It takes two to tango

Quantas vezes a vida não parece mais estranha do que a ficção? Isso é porque toda a ficção se inspira directamente na vida! É porque somos todos medricas que costumamos optar pela ficção. Só que este blog vai optar pela vida... ou algo assim...

quinta-feira, março 30, 2006

Igrejas sempre fechadas!


Eu nem católico sou, na medida em que a igreja é uma organização e que todas as organizações, na procura de se dirigirem numa só direcção, sem quaisquer linhas de fuga nem direito real à individualidade, acabam por se me afigurar burras ou, pelo menos, potenciadoras da burrice.
Mas confesso que uma igreja vazia de crentes e cânticos de má qualidade é um local onde gosto de, por vezes, me sentar e permanecer um bocado, imerso nos meus pensamentos, enquanto a confusão corre mesmo ali à beira, extra-muros.
Leva-me isso a uma interrogação que tantas e tantas vezes me tenho colocado: porque diabo é que as igrejas, exceptuando-se as horas da missinha e outras cerimónias, se encontram sempre, sempre de portões pesada e teimosamente cerrados? Será dessa forma que as altas instâncias da igreja visam captar gente e cumprir a sua pretensa missão? Ou será que, como qualquer organização, só sorriem diante de manifs e ajuntamentos e tudo o resto lhes passa ao lado?

quarta-feira, março 29, 2006

Mentirosos anónimos


Quem serão e atrás de que sorriso se esconderão os autores de tantas cartas e, por vezes, telefonemas anónimos para a DREN (Direcção Regional de Educação do Norte) e, possivelmente, outras DREs, nas quais se cultiva a mais abjectamente pusilânime calúnia, de que ultimamente ouço falar e tenho, por vezes, o desprazer de ler?
Para já, perante os esclarecimentos mais que óbvios dos potenciais atingidos, tem-se dado a situação razoável de a DREN arquivar os casos. Mas quando se instaurará a primeira queima de bruxas?


Imagem de www.poster.net.

segunda-feira, março 27, 2006

Poéticas...


Tenho vindo a acompanhar atentamente as Breves Notas para uma Poética da Terminologia, de Jorge Melícias, no sempre interessante Da Literatura. Na sétima edição das mesmas, deparei com este poema, servindo como exemplo do que a poesia, para o poeta e autor, deve ser:


Consideremos o crime:
o modo como a navalha dele extrai
a própria mutação.
Porque todo o objecto aspira
a exceder a sua exactidão. A devir.


Afirma Jorge Melícias, estabelecendo a comparação com um outro poema que o antecede, no qual, de algum modo, se estabelece a tão recorrente ligação entre a representação artística e a memória: No primeiro exemplo o poema aproxima-se, ainda, de um anacrónico acto de genuflexão, de uma derradeira tentativa de absolvição da/pela memória. O uso de uma certa domesticidade para isso concorre e, embora esbatido, um tom melancólico é ainda perceptível. Estamos no domínio da afinidade emocional, do facilmente reconhecível e partilhável. Ao leitor é subtraída responsabilidade de maior no que respeita à interpretação, pela simples razão de que essa emotividade à flor da pele é, já em si, uma interpretação. Porque o poema chegou-nos, directamente, ao coração. E cristalizou.
Vejamos, de seguida, o segundo exemplo. Estou convicto de que só através da interpretação este poema poderá chegar ao leitor. Aqui o reconhecimento é uma conquista, não um dado adquirido. O sentir o poema vem (se vier) no fim. Antes terá que haver todo um trabalho de "botânica", de desconstrução e reconstrução do sentido.

Não pretendo estabelecer aqui qualquer espécie de “luta teórica em defesa das damas Memória e Sentimento (sensação)”, pelo simples facto de que creio que o autor facilmente me esmagaria com citações e outras coisas aparentemente óbvias, armadilhas naturais do intelecto puro, mas apenas tentar trazer o que gostaria de poder considerar algum equilíbrio ao debate…
Não é, de forma alguma, necessário ficarmo-nos nos “clássicos” – e “clássicos” pode, actualmente, significar expressões relativamente recentes. Sejamos um pouco transdisciplinares e encaremos outros meios da expressão dita artística… A música, por exemplo: a música dita concreta (não indo tão longe, porventura, que chegue à música electrónica ou a Jorges Peixinhos – porque todas as modalidades têm muitas correntes e extremamente diversas entre si), a dodecafonia, o minimalismo até… Em todos os seus melhores exemplos (e isto é, como sempre, uma opinião pessoal), em toda a contemporaneidade musical, deparamos com temas sem conta que, para lá do trabalho da escrita e do som, nos comunicam algo de imediato. Beleza, violência, todo o tipo de sentimentos por nós vivenciados – e não perdem em modernidade por isso. O mesmo sucede com a pintura… Do mais puro abstraccionismo pode brotar – e brota, certamente – um sem-número de sensações imediatas que nos captam e eventualmente nos levam a pretender ir mais longe, a compreender as camadas que se escondem sob aquilo que primeiramente é transmitido, sendo que o que é transmitido é suficientemente polissémico para ser apercebido de formas tão diversas quanto o número de espectadores; e mais, porque o próprio espectador sofre todo o tipo de flutuações. Compreender a técnica, interpretá-la, intuir e racionalizar sentidos, trata-se de atitudes que se vêm colocar em algum lugar além da imagem primeira. Também a arquitectura, aquela arquitectura que se possa efectivamente considerar como possuindo uma forte componente criativa, inclusive, vive em mais do que uma camada de leituras possíveis.
Tudo isto para debater questões estéticas… E, que diabo, não há nada mais subjectivo do que isso! Sim, eu sei, conheço bem a história do distanciamento, a observação absolutamente desencantada, a análise clínica do objecto em ambiente desinfectado, mas não será essa postura: a) anacrónica e datada, ela mesma; b) a negação teórica da função primeira da arte, a qual é, considero, a expressão viva do espírito humano nas vertentes possíveis? É que “We are the Robots” é um tema dos Kraftwerk, de que, aliás, gosto dentro da sua estética particular, mas não uma realidade humana maior (se é que me é permitido falar em lá o que seja essa coisa da “realidade humana maior”)…
Numa palavra, não acredito na funcionalidade e perenidade de formas de expressão artística que neguem a própria natureza de quem as gera: seres humanos, complexos poços de memórias passadas, presentes e futuras, transmissores e receptores natos de sensações que cada um pode reconhecer como suas (independentemente do abismo que possa mediar entre a intenção, também ela provavelmente dúbia, do criador e a leitura do receptor). Não compreendo que se extermine a camada primeira e mais obviamente necessária do objecto artístico, aquela onde se derrama e fervilha a seiva da existência, em nome de alguma obscuridade aparentemente mais trabalhada. Concordo que a estética do dia-a-dia com todo o seu cortejo de banalidades se estabeleceu momentaneamente e que o trabalho da linguagem – regressamos, aqui, à linguagem poética – passa, quantas vezes, para um plano secundário. Mas acredito que a força, a memória, sim, a memória, a capacidade de chegar directamente ao âmago humano, são essenciais no objecto artístico. Como acredito que o trabalho da linguagem é essencial. E a subjectividade. E a polissemia. O todo, todo o todo possível. É como a diferença entre um móvel apelativo e um móvel feito, digamos, por alguém como eu! Agora, a ausência de emoção (numa atitude esteticamente forçada, porque não natural), qualquer tipo de emoção, sem categorizações morais ou outras que passam, antes de mais, por noções sociais e não necessariamente artísticas, perde, penso eu, o poema, o romance, a composição, a tela, para a eternidade. Ou antes, quinze minutos decorridos, já ninguém pensa muito nisso…
Não tenciono transformar o It Takes Two num palanque para debate da teoria da estética… Precisava, simplesmente, de dizer isto. Porque gosto pouco do tipo de atitude que transforma todo o passado numa inutilidade. O futuro, pelo contrário, está muitas vezes de algum modo presente no passado. E vice-versa. Bolas, desgostam-me as atitudes estanques, embora também tenha, claro está, as minhas antipatias! Mas desgostam-me. Porque acho que o que tem qualidade tem sempre qualidade e que a moda é mais coisa dos críticos de jornal e das empresas.
E, depois de todo este relambório que espero que não vos tenha aborrecido, não deixem de visitar o Da Literatura. Vale sempre a pena.


