It takes two to tango

Quantas vezes a vida não parece mais estranha do que a ficção? Isso é porque toda a ficção se inspira directamente na vida! É porque somos todos medricas que costumamos optar pela ficção. Só que este blog vai optar pela vida... ou algo assim...

sábado, abril 29, 2006

Tanto desperdício de mar





Sinto sempre uma corrente fria na espinha, um fluxo morno no coração, face à conquista humana dos elementos... O ram-ram-ram imaginário das máquinas paradas. Os desfiles dos carros de bombeiros. A música estrilhando em altofalantes sem que a lei se lembre de multar as câmaras. O entulho acumulado pelo progresso. A população atafulhando os areais. O lixo flutuando no azul espumoso. O arfar dos peixes de beiça trespassada nos seus derradeiros instantes. Os guindastes balouçando perigosamente ao sopro da brisa oceânica. Sinto-me ínfimo, verdadeiramente ínfimo, perante as imensas forças tornadas incontroláveis. O país está em obras, as reformas estão em obras, o trabalho está em obras, as moralidades estão em obras, as carteiras estão em obras e todos os elementos ronronam em sorridente estupefacção.

Retrato do trambolho na Maia


Até há uns dias atrás, havia, neste local, um viaduto, um local de passagem extremamente importante para o tráfego na Maia, a cidade onde todos sorriem mal lá entram... Do dia para a noite - wham! -, num abrupto acesso de paixão ergomaníaca, o viaduto sumiu-se, um pouco como numa história do Harry Potter. Resta, agora, um pequeno conjunto daqueles sinais azuis e minúsculos em cima do acontecimento, que aparecem e desaparecem também como que por magia e que indicam DESVIO.

sexta-feira, abril 28, 2006

Billie Holiday inigualável para ver e escutar


Billie Holiday, frequentemente referida como Lady Day e de seu nome de baptismo Eleanora Fagan Gough, nasceu em 1915, em Baltimore, neta de um dos 17 filhos de uma escrava negra da Virgínia com um fazendeiro irlandês. A sua mãe tinha, então, somente 13 anos e o pai, pouco mais velho, abandonou a família para se dedicar à música, o que não facilitou o início da vida de Billie, geralmente atirada para casa de conhecidos e familiares que a maltrataram e violada aos 11 anos de idade. Disse Billie, a propósito da infância, o seguinte: Nunca tive oportunidade de brincar com bonecas como as outras crianças. Comecei a trabalhar com seis anos de idade.
Em 1929, mudou-se para Nova Iorque, onde teve que trabalhar incialmente como criada e ainda, durante algum tempo, como prostituta teenager. Por fim, iniciou a sua carreira musical em bares obscuros do Harlem, até que, descoberta, cantou com Count Basie e Artie Shaw, antes de se aventurar numa carreira a solo, impulsionada por Benny Goodman, em 1933. Entretanto, apesar de ter gravado cerca de 200 temas entre essa data e 1944, nunca chegou a tocar um cêntimo de royalties durante esse período. Da mesma forma, foi explorada por homens que a sugaram até à última moeda e lhe apresentaram a heroína, que acabou por ser a grande causa da sua morte prematura, a 17 de Julho de 1959, com apenas 44 anos de idade.
No final de 1947, Billie teve que passar 18 meses da sua vida numa penitenciária por acusações de posse de droga! Nessa altura, a droga era um crime, não uma doença... Foi a própria Billie quem afirmou, referindo-se à droga: A droga nunca ajudou ninguém a cantar melhor, nem a tocar melhor, nem a fazer coisa nenhuma melhor. Tudo o que a droga pode fazer por alguém é matá-lo - devagar e arduamente. Ou ainda: Se acham que a droga é diversão, não podem estar bem da cabeça. Há mais diversão num caso de paralisia por poliomielite ou na respiração assistida. Ironia das ironias, a lei conseguiu ainda arranjar forma de a prender no seu leito de morte por posse de droga!
Nos últimos anos da sua carreira, durante os quais gravou para a Verve, juntara-se ao abuso da heroína uma nova adição ao álcool, que fazia com que a voz de Billie não atingisse mais determinadas notas. Há quem não goste desta fase, a que pertence o vídeo que em baixo vos apresento, por isso mesmo. A verdade, no entanto, é que os seus temas foram muito mais bem escolhidos e a sua voz alcançou uma expressividade inigualável e nunca anteriormente conhecida. Peço-vos a máxima atenção para uma interpretação fabulosa de Billie e da sua banda, neste vídeo gravado para o programa The Sound of Jazz, da CBS, em 1957. É alma, alma e mais alma do início ao fim. Por favor, não me venham falar de outras intérpretes femininas. Com todo o mérito que possam ter, nenhuma delas jamais igualou Lady Day.
Concluindo e para finalizar o drama desta vida, Billie viu-se impedida de trabalhar em Nova Iorque durante os seus derradeiros 12 anos, por não lhe ter sido concedido o necessário cartão de autorização. Continuamente explorada, faleceu com 70 cêntimos no banco e 750 dólares em casa. Encontra-se sepultada no Bronx, Nova Iorque, no cemitério de Saint Raymond.





Imagem de www.legacyrecordings.com.

quinta-feira, abril 27, 2006

Bauhaus de regresso ao MUSIK


Vão-me desculpar, mas há dias assim... Acorda-se com uma música na cabeça, é-se mentalmente matraqueado por ela de manhã à noite e, chega a esta hora, há que a incluir no MUSIK.
Eis, então, a segunda aparição dos Bauhaus neste blog, desta feita com Dark Entries, num estilo que não será de todo desconhecido a quem tiver tido o prazer de usar gabardinas escuras até aos pés e comentado com os amigos que "a tristeza pode ser bela". Tenho muitas coisas - e diferentes - para vos dar a escutar. Mas hoje tinha mesmo que ser isto. Hoje, tinha que ser Dark Entries...







