It takes two to tango

Quantas vezes a vida não parece mais estranha do que a ficção? Isso é porque toda a ficção se inspira directamente na vida! É porque somos todos medricas que costumamos optar pela ficção. Só que este blog vai optar pela vida... ou algo assim...

quarta-feira, agosto 31, 2005

Comemorando o Dia da Malásia



O Master apela para que todos vós, quando soar a meia-noite de 31 de Agosto, cessem o que quer que estejam a fazer, gritem Merkeda sete vezes e cantem o Negara Ku enquanto assistem ao hastear da bandeira nacional. E assim faço minhas as palavras de Abdul Kadir, ministro malaio da Informação em 2004.
Bom... E agora, algo de sério e mesmo histórico acerca do país que hoje celebra o seu Dia Merkeda (Dia da Liberdade)... A Malásia foi hindu-budista até cerca do século XIII, quando se converteu ao islamismo por influência de comerciantes árabes e indianos. Em 1511, os portugueses tomaram Malaca, que foi novamente tomada, desta feita pelos holandeses, em 1641. Em 1824, os ingleses trocaram Bencook, em Sumatra, por Malaca (ah, belos tempos da colonização!).
A independência, que hoje se comemora, veio a 31 de Agosto de 1957, sendo que em Setembro de 1963 se juntaram a Malásia, o Sarawak, Sabah e, inicialmente, Singapura para constituir a actual Malásia.
Para que todos possamos celebrar condignamente este dia, o Master deslocou-se em espírito à Malásia e procedeu a uma recolha fotográfica dos mais belos sinais ali encontrados. No fim de contas, não basta a um ser humano normal gritar Merbaka sete vezes. Há que rir um pouco igualmente...





As facilidades para os deficientes ainda têm que evoluir um pouco. Nomeadamente, quando uns quantos dentes afiados podem servir de travão.












Nada como ser bem limpinho de corpo e alma...












Ainda bem que avisam e pormenorizam!












Um país onde a lei não é palavra vã e os senhores agentes têm a sua missão facilitada.



Por favor, não cuspam muito alto!

E perontos! Suponho que a indignação malaia pelas brincadeirinhas que eles mesmos construiram não me alcance aqui, neste cantinho esquecido da velha Europa... De qualquer modo, este blog não obedece a fins políticos e sim recreativos. Bem hajaindes e não vos esqueçaindes de gritar Merkada quantas vezes vos aprouver ao virar da meia-noite!

Obrigado a www.regit.com e a www.nicsteronline.com.

Fotos de http://mycollections2.tripod.com, www.rodrigues.ca, http://web.ukonline.co.uk, www.citybrat.com, www.sannoh.co.jp e www.thatmoment.org.

Baudelaire morreu mas a poesia vive


Passam hoje precisamente 138 anos sobre a morte de Charles Baudelaire, poeta, crítico e tradutor, responsável pelo conhecimento e sucesso de Edgar Alan Poe e autor, sobretudo, de duas obras extremamente marcantes no panteão da poesia universal: Les Fleurs du Mal e Petits Poèmes en Prose (póstuma). Com ele, de certo modo, terá nascido a poesia moderna
Não me apetece, sinceramente, traçar aqui uma biografia do autor, aliás encontrável em milhentos sites da net.
Prefiro, antes, deixar-vos algumas citações do artista. Contrariamente às de Quayle e Bush Jr., estas não são para rir...




CITAÇÕES DE BAUDELAIRE


Adoro Wagner, mas a minha música preferida é a de um gato pendurado pela cauda, fora de uma janela e tentando agarrar-se ao vidro com as suas garras.

É através da incompreensão universal que todos estão de acordo. Porque, se por azar, as pessoas se compreendessem, ninguém estaria de acordo.


Há, em cada homem, permanentemente, duas fidelidades simultâneas, uma a Deus, a outra a Satã.A invocação de Deus, ou Espiritualidade, é um desejo de ascensão; a de Satã, ou animalidade, é o gozo da descida.

Considero inútil e entediante representar o que existe, porque nada que exista me satisfaz. A natureza é feia e eu prefiro os monstros da minha imaginação ao que é positivamente trivial.


O ser que, para a maioria dos homens, é a fonte das mais vívidas e mesmo, digamo-lo, pra vergonha dos deleites filosóficos, mais duradouras alegrias; o ser para quem ou porquem todos os esforços tendem e porquem fortunas se fazem e se perdem; para quem, mas especialmente por quem, artistas e poetas compõem as suas jóias mais delicadas; de quem fluem os prazeres mais enervantes e os sofrimentos mais enriquecedores; mulher, numa palavra, não é, para o artista em geral... meramente a fêmea da espécie humana. Ela é de facto uma divindade, uma estrela.