Imagem de http://academics.smcvt.edu. (tela de Pollock)

domingo, março 26, 2006

Breves dos humanos estranhos


O afegão Abdul Rahman, prisioneiro nos calabouços do país por se ter convertido ao cristianismo, enfrenta a possibilidade da execução. Embora o presidente Hamid Karzai (marioneta dos norte-americanos na óptica de alguns) tenha vindo a procurar a sua libertação, o facto é que tem que se enfrentar com tribunais extremamente conservadores e ainda com uma opinião pública que parece aprovar largamente a execução. Ainda não vi, na net, nenhuma daquelas petições (justas) que tantas vezes acompanham estes casos, nomeadamente quando se trata de africanas sujeitas a tradições tribalistas...

Na Arábia Saudita, onde a separação de sexos é tida por vital, o governo ordenou que as revistas de lingerie feminina terão que proceder ao despedimento de todos os seus funcionários masculinos com data limite de 19 de Junho (o que, na prática, significa todos os funcionários), devendo os lugares passar a ser ocupados por mulheres - devidamente cobertas dos pés à cabeça, naturalmente; nada de se lhes ver a lingerie!

O comprador do cavalo alemão Vedor pagou apenas 400 euros pelo animal, em lugar dos 4000 euros pedidos, alegando faltar ao animal, que não terá coberto eficazmente uma fêmea, um testículo. O tribunal, que acabou por encontrar o testículo alegadamente ausente, decretou que o comprador terá que desembolsar a totalidade do preço. E que lhe dar regularmente Viagra!

A Confap pretende que as associações de pais passem a ser uma espécie de empresas privilegiadas de utilidade pública. De acordo com novas propostas do governo Sócrates, estas associações poderão passar a gozar de mais isenções fiscais e tarifas reduzidas, além de passarem a gozar da lei do mecenato no tocante a donativos, de poderem "participar na elaboração e acompanhamento dos planos e programas nacionais, regionais e locais de educação (...) e solicitar junto dos órgão de administração central, regional e local as informações que lhes permitam acompanhar a definição e execução da política da educação". Terão ainda direito a tempo de antena nas televisões e rádios públicas, além de que poderão contrariar livremente a "batalha da produção", faltando legalmente, ainda que com limite, nos seus locais de trabalho, para comparecer a reuniões.
Mas bem diz o povo: dá-se-lhe a mão e fica com o braço. Em entrevista ao jornal Público, a actual presidente da Confap, Maria José Viseu, afirma pretender livre entrada nas escolas a qualquer hora do dia, armários próprios para as associações, a equiparação às Instituições Particulares de Solidariedade Social (implicando taxas mais baixas para a Segurança Social) e ainda receber convites das escolas para festas ou, simplesmente, para escutar da boca dos directores de turma que "tudo vai bem".
Quem me dera ser uma associação de pais!... Mas aproveito para aqui deixar uma interrogação que muitas vezes me coloco e que sempre me deixa perplexo: por que razão podem alunos e pais apresentar queixa dos docentes às Direcções Regionais de Educação mas, simultaneamente, os professores não se podem queixar de alunos e pais às mesmas instituições?

Por fim e já que falamos de escolas, uma professora britânica bateu com a porta e exigiu, na barra do tribunal, uma indemnização à escola onde trabalhou. Motivo para o litígio: a escola deu-lhe uma cadeira que rangia e não a substituiu. Na óptica da professora (ou dos seus advogados, raça interessante), tratou-se de um comportamento "sexista e discriminatório".


Imagem de www.mr-bill.de.

Escoceses violam leis anti-tabaco


A partir das seis da manhã de hoje, por decreto do governo escocês, passou a ser proibido fumar em bares, restaurantes e locais de trabalho, sob pena de pesadas multas para os prevaricadores.
Segundo uma sondagem realizada pela BBC, uma fatia considerável dos fumadores escoceses, a quem a nicotina não arranca um pingo da personalidade que caracteriza os habitantes, propõe-se desrespeitar a nova lei.
Tendo em conta a natureza absolutamente restritiva, género lei-seca, destas leis, acho muito bem. É preciso que nem todos sejamos carneiros e saibamos mostrar claramente aos políticos que dos seus gabinetes vão emanando bitaites de carácter obrigatório, que ninguém realmente lhes concede poderes para fazerem o que bem lhes der na telha, como muito bem lhes der na telha. Palavras de um cidadão de um país em que a população acaba por provocar as piores leis em consequência de, tantas e tantas vezes, já começar a dá-las por certas antes mesmo de alguém em S. Bento as ter sequer imaginado...


Imagem de www.itccorporate.com.

sábado, março 25, 2006

Telemarketing num acto


Camilo fecha as torneiras, sai cuidadosamente do duche, retira a toalha azul do suporte e principia a secar-se. A música na sala já se calou, o que significa que passou tempo demais na banheira, mau em tempos de crise e ecologicamente incorrecto. Mas, que diabo, há que ter alguns prazeres... Seca as orelhas relaxadamente. Subitamente, escuta-se o toque do telefone. Ora bolas! Mas nunca se sabe se pode ser importante... Embrulha-se na toalha e corre para o aparelho.