Imagem de www.u-blog.net.

quarta-feira, abril 26, 2006

De um Instinto Fatal fraquito a um Fatal imoral


Há, na construção de jogos vídeo a partir de editores de níveis, uma coisa a que se dá o nome de paper thin walls, muito praticada entre os caloiros e que confere ao resultado final um aspecto pouco profissional...
Foi algo que me saltou de imediato à mente quando, ontem, assisti à sequela de Instinto Fatal, cuja primeira edição, um thriller com um certo interesse, contou com uma boa interpretação de Michael Douglas (que é feito do homem?) e serviu para lançar Sharon Stone.
E porquê? Porque me lembrei eu de semelhante coisa? Em primeiro lugar, porque uma larga fatia da parte inicial da película faz claramente pensar numa banda desenhada - ou num jogo de vídeo. Depois, porque o filme está cheio de paper thin walls, ou seja, pontas soltas, inconsistências, coisas por explicar. Para não falar da forma irritante como Sharon se meneia exageradamente, mas isso é outra história!
Parece que a actriz, determinada a mostrar que o sexo começa aos 50, terá sido muito exigente relativamente à forma como o filme se deveria desenrolar e como a sua personagem deveria ser construída... Mau. É que, dessa forma, terá acabado, quiçá, por assumir um papel de segunda realizadora e a verdade é que, se há actores que sabem realizar, haverá, provavelmente, uma maioria que não tem uma ideia suficientemente clara do processo.
O filme vê-se bem. É engraçadinho e não posso afirmar que me tenha aborrecido. A verdade, no entanto, é que a sala não estava sequer cheia pela metade, o que indicia que Sharon Stone errou, que lhe permitiram errar e que vão pagá-lo na facturação.



Bom, mas tudo isso é problema da produção. Aprende-se com os erros. Pior, bem pior, foi a curtíssima metragem portuguesa de título Fatal - que mais? - que serviu de introdução ao filme. Trata-se da história de uma prostituta que envenena os seus clientes e comenta para si mesma que é isso que lhe dá prazer. No fim, um barbicha de diabo que a andava a observar, troca os copos, percebemos que é ela quem vai morrer e o filme acaba. Os diálogos são paupérrimos, as representações são aquele exagero teatral que tão bem conhecemos, a imagem é fraquinha e a história não passa disso.
A mini-curta metragem conta com diversos patrocínios, o que não fica mal a ninguém... Como os produtores de Instinto Fatal 2, cada um é livre de deitar o seu dinheiro pela janela como muito bem entender. O pior, o tal pior, é que Fatal conta, de igual modo, com os apoios do ICAM e do Ministério da Cultura! Enquanto continuarem a gastar os nossos impostos em exercícios de estudante, enquanto continuarem a não perguntar a ninguém se o podem fazer, nem o cinema português avança, nem os contribuintes podem deixar de achar que a coisa está mal e que de macacadas estamos mesmo cheios.



Imagem de http://movies.yahoo.com.

Portugal, paraíso dos monopólios







Para ler no Público online e retirar as conclusões possíveis...
Sobretudo, pensar como funciona a gasolina, a electricidade, a água e muito mais num país em que se enche a boca com a conversa fiada da livre concorrência e onde os monopólios são, teoricamente, ilegais.











Imagem de www.lindaschwarz.com.

terça-feira, abril 25, 2006

25 de Abril de 2006


Hoje, vou dar um passeio a Espanha. A minha forma de celebrar 32 anos de incompetência das classes política e empresarial, que parecem apostados em provocar a ideia de que a democracia não é positiva, que o mundo é para os espertos, que os peixes grandes comem os pequenos e essa treta toda com que alimentam os seus aparelhos digestivos sem fundo...


Imagens de http://jpn.icicom.uc.pt e www.madeira-web.com.

domingo, abril 23, 2006

Sensacionalismo consumista absurdo nº 1


O mundo sempre foi um local algo cretino e só o distanciamento temporal nos pode levar a imaginar que nos bons velhos tempos é que era, ou que futuramente é que vai ser. Não. É mesmo uma coisa natural e, relativamente a coisas naturais, não há muito espaço de fuga possível.
Actualmente, porém, vivemos um tempo cretino muito peculiar. O tempo do sensacionalismo consumista absurdo. Pode afirmar-se exactamente o que se quiser, sem necessidade, sequer, de um pouco de imaginação, porque passa tudo ao lado de todos. Excepto, claro está, se alguém quiser tramar o mexilhão... O mexilhão só tem que calar e comer (também lhe é permitido canibalizar, desde que não levante muitas ondas).
Eis alguns exemplos, sacados rapidamente e ao acaso daqui e dali, do sensacionalismo consumista absurdo que visa controlar-nos... Conto fazer novas recolhas.

Assumimos o compromisso: SOMOS OS MAIS BARATOS. O MINISTÉRIO DA ECONOMIA CONFIRMA-O. Isto é verdade, não é só publicidade.


(hipermercados Jumbo)



CONCRETIZE OS SEUS SONHOS. Os gadgets que o ajudam a ser o que sempre desejou.


(revista Stuff)



FUMAR NÃO É NORMAL.


(revista Psicologia)



Não espere mais para ter a casa com que sempre sonhou.


(panfleto Remax)



TENHA UMA SAÚDE À PROVA DE BALA.


(revista Men's Health)



Imagem de http://us.news2.yimg.com.

segunda-feira, abril 17, 2006

V de Vendetta

Numa dessas revistas que me enfiam pela caixa do correio dentro, a Certa, neste caso, do Continente, Margarida Pinto Correia é citada na capa como afirmando que "devemos retribuir à sociedade o que ela nos dá". Coisa mais complexa do que poderá parecer, como poderão ajuizar. Serve, no entanto, como introdução para vos aconselhar uma ida ao cinema, onde passa actualmente um filme que deveria constituir um must, mais que não seja pelas suas implicações...


