiadamente burocrática e lenta para agir relativamente a essas situações. Um desprezo absoluto pelo factor humano, mencionado por Welch. Um discurso desesperado dos gestores maiores (o Estado), que começou com o desgraçado discurso do "país de tanga" (o seu autor foi recompensado com a presidência da Comissão Europeia) e continuou por aí fora, sendo que a política do actual Governo só tem contribuído para o agravamento da depressão e para o envio, a prazo, de grande parte dos portugueses para um certo limiar da pobreza. Em tudo isto, os mais atingidos são os funcionários públicos (cuja missão reside em servir os cidadãos nas suas áreas específicas e não em "gerar riqueza", papel esse que deveria, como é óbvio, caber às empresas, caso existissem), o que torna o Estado uma "pessoa de mal", que não só não toma conta dos seus, como ainda os vai destruindo paulatinamente pelo simples facto de ser incompetente para fazer algo de mais construtivo.
Entretanto, damos de caras com blogs como um tal Fórum de Joane (de que nos escusaremos a dar o endereço, além de que encontra escrito naqueles caracteres meio incompreensíveis que alguns consideram interessantes) em que se desejam cortes sobre cortes na função pública, em jeito de maldição, porque terá sido afirmado no jornal Público que os funcionários públicos ganham o dobro dos seus congéneres na privada. Tenho a dizer, se falamos em salários e enquanto professor, que nos últimos dez anos vi o meu salário congelado meia dúzia de vezes (façam as contas - lembra-me, aliás, os congelamentos sucessivos praticados no Brasil no tempo da ditadura, os quais levaram a que a economia nunca recuperasse), assim como a carreira congelada pela nossa ilustre ministra e assessores, designadamente o senhor Valter Lemos, de quem já ouvi coisas interessantes a gente que o conhece. E acrescentar que, durante o tempo em que fui jornalista (pago à maneira do Porto, embora não me deva queixar demasiadamente face à minha situação de funcionário público), já há uns bons anos, tive oportunidade de conhecer jornalistas do Público, nomeadamente de Lisboa, e que, na época, um salário de 400 contos era considerado motivo de descontentamento. Se quiserem comparar, contas limpíssimas, encontrando-me eu no 7º escalão da docência (num total de 10), e sendo, como a ministra afirmou num célebre Prós e Contras, "um profissional altamente qualificado", aufiro 1400 euros mensais em 2006, para preços de 2006. Façam as contas, que diabo!


Imagem de www.onpointradio.org (fonte: Público).