It takes two to tango

Quantas vezes a vida não parece mais estranha do que a ficção? Isso é porque toda a ficção se inspira directamente na vida! É porque somos todos medricas que costumamos optar pela ficção. Só que este blog vai optar pela vida... ou algo assim...

sexta-feira, novembro 18, 2005

A Greve e os Proferidores de Inverdades


Hoje foi dia de greve dos professores e a ministra, na sua costumeira atitude populista e demagógica, decidiu atirar com uns números de faltas dos professores para os media dispostos a engolir e transmitir tudo o que pareça sensacional. Por incrível que pareça, docentes que não iam fazer greve ficaram mal dispostos com a atitude e... fizeram greve! O contentamento dos miúdos ficou patente no instantâneo que aí podem ver em cima.
Mas sejamos realistas e vejamos: como é que os professores podem faltar tanto assim? Que eu saiba, têm direito a faltar 12 dias por ano (duas vezes por mês no máximo) para desconto nas férias. Antes do Cavaco, tinham direito a 24 dias por ano para desconto de nada, ninguém se queixava e parece que o nível do ensino era sensacional! Fora isso, tanto quanto eu saiba, podem faltar por doença, logo, com atestado médico. Das duas uma: ou estão, de facto, doentes e não convém que morram pela camisola e passem uma série de vírus pelo caminho aos seus alunos que nada têm a ver com o caso, ou a classe médica mente forte e feio ao passar atestados falsos aos docentes. Em que ficamos? Mas há mais: um professor seriamente doente e que se veja forçado a faltar mais de 30 dias num ano, começa a descontar não só uma crescente fatia do seu salário como o seu próprio tempo de serviço. Claro, o professor doente não pode ter direito a tratar-se porque se instalou na sociedade a visão bizarra do escravo grego. Só que os professores não são um povo conquistado.
O que mais me dá vómitos em tudo isto é o papel desempenhado no fazer de cabeças do "povo" dos media, muito nomeadamente dos canais televisivos que, como sempre, tudo ignoram e de tudo falam, como carneirinhos na palma da mão dos opinion-makers... E sei bem do que falo: quando você, cidadão incauto, vê televisão lembre-se do que lhe conto - durante muito tempo fui jornalista na área específica da economia. Os meus colegas dos jornais até estavam bem informados. Mas quantas vezes os jornalistas dos canais televisivos não vinham ter comigo, desesperadamente a perguntar: "O que é que eu lhe hei-de dizer? Mandaram-me para aqui mas eu não percebo nada disto!" Assim se compreende o verdadeiro profissionalismo dos canais de TV.
Numa palavra, que a ministra, cujos escrúpulos, intenções e competência estão de há muito bem patentes para quem sabe, pratique a demagogia continuada, vá lá. Os media, que tanto apregoam a importância do verdadeiro jornalismo, deveriam ficar caladinhos quando não fazem a mínima ideia do que estão a falar. Parece que o quarto poder, que só seria um poder real se soubesse exercê-lo com personalidade própria, não passa de um servo abjecto dos que têm reformas vitalícias e vivem à grande e à francesa com o dinheiro de todos os contribuintes. Sim, porque ainda gostaria de ver a classe política a fazer contas à vida como tem que fazer a generalidade da população ou a ter de prestar reais contas pela total incompetência revelada ao longo dos anos - parece que a moralidade não é para todos. Seria, aliás, muito interessante, e penso que ninguém o negará, contabilizar-se as verdadeiras faltas dos deputados e compreender-se os verdadeiros horários praticados pelos governantes, começando pelas humildes Juntas de Freguesia e terminando nos políticos de topo, a quem ninguém pergunta o que quer que seja porque, além de nada de concretamente positivo fazerem, não são obrigados a responder pelas suas "inverdades" - estou a pensar (e até simpatizo com o homem) na figura insuspeitada do presidente da República que, de regresso de uma visita à Finlândia, decidiu afirmar que os professores finlandeses trabalhavam 50 horas por semana, logo desmentido pelo próprios professores finlandeses, que explicaram que não trabalhavam mais de 25.
Mas já estou cheio disto. Não me apetece falar mais de ensino, prefiro ensinar. Posso, no entanto, esclarecer muita coisa que os proferidores inveterados e profissionais de "inverdades" tudo fazem para que não seja esclarecido. Quem quiser saber, é só perguntar...


Imagem de http://us.movies1.yimg.com.

5 Comments:

At 8:14 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Que fantástico texto, deu-me prazer a sua releitura.
Que escrita! Parabéns.:)

 
At 11:54 da manhã, Blogger Jorge Simões said...

Obrigado. :)

 
At 9:17 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Adoro estes dois bichanos:)

 
At 3:37 da manhã, Blogger Ruben Badaró said...

Estas greves talvez ganhassem um pouco mais de credibilidade quando as deixassem de marcar às sextas-feiras para terem um belo fim-de-semana prolongado.

Eu passei o fim-de-semana a trabalhar assim umas 12 horas por dia sem receber mais um chavo e irrita-me esse tipo de oportunismo de um mecanismo cívico cujo uso deve ser bem pesado.

Em relação ao teu restante ponto de vista, concordo e aplaudo. :)

 
At 12:58 da tarde, Blogger Jorge Simões said...

Caro Badas, é sempre um prazer ver-te por cá! :)
Concordo plenamente com isso das sextas. Mas hoje estavam a dizer-me que havia uma razão, que era por causa de se ir a manifestação a Lisboa. Não sei...
Lamento muito que tenhas pssado o fim de semana a trabalhar 12 horas por dia... Quer creias, quer não, sei o que é: ainda um dia destes, para explicar, tive um bloco de 90 minutos às 8,25, mais um bloco de 90 ao fim da manhã, mais uma reunião às 14,30, mais uma reunião às 17,30, mais um bloco de 90 às 19 e mais outro a seguir. É de ficar um bocado cheché (ou lá como é que isso se escreve), nomeadamente porque um professor, para dar aulas em condições, tem que estar permanentemente muito presente - eu estou. Também é verdade que já trabalhei muito mais do que trabalho em tempos idos (somando coisas diferentes, o que actualmente é impossível), mas ainda não era velhote - *cofcofcof* - e ganhava de acordo com isso, não andava a contar os cêntimos como agora. Em todo o caso, não pode ser sempre assim porque um gajo não é uma máquina e esgota-se.
Quanto ao meu restante ponto de vista, também concordo e aplaudo, lol.

 

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