De um modo geral, os filmes baseados em bandas desenhadas são um imenso barrete - e não me fico pelos Flintstones, posso bem incluir na categoria os filmes do Batman e por aí fora...
Não é o caso de V de Vendetta. Optando por não vos desvelar a história, devo, no entanto, dizer que a sua grande força reside no facto de retratar uma situação que se aproxima de realidades demasiadamente possíveis, possíveis graças ao sentimento de medo e aceitação que perpassa a generalidade das nossas sociedades, e ainda porque, voilà!, conta com óptimas representações, óptimos diálogos e, porque não?, óptimos efeitos especiais inclusive. Imaginem que os vossos medo, apatia e aceitação permitem às nossas sociedades pré-totalitárias transformarem-se em sociedades verdadeiramente totalitárias, onde os escrúpulos já não existem sequer de forma disfarçada... Seria bom surgir um "herói" dedicado a resolver a questão de uma vez por todas, ou não? Alguém que, como o mascarado V desta película, fosse capaz de afirmar "As pessoas não deveriam ter medo dos seus governos. Os governos deveriam ter medo das pessoas". Os neo-liberais, tão utópicos à sua maneira como os anarquistas ou os comunistas, costumam pensar que encontraram a fórmula mágica para acabar de vez com todas as revoluções. Nisso, demonstram um absoluto desconhecimento das lições que a história nos vai ensinando. Este filme é uma revolução no futuro. Mas fala-nos claramente do presente.
Dirigido por James McTeigne e com script de Andy e Larry Wachowski, V de Vendetta conta com a participação de Hugo Weaving no papel de V, Natalie Portman como Evey e John Hurt como Adam Sutler, o ditador abjecto e que só surge em grandes ecrãs, sempre tão furioso que me interrogo como é que não morre de ataque cardíaco (mas Hitler também parecia permanentemente furioso, não era?). Suponho que o filme venha a ser esquecido pela Academia como o foi o memorável Fight Club... Mas quem se preocupa com a Academia?

domingo, abril 16, 2006

Irão endivida palestinianos


O Irão anunciou a atribuição de um auxílio no valor de 50 milhões de dólares aos palestinianos do Hamas e a Síria deu início à recolha de donativos para o mesmo fim. Bom, no meio disto tudo, parece que o único dinheiro governamental do "mundo islâmico" talvez provenha do Irão. Nem sequer da Síria, que opta por colocar o ónus nas mãos das populações e respectivas bolsas. Parece, portanto, que me enganei ligeiramente nas minhas previsões de há uns dois artigos atrás e dou um dedinho à palmatória.
Mas acho muito bem. O que acho menos bem é que isto me soa um pouco a crédito bancário... Fruto das circunstâncias e como já sucedeu com o disparate pegado de Arafat quando apoiou Saddam durante a Guerra do Golfo, os palestinianos acabam sempre por ficar em dívida para com quem menos lhes convém. E as dívidas, de uma forma ou de outra, é suposto pagá-las...

Imagem de www.cfr.org.

sábado, abril 15, 2006

Led Zeppelin no MUSIK


Enquanto o File Lodge resolve os seus intermináveis problemas, vendo-me assim impedido de vos trazer um vídeo ou outro devido aos megas ocupados, vi-me forçado a procurar alojamento noutro local, neste caso o files.bz, para não vos obrigar a levar com o Hey Negrita, dos Stones, até Deus sabe quando...
Posto isto, desta feita o Musik oferece-vos uma audição de Black Dog, dos Led Zeppelin, provavelmente o melhor tema de hard rock alguma vez pensado e executado por quem quer que tenha sido ou venha a ser. Dotado de uma energia inigualável, um ambiente praticamente de dança canibal, a mestria absoluta do uso dos contratempos, que chegou a ser uma das especialidades exclusivas da banda, Black Dog vale a pena ser ouvido de novo por quem conhece e trazido ao conhecimento de quem ainda não teve a sorte de o escutar. Escutar alto, se fazem o favor!
Formados em Outubro de 1968, a partir das cinzas dos Yardbirds, a banda contou desde logo com Jimmy Page, Robert Plant, John-Paul Jones e ainda com um dos mais poderosos e originais bateristas do género rock de todos os tempos: John Bonham, que participara nos The Band of Joy.
É sabido que desde a década de 80, quando bandas auto-intituladas hard rockers, começaram a descambar para baladas de gosto duvidoso e música pop com guitarras eléctricas e cabelos compridos, nunca mais houve hard rock. Não há. E não sei se haverá. Por outro lado, os Led Zeppelin são ainda muito recordados em função da sua excelente qualidade em que misturavam rock, blues, folk e misticismo, muitos quilómetros à frente dos poucos outros nomes igualmente recordáveis, como sejam os muito mais terra-a-terra Deep Purple.
Black Dog foi publicado em Novembro de 1971 no álbum Led Zeppelin IV, do qual faz igualmente parte o mais conhecido mas muito menos interessante Stairway to Heaven, bem como vários outros temas excelentes, de que devo salientar Misty Mountain Hop - puro e duro.
A banda terminou abrupta e tragicamente com a morte do baterista, encontrado sem sentidos na cama, sufocado pelo próprio vómito após um dia de bebida após bebida. Estava-se a 25 de Setembro de 1980 e, em Dezembro, a banda anunciou o seu término, considerando não dever continuar com outro baterista.
Jimmy Page e Robert Plant têm mantido interessantes carreiras a solo (também com os Black Crowes, no caso do primeiro), tendo-se reunido ocasionalmente para projectos breves. John-Paul Jones, apesar de algumas gravações a solo, tem-se dedicado fundamentalmente à gravação e produção de outros.


Imagem de http://filebox.vt.edu.

Não dês facas a quem te esfaquearia...


Mahmoud Ahmadinejad orando perante a foto de um sempre vigilante Khomeini, em plena contradição com a noção islâmica de que não se pode adorar figuras e de que só se pode adorar Alá.



