It takes two to tango

Quantas vezes a vida não parece mais estranha do que a ficção? Isso é porque toda a ficção se inspira directamente na vida! É porque somos todos medricas que costumamos optar pela ficção. Só que este blog vai optar pela vida... ou algo assim...

terça-feira, outubro 31, 2006

Desafiando os deuses


Tollan ou Tula foi a lendária capital do povo tolteca, governado por um rei de nome Huemac. No tempo do Festival das Flores, o rei lançou a sua coroa ao chão e pediu a Acxitl, seu filho, que a usasse se assim o entendesse. Seguidamente, vagueou até à floresta pensando em canções e aí encontrou Tlaloc, o terrível deus da chuva.
"Porque deste a tua coroa a um bastardo?", lançou o deus com voz de trovão. "Há muito que a tua raça ofende os céus e agora será completamente dizimada, juntamente com a cidade que erigiu! O tempo da misericórdia terminou!"
Apavorado, Huemac regressou a Tollan e encontrou Acxitl entretido com uma bailarina de nome Urendequa. Uma vez escutada a narrativa do pai, este respondeu-lhe:
"Desde quando é que a cidade de Tollan pede misericórdia aos velhos tontos dos céus?"
Em vão Huemac procurou levar seu filho até junto de um sumo sacerdote para pedir clemência a Tlaloc.
"Vamos depressa para onde os octli perfumados brilham numa taça, meu pai!", proferiu destemidamente Acxitl, referindo-se ao mundo que aguardava os mortais após a passagem deste mundo.
Um estranho torpor abateu-se sobre a cidade. Quando Huemac se retirou, Urendequa interrogou Acxitl:
"Então tu não tremes perante a ira dos deuses?"
"Minha amiga...", redarguiu o novo rei. "Viveste quarenta anos como bailarina. Achas que há alguma coisa a temer quando se pensa na morte? Eu vejo o amor à vida como algo de ridículo, um isco deitado por deuses incompetentes para nos manter aqui. Digo-te que esses deuses construiram mal este mundo feio, mas para que a sua divindade seja acreditada devem fingir que é bom. Assim, eles nos amaldiçoaram com o amor à vida para que não os possamos afrontar ao fugir desta prisão a que nos condenaram. Eu jogarei a minha humanidade contra a divindade dos deuses. Eles amaldiçoam-me porque sou um homem e não possuo o seu sangue. Eu não procuro a vida, mas a culpa da minha fuga recai apenas sobre eles. Que fique dito: massacraram-no porque descobriu as suas intenções".
Dois vulcões começavam, então, a vomitar lava na distância e escutava-se o ribombar do trovão. A população entrou em pânico. Grandes pedras cairam dos céus, mas nenhuma atingiu Acxitl. Simultaneamente, um grande exército Chichimeca postou-se às portas da cidade, decidido a tudo conquistar e a não poupar vivalma. A tudo Acxitl reagia com sarcasmo...
"A minha disputa não é com os Chichimecas e sim com os deuses. Será que devemos fazer sempre aquilo que eles desejam? Será que devemos trabalhar constantemente para que eles possam colher? Dveremos estar constantemente a lutar para que eles possam ter sangue? Deveremos estar constantemente a orar para que a sua vaidade aumente? Façam-no, se quiserem, mas eu não serei mais seu escravo. Tollan tem sido a cidade da música, do amor, dum espírito secreto, de brincadeiras agradáveis e de lágrimas. E os deuses estão cansados de tudo isso. Desejam ser louvados, da mesma maneira que o sangue é o seu alimento".
O palácio, como a cidade, estremeceu. Agarrando num bastão incrustado de obsidianas, Acxitl encaminhou-se para a rua. Assim prosseguiu até à grande estátua de Tlaloc e clamou:
"De pé, irmãos! Hoje fui rei de Tollan. Éramos muito felizes e os deuses zangaram-se porque negligenciámos a sua adoração. Feliz fui eu também, até descobrir que um homem não pode viver livre do sofrimento inflingido pelos deuses. Não há vida ou arte que me mantenha sob tal escravidão. Assim, forço os deuses a abir a porta da morte!"
E, assim falando, atingiu a imagem de Tlaloc no pescoço com o seu bastão, a qual, desfazendo-se embora o bastão, oscilou, caiu e rolou para uma valeta. Acxitl gargalhou e logo se viu atingido por um imenso raio que varou os céus, deixando as suas cinzas espalhadas pela rua.
"Os deuses são de facto grandes!", sussurrou o chefe dos Chichimecas, que entretanto se aproximara com os seus exércitos, soltando um fundo suspiro. "Esta cidade estava cheia de pecado e o seu rei era louco. O seu destino caiu sobre a sua cabeça".
"No entanto...", disse o escudeiro a seu lado, "... não é todo o homem que pode forçar os deuses a matá-lo para que o seu sangue possa ser testemunho contra eles... Não é ele que coage os deuses, como se ele mesmo fosse um deus?"