Camilo - Estou?
Voz (pingando sorrisos de tonalidades várias) - Bom dia! Estou a falar com o proprietário da casa?
Camilo - Hã, sim...
Voz - Tenho o prazer de falar com o senhor...?
Camilo (após uma breve hesitação) - Desculpe, quem fala?
Voz - Tenho a honra de falar com o senhor Camilo Peçonha?
Camilo (surpreendido) - Hã, sim, mas...
Voz - Espero que esteja a ter um dia fantástico! Ligo-lhe para lhe dar os parabéns!
Camilo - Não é o meu aniversário...
Voz - Pretendo transmitir-lhe os meus mais sinceros parabéns por ter sido escolhido, numa amostragem de centenas de pessoas, para ser o nosso feliz contemplado com um brinde fantástico!
Camilo - Desculpe, mas...
Voz - Somos uma multinacional de renome, presentemente em fase de implantação neste belíssimo país, e o senhor foi seleccionado para ser o primeiro a tomar contacto com os nossos produtos exclusivos e ainda receber, gratuitamente, um brinde fantástico!
Camilo - Desculpe, mas o meu número é privado. Como o conseguiu?
Voz - É certo que se sente muito feliz por assim ter acesso exclusivo a esta oportunidade única! A que horas poderei visitá-lo para o presentear com uma demonstração absolutamente exclusiva?
Camilo - A que...? Desculpe, mas não tenho tempo.
Voz (rindo) - Alguém com as capacidades do senhor sabe que o tempo faz-se! De manhã, à tarde, à noite, inclusive de madrugada, tenho o máximo prazer em o cumprimentar pessoalmente!
Camilo - Ouça... Não estou interessado.
Voz (rindo de novo) - Como pode não estar interessado se nem conhece ainda a nossa oportunidade única?
Camilo - Eu...
Voz - Claro que está interessado em receber, gratuitamente, um prémio de um valor fantástico! A senhora da casa está?
Camilo (friamente) - Sou divorciado.
Voz - Normalmente, gostamos de conhecer a senhora da casa... Mas temos o máximo prazer em lhe garantir que, no seu caso particular, especial, único e exclusivo, tal não constituirá qualquer espécie de impedimento, bem pelo contrário! Daqui a dez minutos, poderei ter o prazer de o cumprimentar pessoalmente?
Camilo - Já disse que...
Voz - Pois ficamos extremamente felizes por o encontrar tão receptivo! Até já!
Camilo (contendo um pouco a irritação) - Mas se já lhe disse que não estou interessado!
Voz - Como não está interessado? Foi escolhido entre milhares de portugueses dos extractos superiores para receber, num absoluto exclusivo inteiramente gratuito, um maravilhoso brinde, único e fantástico!
Camilo - Vou desligar.
Voz - Constitui para nós uma alegria imensa encontrá-lo assim receptivo à nossa oferta e posso garantir-lhe que não se arrependerá!
Camilo - Caramba, você não ouve nada! Não estou interessado, vou agora mesmo sair e não tenho tempo nenhum!
Voz - Precisamente! O tempo é você que o faz! Os meus mais sinceros parabéns! Estarei aí em dez minutos e estou duzentos por cento certo de que , ainda hoje, todos os seus amigos, familiares e conhecidos estarão a morrer de inveja de si!
Camilo - Bom, com licença, vou mesmo desligar...
Voz - Então, até já! Sinceros parabéns!
Camilo (visivelmente irritado) - Com licença!

Pousa o auscultador energicamente. Malditas vendas por telefone! Regressa ao quarto de banho onde o vapor já se dissipou e recomeça a secar-se. Veste-se. Penteia-se. Toca a campainha. E agora, quem diabo será mais?

Voz (agora com um rosto de onde sobressai inteiramente o sorriso, estendendo firmemente a mão) - Muito bom dia e uma vez mais os meus mais sinceros parabéns! (estica o pescoço para o interior da casa) Posso entrar?
Camilo (espantado por o ver entrar antes sequer de obter resposta) - Ouça, senhor...?
Voz (irrompendo já pela sala de estar contígua) - Ora muito bem, excelente, excelente!
Camilo (segurando a porta da saída) - Caro senhor, agradeço-lhe que se retire!
Voz (enquanto despeja na carpete uma quantidade considerável de bugigangas, cuja utilidade real não se compreende) - Peço-lhe, então, senhor Camilo Peçonha, que me empreste a sua atenção máxima, uma vez que toda a sua futura felicidade, todo o seu futuro bem-estar, dependerão das opções que agora realizar!
Camilo (cada vez mais exaltado) - Quer fazer o favor de se retirar? Já lhe disse vezes sem conta que não estou interessado!
Voz - É assim mesmo, senhor Camilo Peçonha! Aprecio sempre alguém que, como o senhor, vai à luta, sabe o que interessa, reconhece as oportunidades e as agarra com unhas e dentes! O senhor é especial!
Camilo (dirigindo-se para o telefone) - Vou chamar a polícia... Que é isto? O telefone não funciona?
Voz - Tenho o maior prazer em lhe anunciar que tomámos a liberdade de lhe desligar o telefone para que nada de menos importante o possa distrair da verdadeiramente fantástica oportunidade a que o senhor Camilo Peçonha, seleccionado entre milhões de portugueses, tem a felicidade de ter acesso!
Camilo (aproximando-se com ar ameaçador) - Eu não costumo recorrer à violência, mas...!
Voz (desviando-se elasticamente e agarrando um saco cheio de pó, cujo conteúdo espalha sobre o sofá, a poltrona, a mesa e a carpete) - Faz muito bem em não ser violento, caro senhor Camilo Peçonha! Só a verdadeira inteligência conquista o mundo! Congratulo-me imensamente por verificar que é inteligente e conquistador!
Camilo (levando as mãos à cabeça, em atitude de desespero) - Que é que me fez à sala?
Voz (pegando num martelo e escavacando metodicamente o ecrã do televisor e os vidros da porta que dá para uma pequena varanda) - Nunca, senhor Camilo Peçonha, irá o senhor esquecer este momento inolvidável! O momento absolutamente único em que constatará a total eficácia do nosso produto e o valor incalculável do brinde exclusivo que para si reservámos!
Camilo (quase saltando no lugar) - É demais! Faça o que quiser! Vou-me embora! (dirige-se para a porta) Que é isto? A porta não abre?
Voz - Tenho o maior prazer em lhe anunciar, senhor Camilo Peçonha, que lhe encravámos momentaneamente a porta, para que nada de menor importância o possa distrair da fantástica demonstração a que seguidamente assistirá e que o deixará estarrecido por muito e muito tempo!
Camilo (lançando-se à voz de punhos fechados) - É demais!
Voz (desviando-se elasticamente e derramando líquido radioactivo sobre os móveis da sala) - Que alegria! Não é todos os dias que tenho o prazer imenso de contactar com alguém dotado de uma mente superior, como é o caso do senhor Camilo Peçonha! Sinceros, muito sinceros parabéns!
Camilo (frustrado e irritado) - Bolas! Mas, afinal, de que manicómio é que você se escapou?

Instala-se um breve silêncio. A Voz torna-se lúgubre.

Voz - Não há necessidade de recorrer a insultos! Achamos que ajudamos os outros e depois é... sempre isto! Ofereço-lhe a oportunidade de uma vida, uma oportunidade pela qual milhares de milhões de portugueses se bateriam e responde-me dessa forma?
Camilo (frisando cada sílaba) - Não estou interessado!
Voz (dirigindo-se à porta, numa postura muito erecta, com uma expressão de profunda e grave ofensa) - Julguei-o muito mal! Trata-se de alguém que não demonstra o mínimo respeito pelos outros! Muito bom dia!

Retira-se, fechando solidamente a porta atrás de si e some-se escadas abaixo. Camilo demora-se uns instantes, mudo e paralisado, a olhar para a sua sala de estar, o pó espalhado, os vidros escaqueirados, o líquido radioactivo derramado... Subitamente, corre para a porta, voa para o corrimão e lança, para o fundo das escadas, onde a Voz já chegou...

Camilo - Espere! E o brinde fantástico que me prometeu?
Voz (afastando-se) - O brinde, reservamo-lo para os nossos clientes, perspicazes e merecedores! Muito bom dia!