O presidente teológico-neonazi iraniano Mahmoud Ahmadinejad reiterou, em conferência de imprensa, haver "sérias dúvidas quanto à realidade do holocausto" e aproveitou para prever "o desaparecimento de Israel", logo secundado pelo líder supremo (seja lá isso o que for) do Irão, o ayatollah Ali Khamenei, que incitou ao ferro e ao fogo, utilizando a infelicidade palestiniana para afirmar que "o mundo islâmico não pode ficar silencioso face à tirania de que os palestinianos são vítimas". À margem da conferência, o líder do Hamas Khaled Mechoal declarou aos jornalistas considerar "imoral e desumano punir colectivamente uma nação que fez uma escolha democrática".
Independentemente da simpatia que aqui se sente pelo povo palestiniano (e não pelo Hamas, o que equivaleria a sentir o mesmo género de simpatia pelo PSD, pelo PS, por Bush, ou mesmo por Adolph Hitler, democraticamente eleito nos idos anos 30 do século passado), há que afirmar que cá se sente o mesmo género de simpatia por todos os muçulmanos moderados que se vêem misturados e arrastados pela lama graças à existência de bandalhos teológicos com pretensões hegemónicas. E ainda que as escolhas eleitorais são legítimas, mas que não têm que ser vistas como positivas e que ninguém tem qualquer obrigação de ajudar ninguém, muito menos quem se nos opõe, a menos que se cultive uma costela masoquista. Embora ninguém lá me vá ler, desafiaria o Hamas a conseguir as ajudas necessárias do dito "mundo islâmico", o que seria interessante de se ver... O Grande Satã colectivo ocidental tem que se assumir como isso mesmo: Grande Satã. Ou se é ou não se é. Pessoalmente, recuso-me a que o dinheiro ocidental, do qual fazem parte o meu trabalho e os meus impostos, sirva para fomentar regimes teológicos fundamentalistas com o desejo profundo de me impôr a sua forma de vida. Algo que posso fazer enquanto persistir uma nesga de democracia, coisa que não me lembro de existir no Irão.



Imagem de www.washingtonpost.com.

sexta-feira, abril 14, 2006

Mid-afternoon blogs (MM)



Por esta parede acima
Vai um caracol abaixo...
Tem-te, caracol, não caias,
Que o teu sangue é para morcelas!

(An.)


Imagem de www.webtree.ca.

Pensamento profundamente filosófico do dia




Quem de nós desconfia, injustificada e permanentemente, é certo que muito mais deve desconfiar de si mesmo.






Imagem de http://clerccenter.gallaudet.edu.

Breves dos humanos estranhos (2)


Dan Brown não se livra mesmo das acusações de plágio com as óbvias reclamações de avultadas indemnizações! O funcionário do Hermitage de S. Petersburgo, Mikhail Anikin, afirma que o autor do Código da Vinci lhe roubou a ideia de que Leonardo era teólogo e que a Gioconda constituía uma alegoria da igreja Católica. Supomos que as ideias, de tão irrepetíveis, devessem estar internacionalmente protegidas por um qualquer copyright...



A Madeira soma e segue! O festival de dance music Madeira@Paradise, que deveria ter lugar na marina do lugar de Baixo hoje e amanhã, foi transferido para o tecnopólio do Funchal porque o douto bispo do Funchal, Dom Teodoro Faria, usou o seu púlpito para classificar o evento como "terrorismo e ofensa a um símbolo sagrado que é o dia da morte de Jesus". O religioso afirmou ainda que "seduzir jovens para um mega-concerto na Sexta-Feira Santa é sujar as mãos com o dinheiro de Judas" (recentemente reabilitado com a descoberta de um evangelho), conduzindo assim a uma movimentação de abaixo-assinados de católicos e de padres católicos que prometeram manifestar-se, no que, não duvido, iriam arrasar. E eis o poder político todo-poderoso a ceder às invectivações da santa madre, como nos bons velhos tempos!



Por seu turno, os neonazis alemães e europeus não renegam a tradição e decidem aliar-se aos morenos barbudos do Irão (assim justificados na sua pose de verdadeiros arianos), da mesma forma que Hitler se aliou a Staline antes de optarem por trucidar mutuamente parte dos seus povos... De acordo com o The Guardian, o NPD alemão proferiu palavras de apoio à causa anti-semita iraniana e convocou uma marcha para 21 de Junho, em Leipzig, quando terá lugar o desafio Irão-Angola, a contar para o Mundial de Futebol. Do nosso belo jardim, prevê-se a presença de uma multidão de 19 apoiantes da Frente Nacional. Eis os angolanos transformados pelos neonazis em neojudeus!



Num tom mais leve, a Star fez eco das palavras do cirurgião plástico de Beverley Hills, Steven Fallek, anunciando que o ex-Beatle Paul McCartney terá realizado uma cirurgia a laser no queixo (brow lift) e aproveitado para injectar silicone nas bochechas em 2005. Será para esconder alguma cicatriz deixada pelo facto de ter morrido e renascido em 1967? Teorias da conspiração à margem, se pensarmos na amizade (mais tarde desamizade) que ligou o baixista a Michael Jackson, suponho que ainda poderemos, eventualmente, vir a contar com um McCartney dançarino, de carapinha e dedicado ao hip-hop... Ebony and Ivory!



E um pouco de veneno para concluir... A lei sul-africana proibiu a entrada de Jan Abel Manamela em todas as instalações do banco Abse. Em 2004, o réu, queixando-se de ter sido defraudado num empréstimo (no que não nos será muito complicado dar-lhe crédito), soltou cinco cobras venenosas na sede do banco, em Joanesburgo, tendo uma delas mordido um cliente. Mal! Ainda se tivesse sido um administrador...



O meu muito obrigado ao Público por, uma vez mais, nos presentear com estes flashes dos humanos estranhos.



Imagem de www.mr-bill.de.

quinta-feira, abril 13, 2006

Bush maior que todos os bushismos!


Esta, saquei-a ao Bitaites, onde poderão encontrar mais algumas. Não pude deixar de o fazer, visto que foi a coisa mais engraçada que vi do Bush até ao momento - e isso, incluindo todos os Bushismos!

