It takes two to tango

Quantas vezes a vida não parece mais estranha do que a ficção? Isso é porque toda a ficção se inspira directamente na vida! É porque somos todos medricas que costumamos optar pela ficção. Só que este blog vai optar pela vida... ou algo assim...

sexta-feira, setembro 29, 2006

Qual Finlândia! Pólo Norte!


Nunca mais chegamos à Finlândia porque, com a nossa característica mania dos excessos, acabámos por voar sobre a dita cuja e fomos aterrar de ventas em cheio no gelo do Pólo Norte!
E a matilha ladra.
E a vara grunhe.
E a cáfila guarda toda a água no papinho...
Então não é que, face à incompetência visceral da nossa governação, vão de nos dar uma tanga à maneira da economia argentina e prometem mais um ano de congelamento total e absoluto para a Função Pública em 2007? Quantos milhões não vão entrar nos cofres fortes do Estado em resultado de mais esta machadada, já habitual, em tantos, mas tantos cidadãos? Ah, para complementar, as contribuições para a ADSE (cada vez mais igual à Caixa, ou seja, cada vez mais próxima da nulidade) crescerão 50%!
Parece que esta gajada percebe muito pouco de história económica... A mesma política foi aplicada pela ditadura militar brasileira e os excelentes resultados fazem-se sentir até hoje.
O que me admira é que os militares, que também são Função Pública, estejam tão quietinhos... Estarão, também eles, ocupados com o futebol, as novelas e os concursos? E não há quem nos livre dos gordos incompetentes!...

sexta-feira, setembro 22, 2006

Mais uns preguitos no caixão colectivo...


...ou a Oeste nada de novo. Desta feita, Sócrates e o seu gang decidiram complicar a vida a toda a gente com a decisão de que os atestados médicos deixam de ser válidos para justificar doença/mal estar na Função Pública, passando a ter que haver, na mesma medida do que sucede no privado, uma passagem pelos Centros de Saúde ou pela urgência hospitalar. Essa parte que aí atrás está a negrito é precisamente o cerne da questão porque, uma vez mais, é o que, fazendo-se uso do desgoverno desesperado e inveja proverbial dos portugueses, servirá para convencer o povão atarantado de que assim se exerce, enfim, justiça sobre os malfadados funcionários públicos.
O que Sócrates e o seu gang não contam é que há faltas absolutamente imponderáveis que só podem ser justificadas com atestado (enquanto na privada a situação se pode resolver sem burocracias), pelo que tudo isto se insere na política de angariar faltas injustificadas à força e mandar gente para a rua e para o desemprego. O que Sócrates e o seu gang não contam é que os Centros de Saúde e urgências hospitalares, já de si a rebentar pelas costuras, passarão a ter filas de quilómetros em função desta decisão. O que Sócrates e o seu gang não salientam é que assim se desautoriza a classe médica e se rouba muitos clientes à privada, enquanto se atafulham os serviços de saúde públicos - e nem quero pensar em quanta gente poderá morrer por falta de tratamento em consequência desse atafulhar! O que Sócrates e o seu gang não salientam é que se trata de uma decisão desumanizante.
Mas desde quando é que esta gangada se preocupa com justiça ou humanitarismo? Há dois anos que lá estão e ainda não os vi tomarem uma só medida que não consistisse em dar porrada em alguém, sem que em consequência alguma vez tenham contribuído para algum tipo de melhoria do país e das condições de vida das populações... É o que dão as maiorias absolutas, sobretudo do PS, partido em que, aqui juro solenemente, nunca mais na vida votarei! Será que alguma vez um governo, digamos, do Durão (que Deus o tenha muito bem lá onde se encontra, visto não fazer falta por estas bandas) poderia fazer um quinquagésimo das enormidades que estes gajos fazem sem que houvesse, pelo menos, uma greve geral e pressões de toda a ordem? Infelizmente, vamos ter que aturar a seita durante mais uma data de tempo, tempo suficiente para que façam muito mais estragos... No final, Portugal estará precisamente muito pior, para que não se quebre a tradição. Mas com o meu voto, como estou certo que com o voto de muitos mais, nunca eles voltarão a contar.

terça-feira, setembro 12, 2006

Breves dos humanos estranhos (6)


Uma italiana manteve-se encerrada, de portas e janelas e com fita isolante, em sua casa, durante 26 anos. Quando finalmente a encontraram, pesava 30 quilos e explicou: isolara-se e isolada se mantivera para se proteger do vírus da gripe.