Fecha-se a porta da rua. Camilo, regressa à sala e percorre-a silenciosamente, de braços atrás das costas. Seguidamente, vai-se deitar de novo, esperando poder vir a acordar de um daqueles pesadelos absurdos que, obviamente, nada têm a ver com a vida real...


Imagem de www.fishtank.org.uk.

quinta-feira, março 23, 2006

Chuva e poesia

Como a chuva nunca mais se esgota nesta primavera adiada de 2006, aqui segue um tríptico poético para quem gostar de ler. Sobre a chuva, naturalmente!







Chuva Oblíqua

I
Atravessa esta paisagem o meu sonho dum porto infinito
E a cor das flores é transparente de as velas de grandes navios
Que largam do cais arrastando nas águas por sombra
Os vultos ao sol daquelas árvores antigas...
O porto que sonho é sombrio e pálido
E esta paisagem é cheia de sol deste lado...
Mas no meu espírito o sol deste dia é porto sombrio
E os navios que saem do porto são estas árvores ao sol...
Liberto em duplo, abandonei-me da paisagem abaixo...
O vulto do cais é a estrada nítida e calma
Que se levanta e se ergue como um muro,
E os navios passam por dentro dos troncos das árvores
Com uma horizontalidade vertical,
E deixam cair amarras na água pelas folhas uma a uma dentro...
Não sei quem me sonho...
Súbito toda a água do mar do porto é transparente
e vejo no fundo, como uma estampa enorme que lá estivesse desdobrada,
Esta paisagem toda, renque de árvore, estrada a arder em aquele porto,
E a sombra duma nau mais antiga que o porto que passa
Entre o meu sonho do porto e o meu ver esta paisagem
E chega ao pé de mim, e entra por mim dentro,
E passa para o outro lado da minha alma...

II


Ilumina-se a igreja por dentro da chuva deste dia,
E cada vela que se acende é mais chuva a bater na vidraça...
Alegra-me ouvir a chuva porque ela é o templo estar aceso,
E as vidraças da igreja vistas de fora são o som da chuva ouvido por dentro...
O esplendor do altar-mor é o eu não poder quase ver os montes
Através da chuva que é ouro tão solene na toalha do altar...
Soa o canto do coro, latino e vento a sacudir-me a vidraça
E sente-se chiar a água no fato de haver coro...
A missa é um automóvel que passa
Através dos fiéis que se ajoelham em hoje ser um dia triste...
Súbito vento sacode em esplendor maior
A festa da catedral e o ruído da chuva absorve tudo
Até só se ouvir a voz do padre água perder-se ao longe
Com o som de rodas de automóvel...
E apagam-se as luzes da igreja
Na chuva que cessa...

III


A Grande Esfinge do Egito sonha pôr este papel dentro...
Escrevo - e ela aparece-me através da minha mão transparente
E ao canto do papel erguem-se as pirâmides...
Escrevo - perturbo-me de ver o bico da minha pena
Ser o perfil do rei Quéops...
De repente paro...
Escureceu tudo... Caio por um abismo feito de tempo...
Estou soterrado sob as pirâmides a escrever versos à luz clara deste candeeiro
E todo o Egito me esmaga de alto através dos traços que faço com a pena...
Ouço a Esfinge rir por dentro
O som da minha pena a correr no papel...
Atravessa o eu não poder vê-la uma mão enorme,
Varre tudo para o canto do teto que fica por detrás de mim,
E sobre o papel onde escrevo, entre ele e a pena que escreve
Jaz o cadáver do rei Queóps, olhando-me com olhos muito abertos,
E entre os nossos olhares que se cruzam corre o Nilo
E uma alegria de barcos embandeirados erra
Numa diagonal difusa
Entre mim e o que eu penso...
Funerais do rei Queóps em ouro velho e Mim!...

IV


Que pandeiretas o silêncio deste quarto!...
As paredes estão na Andaluzia...
Há danças sensuais no brilho fixo da luz...
De repente todo o espaço pára...,
Pára, escorrega, desembrulha-se...,
E num canto do teto, muito mais longe do que ele está,
Abrem mãos brancas janelas secretas
E há ramos de violetas caindo
De haver uma noite de Primavera lá fora
Sobre o eu estar de olhos fechados...

V


Lá fora vai um redemoinho de sol os cavalos do carroussel...
Árvores, pedras, montes, bailam parados dentro de mim...
Noite absoluta na feira iluminada, luar no dia de sol lá fora,
E as luzes todas da feira fazem ruídos dos muros do quintal...
Ranchos de raparigas de bilha à cabeça
Que passam lá fora, cheias de estar sob o sol,
Cruzam-se com grandes grupos peganhentos de gente que anda na feira,
Gente toda misturada com as luzes das barracas, com a noite e com o luar,
E os dois grupos encontram-se e penetram-se
Até formarem só um que é os dois...
A feira e as luzes das feiras e a gente que anda na feira,
E a noite que pega na feira e a levanta no ar,
Andam por cima das copas das árvores cheias de sol,
Andam visivelmente por baixo dos penedos que luzem ao sol,
Aparecem do outro lado das bilhas que as raparigas levam à cabeça,
E toda esta paisagem de primavera é a lua sobre a feira,
E toda a feira com ruídos e luzes é o chão deste dia de sol...
De repente alguém sacode esta hora dupla como numa peneira
E, misturado, o pó das duas realidades cai
Sobre as minhas mãos cheias de desenhos de portos
Com grandes naus que se vão e não pensam em voltar...
Pó de oiro branco e negro sobre os meus dedos...
As minhas mãos são os passos daquela rapariga que abandona a feira,
Sozinha e contente como o dia de hoje..

VI


O maestro sacode a batuta,
E lânguida e triste a música rompe...
Lembra-me a minha infância, aquele dia
Em que eu brincava ao pé de um muro de quintal
Atirando-lhe com uma bola que tinha dum lado
O deslizar dum cão verde, e do outro lado
Um cavalo azul a correr com um jockey amarelo...
Prossegue a música, e eis na minha infância
De repente entre mim e o maestro, muro branco,
Vai e vem a bola, ora um cão verde,
Ora um cavalo azul com um jockey amarelo...
Todo o teatro é o meu quintal, a minha infância
Está em todos os lugares, e a bola vem a tocar música,
Uma música triste e vaga que passeia no meu quintal
Vestida de cão tornando-se jockey amarelo...
(Tão rápida gira a bola entre mim e os músicos...)
Atiro-a de encontro à minha infância e ela
Atravessa o teatro todo que está aos meus pés
A brincar com um jockey amarelo e um cão verde
E um cavalo azul que aparece por cima do muro
Do meu quintal... E a música atira com bolas
À minha infância... E o muro do quintal é feito de gestos
De batuta e rotações confusas de cães verdes
E cavalos azuis e jockeys amarelos...
Todo o teatro é um muro branco de música
Por onde um cão verde corre atrás de minha saudade
Da minha infância, cavalo azul com um jockey amarelo...
E dum lado para o outro, da direita para a esquerda,
Donde há arvores e entre os ramos ao pé da copa
Com orquestras a tocar música,
Para onde há filas de bolas na loja onde comprei
E o homem da loja sorri entre as memórias da minha infância...
E a música cessa como um muro que desaba,
A bola rola pelo despenhadeiro dos meus sonhos interrompidos,
E do alto dum cavalo azul, o maestro, jockey amarelo tornando-se preto,
Agradece, pousando a batuta em cima da fuga dum muro,
E curva-se, sorrindo, com uma bola branca em cima da cabeça,
Bola branca que lhe desaparece pelas costas abaixo...