Terceiro grau do éter

Cá vai mais uma, só para entendedores...


Encontram-se um lunático e um venusiano...

Lunático - Hola.
Venusiano - Hello.
Lunático - Acho-te muito pálido...
Venusiano - E eu, a ti, muito escurinho...
Lunático - Porque é que isso me soa a racismo?
Venusiano - Só porque sou alto, louro, esguio e perfeito?
Lunático - Não. Mas desconfio que não gostas de hip-hop...
Venusiano - Adoro hip-hop. Acho muito cultural.
Lunático - A minha avó costumava fazer cultura de couves e rabanetes.
Venusiano - Na lua???
Lunático - Porquê? Não temos direito a couves e rabanetes? E vocês, o que plantam?
Venusiano - A nossa natureza cresce livre como o vento!
Lunático - Ervas daninhas...
Venusiano - Como weed?
Lunático - The bad seeds.
Venusiano - Espero que não se trate de nenhuma insinuação quanto aos venusianos!
Lunático - Não, meu. Gosto de rimar.
Venusiano - Mas acrescentaste-lhe um esse!
Lunático - É porque sou muito polivalente.
Venusiano - És poeta?
Lunático - De rua.
Venusiano - Vives no mundo da lua...
Lunático - Rimaste! Ena, rimaste mesmo!
Venusiano - Deve ser do éter...
Lunático - Pardonnez-moi?
Venusiano - Estamos no éter.
Lunático - Cool! Conheci um puto que snifava éter.
Venusiano - Ah! Que é feito dele?
Lunático - É médico.
Venusiano - De pequenino se torce o destino...
Lunático - Sérgio Godinho.
Venusiano - George Adamski.
Lunático - Lobsang Rampa.
Venusiano - Ruby Tuesday.
Lunático - Pardon me?
Venusiano - Entschuldigen Sie?
Lunático - Signomi?
Venusiano - Estamos a falar de quê?
Lunático - A decidir o futuro da civilização.
Venusiano - Bem me parecia! Qual delas?
Lunático - Queres uma a sério ou uma a brincar?
Venusiano - Pode ser a brincar...
Lunático - Mu!
Venusiano - Corto Maltese.
Lunático - Cavalheiro da fortuna.
Venusiano - Isso é algum insulto?
Lunático - Acha o que quiseres. Vou apanhar a cauda daquele cometa, que já estou atrasado para o lanche em casa do chapeleiro louco!
Venusiano - De facto, é tarde, é tarde, é tarde! Voltamos a encontrar-nos?
Lunático - Claro! Na face escura da lua!
Venusiano - Pena ter partido... Podíamos ter formado um partido...



Imagem de www.rogerissa.com.

I'm bored...

I'm bored
I'm the chairman of the bored,
I'm a lengthy monologue
I'm livin' like a dog
I'm bored
I bore myself to sleep at night
I bore myself in broad daylight coz
I'm bored
Just another slimey bore
I'm free to bore my well-bought friends
And spend my cash until the end coz
I'm bored
I'm bored
I'm the chairman of the board
I'm sick
I'm sick of all my kicks
I'm sick of all the stiffs
I'm sick of all the dips
I'm bored


I bore myself to sleep at night
I bore myself in broad daylight coz
I'm bored
I'm bored
Just another dirty bore
All right doll-face
Come on and bore me
I'm sick
I'm sick of all my kicks
I'm sick of all the stiffs
I'm sick of all the dips
I'm sick
I'm sick when I go to sleep at night
I'm still sick in the broad daylight coz
I'm bored
I'm bored
I'm the chairman of the. . .
BORED!


(Iggy Pop)



I'm bored and I'm sure a load of people are bored too... who should be doing something useful with their lives!

terça-feira, abril 11, 2006

Tornare de la pagina


Maledetto Romano! Maledetti italiane ingrati! Cosa faccio alora? Aprendo a fare il punto cruce? Faccio la guerra civile? Mi retiro pera un asilo de velhie? Fortunatamente, tenhio mille de gente pera mandare, tutti il mie sclavie como devede di sere! Ah, vita mascalzona! Mamma mia, perche me abandonasteri?


Imagem original de www.rp-online.de.

domingo, abril 09, 2006

Às vezes dá-me para acordar assim


Pessoa: Mataste o gajo! Porque é que o mataste?
Clint: Fazes perguntas demais...
Pessoa: Mas ele apenas te chamou forasteiro, recusou-se a servir-te um whisky, disse que tinhas que apagar a cigarrilha e tentou cobrar-te uns dólares pelo direito de respirares nesta cidade!
Clint: Sou pacífico. Mas ele pediu-as nitidamente...
Pessoa: Mas, ouve lá, o teu revólver faz muito barulho e corres o risco de acordar as pessoas da cidade, que estão todas a dormir. Incomodas toda a gente! As pessoas não querem coisas incomodativas! Assim, nunca mais chegas aos tops!
Clint: Gringo... Só faço o que me apetece. Vê lá se não queres ser o próximo a saborear a minha justiça!


Imagem de www.postershop.com.

sábado, abril 08, 2006

Eat like a pig!


Ontem, andava uma data de gente a falar nisto... Eu só sei o que me contaram, porque nem sequer vejo televisão (fora alguma coisa ocasional do género Seinfeld) e porque os jornais, apesar de tudo, têm mais que fazer do que publicitar ideias "geniais" do calibre da que se segue...
Ora, parece que na capital (onde mais? - no pun intended) uns "mestres da restauração" tiveram a ideia de criar um "restaurante" onde se come em sete minutos e se paga um euro a mais por cada minuto que lá se permaneça para além do tempo estipulado.
Confesso que, na minha forma instalada e burguesa de estar, não acho nada bem. Aliás, nem uma sopa se come em sete minutos! Gosto de ir a um restaurante onde me tratem bem e me permitam estar o tempo que quiser, a conversar, a fumar, a beber, possivelmente, a consumir mais qualquer coisita. Isso é restauração. Comer como um porco, não obrigado. Prefiro sinceramente uma ida ao McDonald's. Ninguém tem por aí um neurolepticozito que empreste aos senhores da ideia?...


