Triste Natal em Itália
Como suponho que saberão, o italiano Piergiorgio Welby sofria há 30 anos de distrofia muscular e utilizava, desde 1997, não só um respirador artificial, como ainda era alimentado através de uma sonda. Há cerca de três meses, enviou uma carta ao presidente da República italiana, pedindo o direito a morrer com a dignidade possível. Por fim, conseguiu que o seu anestesista lhe desligasse o aparelho respirador - mesmo com a noção de que se iria meter em graves sarilhos. E assim desencadeou o habitual conjunto de disparates que os conservadores costumam latir nestas situações, o habitual desrespeito pela vida humana que todos tão bem conhecemos.
Mas quem emitiu o seguinte comunicado foi a igreja católica: "A vontade de Piergiorgio Welby de pôr termo à vida, afirmada de forma repetida e pública, é contrária à doutrina católica". Lacónicos. Lacónicos que se recusam a dar um enterro católico ao falecido, mesmo tendo sido esse o seu desejo. Não me deveria admirar, mas admiro-me sempre... Onde é que a igreja católica pretende chegar com tamanho desrespeito pelas bases do cristianismo? O que distingue o Vaticano de uma testemunha de Jeová que, por exemplo, recuse uma transfusão de sangue salvadora a um filho que dela necessite? E Deus, a existir, o que pensará de tanta tacanhez em seu nome?
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