(Fernando Pessoa)






Enquanto a chuva cai

A chuva cai. O ar fica mole . . .
Indistinto . . . ambarino . . . gris . . .
E no monótono matiz
Da névoa enovelada bole
A folhagem como o bailar.

Torvelinhai, torrentes do ar!

Cantai, ó bátega chorosa,
As velhas árias funerais.
Minh'alma sofre e sonha e goza
À cantilena dos beirais.

Meu coração está sedento
De tão ardido pelo pranto.
Dai um brando acompanhamento
À canção do meu desencanto.

Volúpia dos abandonados . . .
Dos sós . . . — ouvir a água escorrer,
Lavando o tédio dos telhados
Que se sentem envelhecer . . .

Ó caro ruído embalador,
Terno como a canção das amas!
Canta as baladas que mais amas,
Para embalar a minha dor!

A chuva cai. A chuva aumenta.
Cai, benfazeja, a bom cair!
Contenta as árvores! Contenta
As sementes que vão abrir!

Eu te bendigo, água que inundas!
Ó água amiga das raízes,
Que na mudez das terras fundas
Às vezes são tão infelizes!

E eu te amo! Quer quando fustigas
Ao sopro mau dos vendavais
As grandes árvores antigas,
Quer quando mansamente cais.

É que na tua voz selvagem,
Voz de cortante, álgida mágoa,
Aprendi na cidade a ouvir
Como um eco que vem na aragem
A estrugir, rugir e mugir,
O lamento das quedas-d'água!

(Manuel Bandeira)




Casa na chuva

A chuva,outra vez a chuva sobre as oliveiras.

Não sei por que voltou esta tarde

se minha mãe já se foi embora,

já não vem à varanda para a ver cair,

já não levanta os olhos da costura

para perguntar:Ouves?

Oiço,mãe,é outra vez a chuva,

a chuva sobre o teu rosto.

(Eugénio de Andrade)


Imagens de http://users.med.up.pt, www.astormentas.com e http://www.engenhoearte.blogger.com.br.

segunda-feira, março 20, 2006

Caso concreto dos novos concursos de professores


Ok, já todos sabem que sou professor e eu sei que, graças à campanha orquestrada nos últimos anos pelos sucessivos governos, com a ajuda inestimável da comunicação social, no que estou a incluir os sabe-tudo bem pagos a que chamam "fazedores de opiniões", um bom número de vós, pelo menos um bom número de gente por vós conhecida, acha tudo de mal dos professores, o que é um disparate pegado, mas a vida também é feita de disparates pegados.
Por isso, o que vou aqui apresentar, se é que interessa a alguém, é um caso muito concreto. Não me queixarei dos salários para que vocês não se queixem de volta. Não me queixarei das condições de trabalho para que vocês não se queixem de volta. Não me queixarei do facto de toda a gente achar que pode meter o bedelho no meu local de trabalho para que vocês não se queixem de volta. Sim... Eu tenho a perfeita noção de que todos vós estais muitíssimo pior do que eu, calaceiro-mor, incompetente e corporativista que é necessário meter na ordem! O que aqui tenho é, pois, um humilde caso concreto...

Tenho, até agora (apesar de ter tirado o curso de Estudos Franceses e Ingleses, que existe desde meados dos anos 70) leccionado por obrigação no grupo 8º B (21), que corresponde às disciplinas de Português e Francês nos 3º Ciclo e Secundário. Bom, já estou habituado, tudo bem... Este ano, porém, o ministério decidiu alterar as regras do jogo, sendo que devo escolher apenas uma disciplina para leccionar. Como, com toda a sinceridade, não me vejo prisioneiro do Português (que nunca escolhi - o que não significa "para o qual não possuo conhecimentos", façam o favor de notar) para o resto da vida, pensei optar pelo Francês. Ensino-o melhor e com mais gosto, o que se reflecte, de igual modo, nos meus alunos.

Ora, consultando o manual disponibilizado no site do ministério, verifiquei na página 8 de 71, que ao grupo 21 (o meu) é atribuído o novo código 320, correspondente à disciplina de Francês.
Mais adiante, entretanto, na página 9 do manual, lê-se no ponto 7.1.: Os candidatos pertencentes aos quadros dos antigos grupos de docência 8ºA (Português, Latim e Grego) e 8º B (Português e Francês) devem reportar-se ao grupo de Português, código 300.
Mais à frente ainda, no ponto 7.3., segue-se isto: Os candidatos pertencentes aos quadros, titulares de cursos cuja designação integra combinatórias disciplinares não coincidentes com a designação do antigo grupo de docência, devem reportar-se ao grupo de recrutamento correspondente à disciplina para a qual possuem estágio pedagógico, tendo em atenção o referido nos pontos 7.1., 7.2. e capítulo III do aviso de abertura do concurso.

Entenderam alguma coisa? Eu não. Parece que ninguém. E parece também que, quando a pergunta é colocada à DGHRE, nos mandam reportarmo-nos ao ponto 7.1. do manual. Faz-me lembrar aquela aventura do Astérix em que o mandam compulsivamente de um lado para o outro, até que o caso acaba por ser imediatamente resolvido com uns sopapos...
Em todo o caso, como o site disponibiliza um serviço de email para resolução de dúvidas, acabei por enviar-lhes a minha. O limite de caracteres é 500. Agora, tentem, sinceramente, expôr o presente em 500 caracteres... Andam a gozar com a malta!

Já agora, se alguém souber de fonte certa, gostaria que me esclarecesse... Ouvi dizer que o célebre presidente das Associações de Pais, o Albino não-sei-quê, sim, aquele que emite faíscas sulfurosas pelos olhos, ouvidos e narinas quando fala dos professores, foi convidado para trabalhar com o Valter Lemos, sim, o secretário de Estado da Educação que não conseguiu provar que não perdeu um mandato político por excesso de faltas.
Se alguém o puder confirmar, não é que eu seja masoquista, mas gostaria de saber...

Maldito Alzheimer!

Foto



Um dia, este índio vai morrer afogado dentro de um poço de petróleo...

quinta-feira, março 16, 2006

En attendant le corbeau

Um ermo desolado. Sentado sobre uma das incontáveis pedras que preenchem o espaço, um homem gasta o tempo calçando e descalçando as meias, esburacadas junto ao dedo grande e na zona do calcanhar. É sobrevoado por um corvo cujas penas vibram ao sol forte em reflexos de negro azulado. A ave solta um grito que se perde na distância. Muito lentamente, o homem pousa uma meia e ergue o olhar em sua direcção...

Homem 1 - Olha! Já passou... (coça a barba mal feita no queixo) Não valeria a pena atingi-lo com uma fisga, porque não tenho nenhuma. E as meias não chegariam lá. E, se chegassem, é possível que ele se esgueirasse entre os buracos.

Surge um segundo homem, fixa o primeiro com alguma surpresa, inclina-se sobre ele, coça a barriga, reergue-se e, cruzando os braços, exclama...

