It takes two to tango

Quantas vezes a vida não parece mais estranha do que a ficção? Isso é porque toda a ficção se inspira directamente na vida! É porque somos todos medricas que costumamos optar pela ficção. Só que este blog vai optar pela vida... ou algo assim...

segunda-feira, maio 29, 2006

Country Joe visita o MUSIK


Joe McDonald (ou Country Joe McDonald) nasceu em Washington DC, mas cedo se mudou para El Monte, nos subúrbios de Los Angeles, Califórnia, em virtude de perseguições políticas de que os seus pais se viram, então, alvo.
Alistou-se na Marinha aos 17 anos. Depois de três anos de serviço, frequentou o City College de Los Angeles e, depois, Berkeley, ainda que já dando atenção maior à música durante esse período.
Gravou o seu primeiro disco em 1964 e publicou a revista Rag Baby, de tendência esquerdista. Foi precisamente na Rag Baby e de forma inesperada que nasceram os Country Joe & The Fish, banda que o viria a celebrizar. Decidiu-se, então, publicar um número sonoro, no qual se incluiram os seus temas I Feel Like I'm Fixin' to Die Rag (sobre a prolongada e mortífera guerra do Vietname) e Superbird (uma sátira ao presidente Lyndon Johnson). Estava, considerou McDonald, na altura de formar uma banda e dedicar-se mais seriamente à música...
Os Country Joe & The Fish começaram por actuar com frequência na cena de Berkeley e de San Francisco, nomeadamente no Fillmore. Em 1966, sai a público o primeiro álbum da banda, Electric Music for the Mind and Body, com o selo da Vanguard. Embora I Feel Like I'm Fixin' to Die Rag estivesse previsto para inclusão neste trabalho, McDonald foi pressionado pela editora, pelo que o tema apenas viria a surgir no segundo álbum da banda.
Depois de já ter participado, em 1967, no Festival de Monterey ( o mesmo ano em que se apresentou à Costa Leste no célebre Cafe A Go Go), o músico tornar-se-ia conhecido de audiências mais alargadas através da sua inclusão na edição de Agosto de 1969 de Woodstock, com o subsequente filme, que o mostrou além-fronteiras.
Pouco depois, McDonald foi preso sob a acusação de incitar o público a comportamentos imorais, ao mesmo tempo que o seu companheiro de banda Barry Melton era detido por posse de marijuana. A banda ainda duraria algum tempo, mas acabou por se desmembrar em 1971.
Prosseguindo uma carreira a solo, McDonald demorou-se longas temporadas na Europa. O realizador escandinavo Knud Thorbjorsen convidou-o, inclusive, a participar, com três temas, num filme baseado no romance Quiet Days in Clichy, de Henry Miller. Quando a Grove Films pretendeu importar a película para as salas de cinema norte-americanas, esta foi apreendida por ter sido considerada obscena. A empresa viria, no entanto, a ganhar a sua causa em tribunal e o filme estreou em Nova Iorque, em 1971.
Até hoje, McDonald tem mantido uma carreira musical razoavelmente activa, dedicando igualmente grande parte do seu tempo a causas políticas e ecológicas e, mais recentemente, à defesa dos veteranos do Vietname. A direita conservadora norte-americana ainda não perdoou, no entanto, o activismo do músico, como pude verificar através da consulta de variados sites que nem referirei e que dão a imagem negativa do americano como um fascistóide parolo e guardador de porcos. Adiante...
O tema que o MUSIK hoje vos oferece (façam o favor de o escutar nas alturas!) pertence ao álbum Here We Are Again, de 1969, e dá pelo nome de Crystal Blues, possivelmente um dos mais sentidos blues eléctricos brancos algum dia concebidos. Tocam Joe McDonald (Guitarra e voz), Barry Melton (guitarra solo), David Cohen (teclas e segunda guitarra solo), Gary "Chicken" Hirsh (percussões) e ainda Jack Casady, dos Jefferson Airplane (baixo). Os arranjos dos sopros pertencem a Ed Bland e a produção a Sam Charters. Há uma versão ao vivo absolutamente espectacular deste tema, a qual já tive a oportunidade de ter em audiocassete, mas que, muito lamentavelmente, não possuo actualmente...


Imagem de http://mitglied.lycos.de.