Imagem de www.pixel-storm.dk.

sexta-feira, abril 07, 2006

De porcos e ratazanas


Imaginem a seguinte história, absolutamente hipotética...
No início do Verão de 2005, um grupo de amigos decide fazer uma festinha ocasional em casa de uma das amigas. Come-se, bebe-se, conversa-se, bebe-se e fuma-se, numa palavra, faz-se uma série de coisas que sempre foram tidas por normais, mas que talvez qualquer dia sejam todas proibidas.
Às páginas tantas, os amigos sobem para o sótão, onde seria suposto dançar um bocadito, à maneira das festas de antanho, quando ninguém chateava ninguém e as pessoas se compreendiam razoavelmente. A dança até acaba por não pegar porque "os vizinhos isto e os vizinhos aquilo". Certo. Põe-se a música - no sótão, insisto - mais baixa. Nessa altura, um de nós pega na sua guitarra e começa a cantar e a tocar para o grupo. É necessária alguma atenção, uma vez que, como se diz, "guitarra toca baixinho".
E eis que, em lugar da guitarra, soa a campainha... A dona da casa e mais um par de amigos vão abrir. São dois agentes da lei oficial, mal encarados, como convém. Foi apresentada uma queixa anónima contra o barulho. A dona da casa promete parar a música de imediato e queixa-se apenas do facto de ninguém se ter dignado vir falar sobre o caso antes de optar por chamar os guardas.
Passa o tempo...
Abril de 2006. A dona da casa recebe uma contra-ordenação, intimando-a a pagar uma multa no valor aproximado de 500 contos (escrevo em moeda antiga para que se entenda melhor), quantia módica para os portugueses actuais, em função da queixa anónima apresentada. Do relatório de um dos agentes da lei oficial, consta que a multada se terá insurgido, afirmando não fazer ideia de que não se podia fazer barulho a partir de uma dada hora. Os agentes da lei oficial moldam os factos a seu jeito e transformam-se, assim, em agentes da mafia oficial.
Gostaram da história?

Eis o que me traz à memória outra história hipotética... Um grupo pequeno de amigos vai ao cinema e, de regresso, passa por casa de uma das amigas para um copito, ainda legalmente permitido. Conversam, normalissimamente, nunca levantam a voz, não se passa mesmo nada. Entretanto, um anónimo deixa um bilhete na porta, no qual se pode ler: "Faça o favor de não transformar a sua casa numa ilha afrodisíaca!". Lol, não é? Bom, pelo menos, não chegou a chamar os agentes da lei oficial...

E, caramba, é só histórias, assim de repente, a surgirem-me na memória, diabo de memória, devo ser demasiadamente criativo! Imagino um indivíduo que se recém-separou e teve que se mudar para um andar alugado. O "dono" do condomínio é-o desde há 11 anos, altura da construção do prédio em causa. Sente-se dono do prédio e fala com todos como se sentisse dono de todos. A acrescer, o senhor, que mete uma pena infinda pelo facto de usar umas canadianas, está encarregado pela dona do andar em questão, que se encontra em, digamos, França, de tratar de todos os assuntos ligados ao aluguer caríssimo - como convém e é justo. Certa noite, o inquilino, não bateram ainda as dez badaladas no relógio de uma torre qualquer, a Torre de Londres, por exemplo, saca a sua guitarra e começa, não a tocar, simplesmente a arranhar umas cordas, enquanto olha para o televisor e pensa na vida. Trrrrim! É o "dono" do prédio. Mal encarado, à maneira dos agentes da lei oficial e como convém, vai dizendo que não se pode fazer barulho à noite e explicando que se o inquilino não está satisfeito, o contrato pode resolver-se, sem problemas, a qualquer instante. Mesmo por cima da sala, ouve-se o ruído de uma telenovela brasileira, com os seus dramas e exageros tão apreciados pelas populações latino-americanizadas, precisamente em casa do senhor das canadianas.

Eu sei que nenhuma destas histórias pode ser verdadeira. Nenhuma delas faz sentido, naturalmente. Mas sinto os cabelos levantarem-se só imaginar as cenas que acabo de narrar (tenho uma imaginação muito vívida)!
Subitamente, chegam-me memórias, desta feita verdadeiras, do tempo dos nossos pais - e nossos, só que éramos mais novos... Memórias das festinhas que se faziam. Do passear pelas ruas nas noites de Verão. De tanta coisa... E, é engraçado, não me lembro da existência de anónimos frustradotes e (perdoem-me o termo, sei que não costumo usar este género de calão, mas a minha imaginação indigna-me e mexe de tal forma com os meus neurónios que fico, por momentos, inimputável) filhos da puta a precisarem de ser enrabados até ao cimo da garganta!
O que mereceria esta laia se, por acaso, existisse? Que os visados os apanhassem numa esquina e lhes abrissem a cabeça de marisco a meio e sem redenção? Pelo menos, levar em cima com uma montanha regular de queixas anónimas?

Isto, meus caros, é o Portugal de hoje em dia. O pior é que tenho a sensação de que isto já só vai ao sítio com um novo dilúvio! Permitam-me afirmá-lo enquanto uns iluminados não encerram de vez os blogs e tudo o que se possa opor à perfeita ordem instituída.


Imagem de http://imagesource.allposters.com.

Dan Brown inocentado de plágio


Podem ler a notícia no Público. Acho muito bem. Estou cheio até à ponta dos cabelos dos aproveitadores inescrupulosos que encontram motivos para sacar umas coroas à custa do trabalho alheio e por intermédio dos tribunais. Deles e dos seus advogadozecos. Claro que, se fosse em Portugal, o Danny boy teria que se chatear muitíssimo mais, enquanto aguardava que decorressem os anitos de espera da praxe... Por outro lado, se realmente tivesse cometido um plágio, talvez fosse sentenciado a pedir desculpas por escrito ou algo assim...