Homem 2 - Olá! Parece que não estamos sós!
Homem 1 (olhando-o de esguelha) - Sente-se! O deserto é vasto...
Homem 2 (sentando-se sobre um calhau próximo) - Como é que sabe que pode confiar em mim?
Homem 1 (com expressão distante) - Nunca afirmei que podia.
Homem 2 - Posso ser um ladrão. Ou um assassino. Ou um fiscal. Ou um agente de seguros. Ou um banqueiro. Ou um político...

O primeiro homem, incomodado, desliza para outra rocha, mais adiante.

Homem 2 - Ó homem! Está a fugir? Era uma brincadeira!
Homem 1 (reticente) - Sou um homem sério. O que é uma brincadeira?
Homem 2 (admirado, sentando-se numa rocha mais próxima do primeiro) - Não sabe? Que diabo! Deve ser por isso que não tem ninguém com quem conversar...
Homem 1 (escapando-se mais dois calhaus para o lado) - Faz parte de se ser adulto, entende? Não brincar. Muito riso, pouco siso, nunca ouviu?
Homem 2 (aproximando-se dois calhaus) - Não gosta de uma boa anedota?
Homem 1 (indo novamente sentar-se dois calhau depois) - Nunca me consigo lembrar de nenhuma... Mas acho que já me devo ter rido...
Homem 2 (voltando a aproximar-se) - Então, eu conto-lhe uma!
Homem 1 (num suspiro resignado) - Seja...
Homem 2 (depois de pensar uns momentos) - Não. Infelizmente não me consigo lembrar de nenhuma... Deve ser do ar do deserto...

O primeiro homem chega-se para o lado, mas encontra um espaço sem calhaus e cai no chão com estardalhaço. O segundo aproxima-se e estende-lhe a mão.

Homem 1 (subitamente apavorado) - Porque é que me estende a mão? Não tenho nada para lhe dar!
Homem 2 (energicamente) - Vá! Não vai ficar aí estendido no meio do pó!
Homem 1 (erguendo-se rapidamente e sacudindo a poeira do casaco) - Não estou nada no meio da poeira!

Passa o mesmo corvo de há pouco, lançando o seu grito e sumindo-se no horizonte.

Homem 2 - Não estamos sós...
Homem 1 (depois de uma longa pausa) - Não.
Homem 2 (pensativo) - Mas onde estão os outros?
Homem 1 - Outros?
Homem 2 - Sim. Se não estamos sós!...
Homem 1 - Você... gosta de companhia?
Homem 2 - Alguém com quem conversar?
Homem 1 - Provavelmente...
Homem 2 - Não me recordo... Mas acho que sim.
Homem 1 - Ah!
Homem 2 - Porquê ah?
Homem 1 - Por nada. Ah.
Homem 2 - Ah!
Homem 1 - Então e a anedota? Talvez gostasse de experimentar rir...
Homem 2 - Não sabe?
Homem 1 - Não sei se sei...
Homem 2 - Eu acho que sei...
Homem 1 - Ah!
Homem 2 - Porquê ah?
Homem 1 - Por nada. Gosta de se rir. (franzindo o sobrolho) Ainda não me disse o que faz por estas bandas...
Homem 2 - Por aqui? Faço... Faço... (inicialmente parace perturbar-se mas acaba soltando uma gargalhada) Sabe que não sei?
Homem 1 - Está a rir-se!
Homem 2 - Pois é!
Homem 1 - Acho... Disse-me que fazia...?
Homem 2 - Acho que disse que não sei...
Homem 1 - Como, não sabe? Parece-lhe normal?
Homem 2 - E você, o que faz?
Homem 1 (convictamente) - Faço na meia.
Homem 2 - E é bom?
Homem 1 - É um trabalho.
Homem 2 - Ah!
Homem 1 (contendo a irritação) - Está-se a repetir!
Homem 2 - Estou?
Homem 1 - Acho que sim.
Homem 2 - Ah!

Uma terceira vez, o corvo sobrevoa o par, soltando o seu grito lancinante. O primeiro homem apanha um calhau e ganha lanço para lho arremessar.

Homem 1 - Às três é de vez! Toda a gente sabe que os corvos dão azar!
Homem 2 (pousando a mão no ombro do primeiro) - É só um corvo...

Subitamente, o primeiro homem, armado da pedra, desfere um conjunto de golpes sequenciais na cabeça do segundo, até que este jaz inanimado numa poça de sangue que se mistura com a poeira do solo.
O primeiro homem deixa cair a pedra e vai, lentamente, sentar-se sobre o calhau onde se encontrava no início. Espreguiça-se e recomeça a calçar e descalçar as meias.

Homem 1 (para a plateia) - Era um louco perigoso.


Imagem de www.rossway.net.

segunda-feira, março 13, 2006

Arte urbana na Maia!

Quando ouço certas pessoas falar em arte urbana, dá-me sempre vontade de rir. Mas não os contrario muito, porque nunca se sabe...
Só por curiosidade, realizei uma pequena recolha de arte urbana, que aqui deixo para vossa dilecta apreciação. É arte urbana da Maia, mas não duvido que a sua qualidade e expressividade cultural a colocariam facilmente nas vitrines de qualquer dos melhores museus do planeta...

























Mas mesmo criativo, absolutamente criativo, é quando determinadas empresas mais inspiradas, decidem aderir à arte urbana e começam a alindar os passeios, com endereços internáuticos e mensagens plenas de significado que nenhum poeta hip-hop desdenharia... Na Maia, claro está. Duplo uau!



MUSIK dá-vos o melhor dos Stones


Até que enfim que o File Lodge despifou! Para comemorar, o MUSIK convida-vos hoje à audição de um tema muito rítmico, extremamente expressivo, os Stones no seu melhor (não liguem à brincadeira da imagem, eheheh!)...
Hey Negrita é o tema que abre o lado B (quando havia lados B...) do álbum Black & Blue (1976), marcado pela chegada de Ronnie Wood à banda. Como sempre, a imagem da obra ficou marcada por temas relativamente menores mas mais comerciais como Fool to Cry. Mas Hot Stuff, a abrir o lado A, foi e é o melhor disco sound que alguma vez se fez, o que faz dos Bee Gees ou da mulher de negócios Madonna verdadeiros meninos de coro. E Hey Negrita é... indizível e não rotulável. Entre os dois, por o primeiro ser, digo eu, mais conhecido, optei pelo segundo. A ouvir bem alto!

domingo, março 12, 2006

Punido por comportamento cívico


Se o dinheiro é a fonte de todos os males, o dinheiro é lixo. Ou então, a ausência de dinheiro é que é a fonte de todos os males, o que significa que haverá falta de lixo. Mas há quem assim não entenda, quem troque todos os conceitos e, a historieta que a seguir vos conto, pescada das cusquices do Público, tem mesmo que ser aqui contada, mais que não seja como aviso para que não se esqueçam de reciclar!
Sucedeu, então, o seguinte, na distante cidade inglesa de Hinckley... Um ainda inocente (face às armadilhas do sistema-sanguessuga) jovem de 24 anos, Andy Tierney, viu, como todos nós, a sua caixa do correio invadida por mais uma remessa do abominável junk mail. Vai daí, com o civismo que aprendeu na escola e possivelmente em casa, tocou de depositar os envelopes num cesto de papéis de uma qualquer rua. Com o seu nome e endereço intactos, inclusive. Errado! O Conselho Municipal da cidade decidiu multá-lo em 73 euros porque "os resíduos do seu domicílio foram depositados num caixote do lixo na rua". O jovem, que pagou e não bufou, ficou, em todo o caso, espantadíssimo. E nós, aqui o confessamos, também.