Espero que encarem esta história de coragem como uma história sem tempo... Uma história com sentido, inclusive nos dias de hoje e na civilização actual.



Adaptação de Mitologia Latino-Americana (Estampa/Círculo de Leitores)
Imagem de
http://chezphil.org.

sábado, outubro 28, 2006

A destruição do ensino - abaixo-assinado


A bruxa má do Sul que aí em cima se retrata numa das suas fotos mais lisonjeadoras pretende agora colocar os professores a dar oito horas de aulas por dia. Os cidadãos mais incautos e roídos de inveja poderão até, eventualmente, achar bem, mas é porque nunca deram aulas. Pensem um bocadinho no que possa ser dar oito horas diárias de conferências, quanto mais a públicos que não as querem de modo algum e se encontram em faixas etárias em que o demonstram claramente e depois falem! Além do mais, isso implicará o despedimento a prazo de muitos milhares de professores, entre os quais o vosso Master, que tem, como todos, contas a pagar e não gostaria de terminar injustamente desprezado a arrumar carros.
Some-se que a megera e os seus anõezinhos malvados e obedientes pretendem acabar com as interrupções lectivas do Natal, Carnaval (três dias com o feriado) e Páscoa, forçando os filhos a estar longe dos pais, encafuados na escola nossa de todos os dias e os professores a entretê-los - como, sabe-se lá! Uma situação (aliás ambas) que não existe em nenhum país que me possa ocorrer, dos mais aos menos desenvolvidos.
A megera que em breve voltará para o seu ISCTE a dar seis horas de aulas semanais (e quantas impingidas aos seus assistentes!) pretende à fina força destruir o ensino público em Portugal. Pensem um pouco nas consequências futuras das medidas desta gente que, nem sei bem como, consegue convencer tantos de vós de que faz um bom trabalho... Vá, pensem...
Depois, vão a www.fenprof.pt e façam o favor de participar do abaixo-assinado da frente comum de sindicatos que lá circula. Ou informem-se e façam os vossos próprios abaixo-assinados. Por um dia nas vossas vidas, sejam realistas e não egoístas... A compensação está no próprio acto.
PS - Ouvi, entretanto, na rádio, que o ME negou a intenção de eliminar as pausas lectivas, tendo ainda esclarecido que não se trata de oito horas lectivas diárias e sim da possibilidade de, em determinado dia, haver oito horas lectivas (castigo a aplicar por Conselhos Executivos malévolos a gente com quem se dêem muito mal). Moral da história: os gajos lançam o barro à parede, um barro feito de ódio puro e viscoso e quando se apercebem do exagero, uma vez mais, negam.
PSPS (sem PS, partido que nunca mais, por tantos anos que viva, contará com o meu voto): Apetece-me mencionar um recente comunicado interno do competentíssimo Valter não sei das quantas... O secretário decreta que quem estiver colocado em determinada escola (falamos dos pobres provisórios), ainda que com um horário de quatro horas por hipótese, não o pode ver completado pelo Conselho Executivo, ainda que tenham surgido montes de horas para o fazer. Não. A escola tem que colocar no jornal um anúncio para as restantes horas (digo eu agora, nem que sejam duas), o qual custa ao ministério a módica quantia de 400 euros, sendo que os alunos não terão aulas no entretanto. Lógica da coisa: a) Gastar desnecessariamente dinheiro num anúncio; b) Perder tempo desnecessariamente; c) O ministério poderá afirmar que colocou mais professores; d) Esses professores nem contarão tempo para a carreira (visto que existe um horário mínimo estipulado para tal), nem ganharão mais do que para comer meia dúzia de dias. Conclusão final: o secretário determina (acho que foi esse mesmo o termo utilizado pelo subalterno) o que lhe apetece, desumanamente e porque lhe dá na tola.

quinta-feira, outubro 26, 2006

Petição por iranianas condenadas à lapidação

Um apelo da Amnistia Internacional...



Parisa, Iran, Khayrieh, Shamameh, Kobra, Soghra e Fatemeh são sete mulheres iranianas condenadas à morte por lapidação. A República Islâmica do Irão considera o adultério um delito punível através da pena de morte por lapidação, violando assim o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, o qual garante o direito à vida e proibe a tortura.Parisa, Iran, Khayrieh, Shamameh, Kobra, Soghra e Fatemeh foram condenadas injustamente à pena mais cruel, desumana e degradante, a pena de morte. Mas ainda vamos a tempo de impedir a sua execução. Não fiques em silêncio. Vai a Amnistia Internacional e colabora, juntando o teu nome a uma já extensa petição a favor destas setes mulheres.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Sindicatos dos professores: ou se calam ou levam tau-tau!


