It takes two to tango

Quantas vezes a vida não parece mais estranha do que a ficção? Isso é porque toda a ficção se inspira directamente na vida! É porque somos todos medricas que costumamos optar pela ficção. Só que este blog vai optar pela vida... ou algo assim...

sexta-feira, junho 30, 2006

Pensamento profundamente filosófico do dia (7)


Vivemos, actualmente, numa sociedade tristíssima, onde se alia o pior do socialismo ao pior do neoliberalismo e ninguém se admire de não estarmos a chegar a lado nenhum. Finalmente, começo a convencer-me do declínio da nossa civilização e o que mais me admira (mas não deveria, porque o homem é um animal pouco racional) é a leveza e sensação de inevitabilidade quase divina do facto.
Em nome da sacrossanta globalização, realizada contra nós enquanto comunidade ocidental, tudo se aceita, sobretudo o facto de ser inevitável o facto de que a vida tem, para nós, de piorar. Desculpem-me, mas não é racional. Em nome do Estado social, destrói-se o Estado social, incentivando-se as classes incultas e mais desfavorecidas (mais desfavorecidas, porque incultas) e, simultaneamente, os ricos, ficando toda a grande massa dos cidadãos "médios" (se é que ainda existem, de tão pisoteados que estão e mais estarão) esquecida ao canto da grande confusão filosófico-político-económica. Desculpem-me, mas não é racional. Trata-se, não apenas de uma confusão calamitosa, mas ainda, pior, muito pior, de um alastrar do vírus do egoísmo e da ideia do "mundo cão" inevitável". A novidade é que o mundo não é nem deixa de ser cão - ele é aquilo que dele fazemos colectivamente, uma vez que "mundo cão" é a sociedade humana e a sociedade humana somos todos nós. Espalha-se a ideia de que quem "não presta" deve ser despedido, que é justo, que é a ideia correcta e esquece-se que qualquer um de nós, os nossos pais, irmãos, amigos, os desconhecidos inocentes também, pode ficar seriamente doente, física ou mentalmente, e passar a não prestar. Se a sociedade não for capaz de tomar conta dos seus - e já nem digo o Estado, que se lixe o Estado, que é apenas mais uma consequência da sociedade -, tem essa sociedade o direito de existir?
Fala-se muito em solidariedade e avança-se crescentemente na direcção oposta. Quer-se impingir a ideia da solidariedade aos nossos filhos e impinge-se-lhes um mundo absolutamente oposto. Os nossos filhos que sejam solidários (e isso não significa, de modo algum, "socialistas") correrão o risco de serem criaturas inadaptadas. Os outros, serão, perdoem-me, filhos da mãe imorais na prática do canibalismo desregrado.
O pior em tudo isto é que começo a comprender (embora não a subscrever as atitudes) os que se revoltam e o fazem de forma visível. Onde mora a culpa maior?
Tenham um bom dia.


Imagem de www.clerccenter.gallaudet.edu/.