Imagem de www.moneypicker.com.

quinta-feira, março 09, 2006

Um novo presidente num único acto


Os convidados e a imprensa apinham-se na cerimónia de tomada de posse de mais um presidente. Os jornalistas procuram acercar-se da figura, que agora surge de entre as cortinas a um dos lados do palco, mas são prontamente rechaçados pela barreira compacta de seguranças.
- É um insulto à liberdade da informação! - clama de imediato um dos profissionais, vermelho como um pimento morrone.
Os colegas acenam concordantemente e dançam cinco segundos de tango.
O novo presidente acena aos jornalistas do palco, praticamente encoberto pelos microfones.
- Eis um gesto de simpatia do novo presidente! - anuncia, com os lábios colados à esponja do microfone, uma radialista.
Surge, do outro lado das cortinas, o primeiro-ministro, homem decidido, daqueles com muito poucas dúvidas ou enganos. Os dois homens cumprimentam-se, sorridentemente voltados para os flashes das câmaras. O primeiro-ministro decide acenar, também ele, mas a jornalista de há pouco mantém-se em silêncio. Atrás dos dois homens, posta-se uma linha quase têxtil de homens e mulheres em tons de cinzento, praticamente confundidos com as cortinas. O novo presidente declama o conhecido poema "Os passarinhos/Na Primavera/Fazem os ninhos/Para os seus filhinhos" e declara-se disponível para as perguntas dos jornalistas, a que chama "questões"...
- Senhor presidente! - adianta-se alguém - Como sabe, de acordo com dados recentes, Portugal encontrou-se entre os países que, no mundo inteiro, menos cresceram em 2005. O que propõe como forma de colmatar a situação?
- Da! - responde o presidente.
Todos se entreolham admirados. Mas não desarmam...
- Senhor presidente! - nova voz - De que modo propõe que se enfrente a carestia da vida, consubstanciada na subida imparável dos preços da gasolina, na ascensão em flecha dos juros para as famílias e indivíduos endividados e na possível subida acentuadíssima dos custos da electricidade no próximo ano, entre outros?
- Da! - responde o presidente. E sorri.
O espanto aumenta. Mas não desarmam, ainda assim. Outro jornalista intervém:
- Senhor presidente! Sendo a educação um dos factores mais importantes para o desenvolvimento de um país e os seus agentes extremamente importantes para o seu sucesso, como comenta o ambiente de total desânimo que parece grassar entre os docentes? Como comenta o facto de o aumento do número de horas de permanência na escola, reuniões a rodos e salários incomportáveis dos docentes não melhorarem os resultados globais dos alunos?
- Da! - diz o presidente, encolhendo brevemente os ombros e sorrindo uma vez mais.
Perpassa um burburinho incómodo entre todos os presentes. Mais uma intervenção:
- Senhor presidente! O que pretende fazer para evitar a pandemia de falências entre as nossas empresas, com o que acarreta de estagnação económica, inflação real e desemprego?
- Da! - afirma, pleno de convicção, o presidente.
O burburinho cresce e há mesmo quem necessite de primeiros socorros. Mas alguém lança ainda:
- Senhor presidente! Quais serão, segundo Vossa Excelência, as primeiras e mais fundamentais medidas para recuperar a confiança dos portugueses?
- Da! - responde o presidente. E começa a enumerar - Da! Da! Da! Daa!
Já é demais, não se compreende nada! O incómodo está definitivamente instalado. Perante a situação, um tradutor-intérprete é chamado aos microfones, pigarreia e fornece uma explicação:
- Peço imensa desculpa, mas o nosso presidente, assim como a generalidade da nossa classe dirigente, estiveram recentemente presentes numa acção de formação intensiva na ex-União Soviética, pelo que se torna difícil a readaptação à língua-mãe. Contamos com a vossa inteira compreensão...
Um suspiro de alívio percorre os presentes. Assim, sim. Tudo passa a fazer sentido.
Subitamente, entra pelas traseiras um grupo de mafiosos russos de óculos escuros e gorros de pele verdadeira, começando estes a servir copioso vodka a todos os que se encontram no hemiciclo. Alguém, lança o seu copo esvaziado para trás das costas, com tal energia que vai acertar em cheio na testa do presidente, ricocheteando de seguida pelas testas de todos os que se encontram no palanque. Nesse momento, a assistência em peso principia a dançar uma enérgica dança da Volga, confiantes no futuro de Portugal, mesmo apesar da seca.


Imagem de www.btinternet.com.

terça-feira, março 07, 2006

Link fora, link dentro


Como eventualmente notarão, realizei algumas alterações nos links, sempre lastimavelmente atrasados nas actualizações... Antes de mais, acrescentei o A Arte da Fuga e o Emblógrio, blogs interessantes e de há muito devidos. Por outro lado, varri de cá alguns blogs por variadas razões: uns parecem ter desaparecido, de há tanto que não são actualizados, inclusive blogs prometedores como o Orgulhosa Maria; outros, que talvez, por vezes, nem sejam tão fantásticos como o seu número de frequentadores poderá indiciar, sumiram-se porque nunca tiveram a educação de criar um link para aqui. Não é obrigatório. E depois? Aliás, outros que não parecem revelar grande vontade de o fazer, por cá se mantêm. Mas são melhorezinhos...


Imagem de www.mooisvoorthuis.nl (tela de Liechtenstein).

segunda-feira, março 06, 2006

Ó Óscar!


Esse que está aí ao lado, Deus seja louvado, sempre fez alguma coisa!...

Quem frequentar o blogomundo já deve ter lido uma data de opiniões acerca dos Óscares deste ano (e, por ricochete, dos anos anteriores e futuros). Mas permitam-me mandar cá na nossa casa, também, o meu bitaite pessoal...
E o que há a dizer que não se saiba e que não se adivinhe? Crash foi votado para melhor filme. Brokeback Mountain levou com o prémio da melhor realização. Depois, entre outros prémios, Crash voltou a ser galardoado, desta feita com o prémio de melhor argumento original e Brokeback Mountain com o de melhor argumento adaptado. Crash, Brokeback Mountain, Brokeback Mountain, Crash, trá-lá-lá... George Clooney foi aplaudido por um papel em que, ao que parece, terá sido um bocadito cabotino (mas parece que o filme é muito actual! Trá-lá-lá...). Na categoria de melhor filme estrageiro, o prémio foi para a África do Sul - já era de calcular que nunca pudesse ter vindo para a Europa, embora entre os cinco filmes candidatos se contassem um francês, um alemão e um italiano (o outro era palestiniano - trá-lá-lá...).
Ficou assim, uma vez mais, demonstrada a força destrutiva do lobby judaico que conseguiu que Munique de Spielberg ficasse completamente na sombra. Por outro lado, como Woody Allen veio passear até à Europa e tem fama de preferir dar uns toques de trompete, escrever e realizar a conviver com as superstars, o óbvio melhor argumento que Matchpoint mereceria ficou em águas de bacalhau. Finalmente, Memórias de uma Gueixa mereceria, de longe, mas muito de longe, pelo menos o prémio para a melhor imagem... Ficou-se por umas secundarices, pelo simples facto de que seria impossível ignorar um filme de tal qualidade.
E assim se passou mais uma cerimónia da grande falácia cinematográfica. Os melhores filmes nunca (ou quase nunca) têm direito aos melhores prémios. A Academia é que sabe... No fim de contas, é soberana ou não? Vai um prémio para as minorias, vai um prémio para as doenças, vai um prémio para os génios com deficiência, vai um prémio para as grandes produções de plástico... e não se sai disto. Agora, não me obriguem é a ficar acordado para ver este jogo entre solteiros e casados. Eu nem vejo televisão! E quando quero ver filmes, vou ao cinema, que é lá que eles moram...