Da Itália à Alemanha, um alemão de 20 anos demonstrou claramente a sua incompetência para a gatunagem. Depois de surripiar um par de sapatos de uma sapataria da localidade de Bielefeld, cumpriu o velho dito de que o culpado regressa sempre ao local do crime e foi apanhadíssimo. Razão para o regresso: tendo levado sapatos de tamanhos diferentes, decidiu voltar atrás para exigir que lhe dessem um par do mesmo tamanho.



E da Alemanha ao nosso pacato Portugal, mais precisamente a uma escola do concelho da Maia... Quem visitar o local, encontrará instalações degradadas e buracos a necessitar de serem tapados... e uma secretaria novinha em folha, com mesas e cadeiras a brilhar e tudo! Razão: a dita escola recebeu verbas para obras, mas essas verbas só poderiam ser destinadas à secretaria. Se assim não fosse, regressariam de imediato ao ministério. No fundo, no fundo, o que são uma quantas correntes de ar e chuva invernal para alunos e professores, quando se pode ter uma secretaria mesmo à maneira?



Imagem de www.mr-bill.de.

sexta-feira, setembro 08, 2006

Professores portugueses dos mais bem pagos da OCDE!


De acordo com um energúmeno responsável do departamento de Estatísticas e Educação da OCDE, Ben Jensen, que se encontra em Portugal a convite da FNE, os professores portugueses são os terceiros mais bem pagos no ranking dos 30 países da organização, apenas ultrapassados pela Coreia e pelo México! Na feitura de tão belas contas, o especialista das couves tomou como valor de referência o miserabilíssimo PIB nacional, limitou-se aos salários dos professores em topo de carreira e não pensou em realizar, claro está, uma leitura a partir da relação entre salários e custo de vida.
"Em Portugal, os salários dos professores estão bastante altos", ganiu o indivíduo, salientando ainda a relação estatística de turmas com médias de 20 a 25 alunos, que nos coloca igualmente "bem".
Quanto ganhou este indivíduo para assim participar na campanha mais suja e ignóbil até hoje desencadeada contra toda uma classe por parte de quem se recusa a perder uma miríade de privilégios ganhos ao longo de anos e anos de roubo, corrupção e amiguismo?
Só posso lamentar a situação de miséria dos professores de países bem mais desenvolvidos do que o nosso e que se encontrarão, a tomar em conta as palavras do douto estatístico, próximos do limiar da pobreza. Para não ir muito longe, coitaditos dos professores espanhóis, que ganham mais do dobro de nós e enfrentam um custo de vida razoavelmente mais baixo...
Agora já sabem... É por estas e por outras que nem me tem dado vontade de escrever!