Imagem de http://pub.tv2.no.

quinta-feira, abril 06, 2006

Governo desrespeita direitos das minorias!


A notícia é "sacada" do www.publico.pt, com os meus óbvios agradecimentos...



"O Ministério da Saúde propôs hoje a proibição de fumar em recintos fechados e o aumento da idade mínima para a aquisição de produtos de tabaco para os 18 anos.
A proposta, apresentada hoje aos jornalistas e que o ministro da Saúde, António Correia de Campos, sublinhou ser "do Governo", foi já enviada a 30 parceiros para discussão pública, esperando o governante que possa vir a ser aprovada em Conselho de Ministros dentro de dois meses.
Depois desta aprovação, o documento será apresentado sob a forma de uma proposta de lei à Assembleia da República.
O anteprojecto de diploma apresentado agora pelo ministro da Saúde prevê a proibição de fumar nas áreas fechadas dos locais de trabalho, dos estabelecimentos de restauração e bebidas, incluindo os que possuem salas ou espaços dedicados a dança, das unidades hoteleiras e dos centros, galerias e grandes superfícies comerciais.
É igualmente proibido o fumo nos serviços e organismos da administração pública, nos locais destinados à prestação de cuidados de saúde, estabelecimentos de ensino, recintos desportivos e meios de transporte. (...) Correia de Campos recusou também considerar esta proposta de legislação como sendo sobre "proibição de fumar", realçando que é um documento "sobre a protecção dos trabalhadores e do sujeito passivo". (...) O anteprojecto estabelece multas entre os 50 e os mil euros para os fumadores que infrinjam as regras e entre os cem e os 2500 euros para os proprietários dos estabelecimentos privados e direcções de organismos públicos."



Tive que acender um cigarro para conseguir ponderar acerca das reais intenções de tudo isto, para além da triste intolerância fundamentalista, característica das nossas actuais sociedades decadentes e pré-autoritárias, mas, ah!, finalmente entendi! O Governo quer é sacar mais uns euros ao pessoal!

terça-feira, abril 04, 2006

Roubar música na net nº 2


Começo a repetir-me, mas nem por isso...
Na página 3 do Jornal de Notícias, vulgo JN, de hoje, deparei com o artigo a uma página É possível acabar com os downloads gratuitos? Não sei se é ou não. Possivelmente não. Mas gostaria de fazer aqui uma pequena navegação em torno do pântano que encontrei por detrás do artigo (não no artigo)...
No momento em que vão, como já foi dito, chegar cartas com multas a casa de cidadãos que vivem, certamente, muito pior do que os donos das fonográficas, ficamos a saber que os dois servidores portugueses do Emule encerraram portas depois de as autoridades "neofascistas" belgas e suíças terem prendido um dos operadores do programa e fechado o servidor Razorback 2, que constituía, para a Motion Picture Association - vá, riam-se! - uma ameaça para a sociedade!
No mesmo artigo, acedemos às opiniões de várias pessoas ligadas ao meio, nomeadamente Miguel Guedes, dos Blind Zero, João Peste, dos Pop Dell Arte, e Pedro Leitão, do Test Tube, um dos net labels portugueses...
Fala Miguel Guedes, muito liricamente fala, tão liricamente fala que me poderia interrogar se tem, de facto, 33 anos, a idade de Cristo quando morreu, em amar a música e os músicos. Refere-se à partilha de ficheiros como pirataria da inspiração. E denomina-a de assalto à criatividade dos artistas e dos demais intervenientes na indústria discográfica, assumindo-se assim como defensor do patrão que o explora mas de cujos favores sente necessitar
Felizmente, surge João Peste, que sublinha que ainda bem que as coisas chegam a mais pessoas. João Peste fala nas atitudes prepotentes em relação à circulação da música na internet, a qual só denuncia um certo totalitarismo latente nas sociedades contemporâneas. E garante: Disponibilizarei e farei sempre com que a música dos Pop Dell Arte esteja mais de acordo com o espírito libertário da internet do que com os interesses da grande indústria ou os interesses dos sistemas autoritários, para não dizer totalitários.
Quanto a Pedro Leitão, que assume sacar música sem pagar, classifica a iniciativa da Associação Fonográfica Portuguesa (AFP), em conluio com a International Federation of Phonographic Industry (IFPI) de perfeita estupidez. É com grande clarividência que salienta: É uma caça às bruxas. Fariam melhor se colaborassem com a Polícia Judiciária, acabando com a venda de discos pirata que existe todos os dias nas feiras deste país.

O que eu atrás disse nem necessita de comentários... Como toda a gente sabe, quem quiser DVDs (ou "discos pirata") é só ir ao fornecedor habitual da feira, que há-de ter uma série de títulos antes mesmo de sairem a público - eu, por acaso, gosto de ir ao cinema e não tenho pachorra para DVDs... mas isso sou eu. Como toda a gente também sabe, ainda por cima em tempo de crise, quando o cidadão comum não pode sequer vestir-se, quanta gente é que se vai meter a comprar discos que não queira mesmo comprar? Como todos sabemos ainda, os músicos não vivem dos discos vendidos e sim dos seus concertos. De outro modo, morreriam à fome. O resto, já o disse no artigo mais abaixo.
A quem interessa, então, tudo isto, senão aos senhores que guiam grandes carros, vivem em grandes casas, vestem grandes roupas, comem em grandes restaurantes e fazem grandes férias, enquanto o povo vive numa míngua cada vez maior? Digo bem, o povo, porque há, de facto, um novo povo, só que se recusa a compreender que é povo.
Gostaria de saber, seria interessante saber, quem são os músicos que apoiam, como Miguel Guedes, estas medidas... Depois, o povo faria bem em nunca mais comprar fosse o que fosse de tais "artistas". E em optar antes pelos que se mostram realistas e solidários.
Quanto a mim, que, como Pedro Leitão (e mais um número incontável de pessoas de todas as idades), assumo sacar música sem pagar, saco tão pouquinho e tantas vezes coisas com o rótulo de distribuição livre, só mesmo as pinguinhas que me podem eventualmente interessar, que nada disto me assusta. Pessoalmente, não sou nada. Mas isto faz-me pensar e devia fazer-vos pensar a vocês: hoje acabam com a partilha de ficheiros (e não lucram nada com isso, que é mais irónico - ou pretendem lucrar? Vejam o primeiro comentário a este artigo), amanhã limitam o uso dos blogs, processam-nos por usarmos imagens de outros, multam-nos por fazermos eco de notícias de outros lados, transformam a net num espaço totalmente cinzento, entretanto proibem o tabaco e depois o álcool, sempre com o aplauso dos "carneiros nazis" mais ferrenhos, aqueles que precisam de deixar escapar o ódio por algum lado, servos abjectos do sistema, finalmente obrigam-nos a trabalhar horários da Revolução Industrial... Tudo isto, enquanto o jet-set bebe whisky do melhor, fuma charutos de Havana e faz festinhas de sexo e coca. Poderia continuar por aí fora... Parece-vos ficção? Talvez... Men in Black, Big Brother, 1984, pensem...