Imagem de http://homepages.gold.ac.uk.

sexta-feira, março 03, 2006

Petição online contra taxas no multibanco

Conforme me chamaram a atenção num comentário, foi iniciada uma petição online contra a imposição de qualquer tipo de taxas ou comissões às operações nas caixas ATM por parte da banca. Colaborem!
A petição encontra-se aqui...

Ah, ganda PCP!


E eis que de vez em quando os capitalistas da banca, completamente a arrepio do facto de os portugueses mal terem para viver, se lembram de lhes tentar impingir a cobrança de taxas e comissões pela utilização do cartão multibanco, que tanto fomentaram, ao ponto de praticamente ninguém deixar de o usar! Não admira, aliás, que o tenham feito... A expansão imensa do cartãozinho ATM em Portugal permitiu-lhes e permite-lhes empregar muito menos mão-de-obra e realizar grandes poupanças (com os bancários a trabalhar a todo o vapor) que não existiriam de outra forma e servem para comprar muitos automóveis de luxo, muitas moradias de primeira e muitos mármores.
Temos que o confessar... Em quem podemos ainda confiar nestes momentos em que os barrigudos procuram reduzir-nos a uma ainda maior escravidão? No PSD? Não me façam rir. No PS? Demasiado ocupados a tramar-nos de outras formas. No BE? Hmmm, não... O importante é a legalização do haxixe, da prostituição e do aborto, o casamento homossexual e, claro, beber uns copos. Notem que nem me passou pela cabeça sequer mencionar o PP... Em quem podemos nós ainda confiar, então, nestes momentos tristemente recorrentes? Ah, ganda PCP! Não é preciso ser comunista para o exclamar alto e bom som.
O PCP apresentou, na Assembleia da República, um projecto de lei que visa proibir a cobrança de comissões ou taxas pela utilização dos cartões multibanco. A intenção é "proibir a cobrança de quaisquer quantias pelas instituições de crédito, a título de taxa ou comissão, pela utilização das caixas multibanco". Em declarações à TSF, o deputado comunista Honório Novo classificou a tentativa da banca de "desfaçatez e descaramento" e salientou que a iniciativa do seu partido tem por fim "cortar cerce qualquer tentativa do género". Desfaçatez e descaramento? Demasiado eufemístico, apesar de tudo... A banca vive à custa da exploração alheia (de clientes e funcionários), o que, se não é proibido por lei, é, tanto quanto nos conseguimos lembrar, merecedor das penas eternas do inferno segundo a Bíblia, ainda que, possivelmente, inúmeros responsáveis da banca se afirmem católicos e cristãos e não deixem de ir à sua missinha, pelo menos de quando em vez...


Imagem de http://serval.olivet.edu.

quinta-feira, março 02, 2006

Bush contra Jesus!

Já há tanto tempo que não dou umas palmaditas na nuca do George W. que, de repente, fiquei cheio de saudades! Inspirado pelo Fonte das Virtudes, fiz a pesquisa de Bushisms no Alltheweb e eis algo curioso com que me deparei: o que seria a propaganda eleitoral televisiva do presidente se se candidatasse contra Nosso Senhor Jesus Cristo...



Imagem 1: Jesus de Nazaré diz: "Dá a quem te suplica e não recuses a quem te pede emprestado".
JESUS FAVORECE A EXISTÊNCIA DE MAIS SUBSÍDIOS PARA AS VIGARICES DO ESTADO SOCIAL.

Imagem 2: Jesus de Nazaré diz: "Não julgues para que não sejas tu julgado".
JESUS É BRANDO PARA COM O CRIME.

Imagem 3: Jesus de Nazaré diz: "Entrega a César o que é de César".
JESUS AUMENTARÁ OS VOSSOS IMPOSTOS.

Imagem 4: Jesus de Nazaré diz: "Não resistas a quem é mau. Mas se alguém te bater na face direita, entrega-lhe a outra face".
PODEMOS CONFIAR EM JESUS NA GUERRA CONTRA O TERROR?

Imagem 5: Jesus - Errado na Segurança Social. Errado no crime. Errado na defesa. Errado para a América.

Imagem 6: O meu nome é George W. Bush e aprovo esta mensagem.



Imagem de http://psychoanalystsopposewar.org.

Jethro Tull, colheita de 74, no MUSIK


Quais Pink Floyd, quais Genesis, quais, quais, quais quê (para não mencionar todo o cortejo de bandas progressivas de que só recordamos o nome, mas dificilmente temas completos)!
Os Jethro Tull sempre se situaram numa outra dimensão, onde a música não era um mero desenvolvimento de uma actividade de amigos da faculdade que deu certo. Recordo-me, aliás, de um documentário dos tempos em que ainda via televisão... Ian Anderson revelando a sua propriedade, creio que na Escócia; Ian Anderson, no cimo da torre de um pequeno castelo ou mansão, sentado frente a um piano, compondo e anotando a sua criação numa partitura. Isto é: a) Coisa real; b) Coisa de músico.
Warchild, o álbum de 1974 de onde o tema de hoje do MUSIK, Backdoor Angels, se retirou, foi o primeiro a ser produzido inteiramente por Anderson. Tal como Aqualung (e isto são gostos pessoais), é excelente do início ao final - mas algum tema teria que escolher... Apreciem-no bem e acompanhem-no com a letra:



In and out of the front door ran twelve back-door angels.
Their hair was a golden-brown,
They didn't see me wink my eye.
`Tis said they put we men to sleep with just a whisper,
And touch the heads of dying dogs
And make them linger.
They carry their candles high
And they light the dark hours.
And sweep all the country clean with pressed and scented wild-flowers.
They grow all their roses red
And paint our skies blue,
Drop one penny in every second bowl,
Make half the beggars lose.
Why do the faithful have such a will to believe in something?
And call it the name they choose,
Having chosen nothing.
Think I'll sit down and invent some fool,
Some Grand Court Jester.
And next time the die is cast
He'll throw a six or two.
In and out of the back-door ran one front-door angel,
Her hair was a golden-brown,
She smiled and I think she winked her eye.



Imagem de www.phantasm777.com (Jethro Tull em 1974).

quarta-feira, março 01, 2006

FAILURE!


Provavelmente, muitos de vocês já saberão disto; provavelmente, muitos não saberão... Eu fiquei a conhecer este verdadeiro lololololol internáutico através de um comentário publicado no Bitaites ...
Vão ao nosso amigo Google, digitem FAILURE e cliquem em Sinto-me com Sorte! No more comments...