domingo, setembro 03, 2006

Golpe de estado raticida


Nos lares, nas ruas, becos e avenidas, nos locais de trabalho e nos pontos de lazer, todos andavam algo confundidos com as cascatadas legislativas que não cessavam de diariamente jorrar dos paços ministeriais. Tanto mais que o sobranceiro edifício de mármores e tapetes vermelhos da Assembleia de Importantes Legisladores sempre parecia encontrar-se às moscas ou mosquitos... Estaremos nós a ser governados por insectos?, interrogavam-se alguns. É verdade que os insectos são animais imparavelmente velozes!, completavam outros. E todos pareciam mais ou menos satisfeitos. Ninguém, em todo o caso, iria perder a sublime comunicação esclarecedora que Sua Excelência, o primeiro sinistro faria, naquele dia, às populações. Estavam atentos todos os media e ainda os que tinham pertencido à classe média, além dos outros...
"Cidadãs e cidadãos... - principiou Sua Eminência Parda, pigarreando brevemente de seguida, como sempre faz quem tem coisas importantes a contar - Jamais governo algum trabalhou tanto como o actual! Trabalhamos de manhã, à tarde, à noite e ainda durante os intervalos! Se o país é uma máquina, seremos nós o seu motor! Que a ninguém restem dúvidas quanto ao que aqui vos afirmo: se o mundo é cão, eis-nos melhor entre os seus dentes do que na sua cauda! - sorriso e copo de água - Cidadãs e cidadãos: nós sabemos o que é melhor!"
Enquanto alguns aplaudiam o que desconheciam, outros faziam que ouviam. Outros ainda, outro ainda, pelo menos, ponderava o sábio discurso... Tratava-se de Zezé Sete, alguém que não contava entre os seus hábitos acreditar no que um canal de televisão lhe dizia. Saiu decididamente porta fora - tratava-se de um café até com mais do que uma porta, embora uma delas estivesse avariada e outra ainda perra - e dirigiu-se aos paços ministeriais. Chegado ao local, encontrou a entrada barrada por um guarda de facies buldoguiano.
"Quem passa?", rosnou o homem entre caninos.
Nunca se desfazendo, Zezé anunciou-se:
"Sou sub-assessor do assessor da sub-secretária do secretário do secretário de Estado do ministro".
Por breves instantes, o guarda aparentou alguma confusão... Computava os dados. Mas logo abriu alas para permitir a entrada do nosso Zezé. Ainda este não tinha dado três, quatro passos no interior e eis que o segurança se voltou, interrogando:
"Mas que assunto o traz?"
"Confidencial", explicou Zezé com uma expressão secreta.
"Ah! Bem vindo, então!"
E regressou à sua sólida posição estatuária.
O interior era uma confusão de gente que subia e descia escadarias, abria e fechava portas, e assim fazia sempre com uma rapidez inaudita, carregando pilhas de papeladas simplex debaixo dos braços e pronunciando estranhas sonoridades que assim pareciam: "bip-bip!"... Por vezes, com nuances de sotaque ou estado de alma.
Como ninguém parecesse dar pela sua presença, Zezé foi subindo calmamente as escadarias até mais não poder. Estaria agora no sotão. Vendo sair, entrar e voltar a sair de uma alta porta de madeira respeitável alguém cujos papéis se acumulavam, decidiu-se a perguntar ao indivíduo com a máxima delicadeza:
"Desculpe, mas é que me perco sempre em tão complicada simplicidade... Onde se localiza o gabinete do conselho ministerial?"
"Bip-bip!", respondeu o interlocutor antes de rapidamente se ir perder no interior de outra porta. E antes que de lá saísse e noutra voltasse a entrar, Zezé compreendeu, graças à sua fabulosa mente prescrutadora, a mensagem: ao fundo do corredor, na terceira porta à esquerda.
Cuidadosamente, Zezé entreabriu a porta imensa. No interior, a escuridão era total. Tacteou em busca de um interruptor, utilizou-o, mas a escuridão persistia. Eis que aqui não se faz luz!, concluiu o nosso herói.
Habituando a vista ao negrume reinante, chocou contra uma fotocopiadora de onde ininterruptamente voavam decretos-lei e ofícios de toda a ordem. Estranho..., matutou, sabendo, no entanto, que estranho não é uma palavra portuguesa.
"Senhor ministro? Sua eminência?", interrogou baixinho e, de seguida, num crescendo, mas ninguém lhe respondia. E a papelada continuava a voar persistentemente da imparável fotocopiadora.
Aguçando o ouvido e a vista, pareceu-lhe escutar música proveniente de um pequeno canto luminoso, atrás da grande mesa de pé de galo, bem ao fundo da sala. Pé ante pé, decidido a não despertar suspeitas, aproximou-se e espreitou por sobre as costas de um cadeirão com uma perna colada... Um bando de ratinhos gargalhava finamente enquanto se balouçava ao swing de uma jazz band de ratazanas!
Com o choque de tal visão, apenas interrompida maniacamente pelo minimalismo repetitivo da simples fotocopiadora, Zezé desequilibrou-se, tropeçou no tapete e foi aterrar pesadamente sobre o conjunto da rataria que, sem tempo para o mais pequeno guincho, logo se desfez num esguich! compacto.
Erguendo-se atarantadamente, Zezé compreendeu: havia, inadvertidamente, realizado um golpe de estado sanguinolento!
No dia seguinte, transportado em braços por um grupo de apoiantes ante as câmaras e microfones, dirigiu a sua primeira comunicação ao país:
"Cidadãs e cidadãos! Jamais governo algum trabalhará tanto como o meu! Ordeno-vos apenas que apertem um pouco mais os cintos, visto que a situação que o anterior governo nos legou é muitíssimo mais dramática do que alguma vez poderia ter imaginado!"
Palmas nos lares, ruas, becos, avenidas, locais de trabalho e pontos de lazer.
"Finalmente, sairemos da cauda da Finlândia!", exclamou agradadamente um frequentador do café do início da nossa reportagem a alguém que se encontrava na mesa mais próxima.
"Ganda Sua Excelência!", respondeu este prontamente. "Nunca nos enganou!"


Imagem de http://bpkatey.250free.com.