Campanha pela Morgadinha


Eu sei que isto é o pão nosso de cada dia e sei que muitos de vocês não darão a mínima importância ao caso...
Mas passa-se o seguinte: A Morgadinha é um blog com um valor muito próprio, simples, bonito, nada das horrorosas questões existenciais que vos ofereço e que nunca cai, no entanto, naquele subaproveitamento do blogger que tanto por aí grassa e que consiste em se escrever um conjunto de tretas superficiais e que só poderão, quiçá, interessar a um grupo de amigos. A Morgadinha é de uma simplicidade linda.
A autora diz-se, no entanto, cansada. Avisa que parte. Diz não saber quando voltará e se voltará. Problems, problems, como cantava o Fish no primeiro álbum dos Marillion, ou seja, quando os Marillion ainda tinham alguma coisa para oferecer. Mas discorro...
Gostaria simplesmente que visitassem o blog e, dando-se o caso de até lhe acharem graça (não da de rir, mais da graciosa), que por lá deixassem a vossa mensagem de encorajamento. O blog é da autora e é ela quem, mais do que certamente, sabe. Mas mal não pode fazer...

domingo, abril 02, 2006

Roubar música na net


Leiam a entrevista e o anúncio de fire and brimstone para os "malditos prevaricadores" aqui...
Não é a primeira vez que falo disto, mas temo ter que voltar a considerar que os senhores estão completamente equivocados e não entendem muito do assunto do qual seria suposto entenderem. A troca de ficheiros na internet não belisca os autores um só milímetro. Quem gosta de um disco, compra-o. Se não gosta suficientemente, deixa-o na prateleira. Essa é que é a realidade da vida. No dia em que o fileshare for definitivamente eliminado, ninguém vai lucrar com o facto. Bem pelo contrário. A indústria não venderá mais CDs do que já vendia. Os autores, geralmente explorados pela indústria, não lucrarão mais um cêntimo com a lei seca. Na verdade, a sua música conseguirá uma muito menor divulgação e ficarão a perder. Quem, eventualmente, chegasse a vender mais alguns CDs em consequência de alguém ter feito o download de um ou vários temas seus e ter gostado, simplesmente não os venderá. Estamos em crise - será que os senhores não reparam? Não sobra muito dinheiro para CDs. No fim, fruta da época, ganham-se umas multas e fica-se com aquele calorzinho no peito de se ter cumprido uma santa missão.

sábado, abril 01, 2006

Políticos à conversa


Conversa entre dois políticos, nos corredores de Bruxelas...

Político A: As nossas medidas estão a gerar demasiada polémica! As empresas estão a falir ou a escapulir-se para países onde podem pagar aos trabalhadores com amendoins, temos um presidente do Banco Central Europeu com a obsessão de subir as taxas de juro, os salários não páram de descer em termos reais, a gasolina custa mais do que o ouro e certos países como, por exemplo, como é que é mesmo?, ah, sim, Portugal, têm montanhas de impostos directos, nomeadamente o IVA a 21%. Já viste o que está a acontecer em França?
Político B: Esses franceses mais a mania das revoluções!
Político A: O certo é que isso significa algo! Pode ser o início de coisas piores...
Político B: Pareces-me muito ingénuo para político... Tens a certeza de que não vens de outra profissão? Convencemos as pessoas de que a culpa é dos estrangeiros e está a andar! Já se fez isso mesmo vezes sem conta e sempre com sucesso!
Político A: Não achas que devíamos fechar as comportas aos chineses?
Político B: Geoestrategicamente errado.
Político A: Bem, eles não cumpriram as cláusulas estabelecidas para o comércio mundial... E, na verdade, fazem dumping, o que não é permitido. Logo, seria perfeitamente legal cortar-lhes as asas.
Político B: E depois, como é que era? As pessoas iam ter menos coisas para consumir?
Político A: E quando as pessoas não puderem consumir coisa nenhuma?
Político B: Logo se verá...
Político A: Logo se verá?
Político B: Sim, logo se verá. Falo chinês?
Político A: Sei lá se falas chinês! Qualquer dia, acaba-se a Europa!
Político B: Eu estou mais preocupado com os negócios que tenho em Pequim...
Político A: Ah, então é isso!
Político B: Achas que os teus eleitores estão preocupados contigo? Um pouco de realismo, ok?
Político A: Bom, que é que eu ganho com isso?
Político B: Posso apresentar-te a alguns homens de negócios importantes na China. Depois, de certeza que sabes como é que te hás-de safar!
Político A: Pronto. E a revolta? Deixamo-la crescer?
Político B: Já te disse! São os estrangeiros! Os pretos, os árabes, os latinos, os chineses, os gajos do Leste, essa malta toda, percebes?
Político A: Certo. Seja. Como é, arranjas-me uma fatia?
Político B: Anda daí jantar! Pedimos rosbife e serves-te das fatias que quiseres...