Livra que até me dói na alma ter que colocar aí ao lado uma foto identificativa de Jorge Pedreira, secretário de Estado adjunto da Educação do actual desgoverno da neoplasia nacional, um adjunto, uma formiguinha, ainda assim cheio de patuá e arrogância. Todos aprendem bem com o chefe das falanges! E aí está o que ele hoje afirmou à Rádio Renascença, para que se entenda cada dia um pouco melhor a noção de diálogo dos que Eça classificaria de choldra, Bocage de corja e eu mesmo, se mo permitem, de cáfila, gangada, vara, seita e o que mais vos aprouver. Declarações de S. Exa:

"O que dissemos hoje aos sindicatos foi uma coisa diferente. Aquilo que dissemos foi, no fundo, o seguinte: os sindicatos ou querem parar de tentar afundar o barco com o risco de serem os primeiros a afogar-se, ou querem entrar no barco connosco e conduzi-lo a bom porto! Esta foi a alternativa que deixámos hoje aos sindicatos."

"Aquilo que dissemos hoje aos sindicatos era..." - o gajo nem tempos verbais sabe utilizar - "...que a posição do ministério da Educação relativamente à reestruturação de carreiras e relativamente à avaliação de desempenho era a posição do ministério da Educação, era a posição definitiva do ministério da Educação! Sobre essa matéria, a negociação está concluída!"



Contra factos não há argumentos e não queria estar na pele dos sindicatos... Devem estar a borrar-se de pavor! Como todos os professores... Como todos os portugueses... Como eu mesmo, na verdade. Vocês não estão? Espero não acordar de noite, afogado em suores frios, na sequência de pesadelos encadeados com o bigodinho vassoureiro e riso malandro do senhor doutor adjunto!...

quinta-feira, outubro 19, 2006

Mais fofocas sobre a ministra


Não posso garantir a pés juntos pela veracidade do que se segue, mas não tenho a menor dúvida de que faz todo o sentido...
Pelos vistos, a Lurdonas (não consigo, por muito esforço que faça, tratá-la por Lurdinhas) é de Melgaço, um local situado algures no fundo de onde Cristo não terá flutuado sobre as águas, sem ofensa para os restantes melgacenses. E, pelos vistos, a personagem não é apenas abominada por todos os professores portugueses dignos desse nome! Pelos vistos, ela é odiada pelos locais (odiada foi o termo que me foi transmitido), tendo deixado na sua terra um chorrilho de dívidas que nunca se dignou pagar.
Interessante... Foi, pelo menos, o que as minhas fontes me transmitiram. Boa noite e sonhem com os anjos.

quarta-feira, outubro 18, 2006

Um país de indubitáveis talentos imbecis


É extraordinário! Neste abençoado país todos os políticos têm imenso talento. A oposição confessa sempre que os ministros, que ela cobre de injúrias, têm, à parte os disparates que fazem, um talento de primeira ordem! Por outro lado a maioria admite que a oposição, a quem ela constantemente recrimina pelos disparates que fez, está cheia de robustíssimos talentos! De resto todo o mundo concorda que o País é uma choldra. E resulta portanto este facto supracómico: um país governado com imenso talento, que é de todos na Europa, segundo o consenso unânime, o mais estupidamente governado! Eu proponho isto, a ver: que, como os talentos sempre falham, se experimentem uma vez os imbecis!




Eça de Queiroz, in Os Maias, cap. XV

A música dos números do ME sobre a greve


Relativamente aos números do primeiro dia de greve dos professores, enquanto os sindicatos apontam para uma adesão de mais de 80 por cento, o governo garante que a adesão se ficou em menos de metade dos professores. Diabo! Quem estará a mentir?
A resposta é simples: ninguém... mais ou menos. Sabem como é que o ME faz a contabilidade da greve? Manda as Direcções Regionais telefonar para os Conselhos Executivos bem cedinho, quando muitos professores ainda não iniciaram o seu horário e não houve nem aulas de tarde nem aulas nocturnas e tira as suas conclusões. É um bocado como as estatísticas. A ópera bufa está lá, mas só a ouve quem quiser.

terça-feira, outubro 17, 2006

Em dia de greve, uma fofocazita


No primeiro de dois dias de greve dos professores portugueses, o It Takes Two vem manifestar a sua solidariedade para com toda a classe e, como talvez vocês não estejam com paciência para ler uma vez mais os diferentes aspectos das propostas de desgovernação da cambada, uma fofoca levezinha sobre a ministra mais abominada da história da humanidade...
Sabem que, de acordo com as minhas fontes, a megera da cara de pau que masca chicletes diante das câmaras de televisão e namora com um possível carreirista muito mais novo do que ela, já terá sido casada por três vezes, duas delas com professores? Significativo...

O It Takes Two aproveita para alargar a sua solidariedade a todas as classes que actualmente se encontram furiosamente em luta contra o neo-salazarismo para muito pior deste governo e, inclusive, sim, inclusive depois de ter assistido ao Prós e Prós de ontem, em que o ministro António Costa decidiu concluir a contenda com um chorrilho de mentiras e afirmações retorcidas e cínicas, aos autarcas portugueses.


Imagem de www.fenprof.pt.

quarta-feira, outubro 11, 2006

TINC para ver e ouvir

Bom dia. Deixo-vos hoje um dos meus vídeos favoritos dos The (International) Noise Conspiracy - ou TINC -, The Reproduction of Death. Deixo-vos a sua fantástica movimentação de palco e os seus cartazes (infelizmente mal legíveis nesta cópia): "Are you content with slavery?" e "Capitalism is organized crime". É para apreciar...




sábado, outubro 07, 2006

Eça sobre o ME


- V. Exa decerto, sr. Sousa Neto, sabe o que diz Proudhon?
- Não me recordo textualmente, mas...
- Em todo o caso V. Exa conhece perfeitamente o seu Proudhon?
O outro, muito secamente, não gostando de certo daquele interrogatório, murmurou que Proudhon era autor de muita nomeada.
Mas o Ega insistia, com uma impertinência pérfida:
- V. Exa leu evidentemente, como nós todos, as grandes páginas de Proudhon sobre o amor?
O sr. Neto, já vermelho, pousou a chávena sobre a mesa. E quis ser sarcástico, esmagar aquele moço tão literário, tão audaz.
- Não sabia - disse ele com um sorriso infinitamente superior - que esse filósofo tivesse escrito sobre assuntos escabrosos!
Ega atirou os braços ao ar, consternado:
- Oh! Sr. Sousa Neto! Então V. Exa, um chefe de família, acha o amor um assunto escabroso?
O Sr. Neto encordoou. E muito direito, muito digno, falando do alto da sua considerável posição burocrática:
- É meu costume, sr. Ega, não entrar nunca em discussões, e acatar todas as opiniões alheias, mesmo quando elas sejam absurdas...
(...)
- E V. Exa de que gostou mais, de Paris ou de Londres?
Carlos realmente não sabia, nem se podia comparar... Duas cidades tão diferentes, duas civilizações tão originais...
- Em Londres - observou o conselheiro - tudo carvão...
Sim, dizia Carlos sorrindo, bastante carvão sobretudo nos fogões, quando havia frio...
O Sr. Sousa Neto murmurou:
- E o frio deve ser sempre ali considerável... Clima tão ao norte!...
Esteve um momento mamando o charuto de pálpebra cerrada. Depois, fez esta observação sagaz e profunda:
- Povo prático, povo essencialmente prático.
-Sim, bastante prático - disse vagamente Carlos, dando um passo para a sala, onde se sentiam as risadas cantantes da baronesa.
- E diga-me outra coisa - prosseguiu o sr. Sousa Neto, com interesse, cheio de curiosidade inteligente. - Encontra-se por lá, em Inglaterra, desta literatura amena, como entre nós, folhetinistas, poetas de pulso?...
Carlos deitou a ponta do charuto para o cinzeiro, e respondeu, com descaro:
- Não, não há disso.
- Logo vi - murmurou Sousa Neto. - Tudo gente de negócio.
(...)
Carlos e Ega foram os derradeiros a sair, depois de um brandy and soda, de que a condessa partilhou, como inglesa forte. E em baixo, no pátio, acabando de abotoar o paletó, Carlos pôde enfim soltar a pergunta que lhe faiscara nos lábios toda a noite:
- Ó Ega, quem é aquele homem, aquele Sousa Neto, que quis saber se em Inglaterra havia também literatura?
Ega olhou-o com espanto:
- Pois não adivinhaste? Não deduziste logo? Não viste imediatamente quem neste país é capaz de fazer essa pergunta?
- Não sei... Há tanta gente capaz...
E o Ega radiante:
- Oficial superior de uma grande repartição do Estado!
- De qual?
- Ora de qual! De qual há-de ser?... Da Instrução Pública!



in Os Maias, cap. XII



Imagem original de www.rvj.pt.

terça-feira, outubro 03, 2006

Mais um bocadinho de Dylan

Hello. Mais um bocadinho do mesmo para quem gostar...