É lamentável que, nos direitos do Homem, o direito de se auto-contradizer tenha sido esquecido.










Quero prados de tons vermelhos e árvores pintadas de azul. A natureza não tem imaginação.



Apenas três seres são dignos de respeito: o sacerdote, o soldado e o poeta. Saber, matar, criar.






A sepultura de Baudelaire em Paris. Que descanse em paz...



Citações de www.brainyquotes.com, http://en.thinkexist.com, www.quotationspage.com, http://quotes.prolix.nu e www.quoteworld.org.

Imagens de http://grohaz.com, http://opioids.com, www.stopaddiction.com, www.absinthe.se e www.shootingstarhistory.com.

terça-feira, agosto 30, 2005

Clearly troubled, mr. de Campos















O Master está, hoje, pouco comunicável, pelo que permitirá aos espíritos dos queridos ausentes comunicar em seu lugar... Vendo bem, uma constipação é sempre melhor do que uma pneumonia, como uma pneumonia é melhor do que uma broncopneumonia e mesmo uma broncopneumonia deve ser melhor do que o universo aos estilhaços. Mas quem sabe bem disso é o nosso dearly departed Álvaro de Campos...


Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes constipações
Alteram todo o sistema do universo,
Zangam-nos contra a vida,
E fazem espirrar até à metafísica.
Tenho o dia perdido cheio de me assoar.
Dói-me a cabeça indistintamente.
Triste condição para um poeta menor!
Hoje sou verdadeiramente um poeta menor.
O que fui outrora foi um desejo; partiu-se.


Adeus para sempre, rainha das fadas!
As tuas asas eram de sol, e eu cá vou andando.
Não estarei bem se não me deitar na cama.
Nunca estive bem senão deitando-me no universo.


Excusez un peu... Que grande constipação física!
Preciso de verdade e da aspirina.


segunda-feira, agosto 29, 2005

Relembrando Dan Quayle

Ok. Talvez já ninguém se lembre do fantástico Dan Quayle, 44º vice-presidente dos Estados Unidos, durante o mandato de George Bush (pai). A memória é curta, o que é um facto. É como... sei lá... anda para aí tanta gente convencida de que o Cavaco foi um primeiro-ministro fabuloso e que, a pulso, levou o nosso país a picos de sucesso nunca sequer imaginados ou ainda, pior, que é um tipo simpático só porque nos últimos tempos resolveu mostrar clara e permanentemente ao país que usa o dentífrico perfeito e até tem poucos dentes postiços. Ou... anda tanta gente convencida de que o Mário Soares foi um excelente presidente, só porque é um tipo assertivo e porque temos uma tradição de presidentes à esquerda, mas ninguém se lembra como ilegalmente se sobrepôs à lei mandando com total falta de educação os agentes da ordem embora durante um célebre passeio de autocarro, por exemplo. O nosso, mais que claramente, reizinho. Mas é curta, oh se é, essa coisa a que se dá o nome de memória!... Já agora, de que é que estava a falar? Ah, que já ninguém se lembra do Dan Quayle. Mas a verdade é que se trata, talvez, do único ser à face do planeta que seria capazmente capaz de desafiar o W. Bush para um combate cerrado no ringue dos descalabros verbais. Claro, perderia... O nosso amigo George é imbatível. Há seres humanos dotados muito, muito acima da média e, quanto a isso, fazer o quê? Mas o Quayle também é giro!


CITAÇÕES DE DAN QUAYLE


Adoro a Califórnia. Basicamente cresci em Phoenix. (Arizona)

Se não formos bem sucedidos, arriscamo-nos ao fracasso.

O futuro será melhor amanhã.

Não queremos voltar a amanhã, o que queremos é avançar.

Fiz bons julgamentos no passado. Fiz bons julgamentos no futuro.

As pessoas que são mesmo muito estranhas podem chegar a posições importantes e ter um impacto tremendo na história.

Temos um compromiso firme com a OTAN. Somos parte da OTAN. Temos um compromisso firme com a Europa. Somos parte da Europa.

É chegado o momento de a raça humana entrar no sistema solar.



Marte está essencialmente na mesma órbita... Marte está mais ou menos à mesma distância do Sol, o que é muito importante. Vemos imagens onde há canais e água. Se há água, isso significa que há oxigénio. Se há oxigénio, isso significa que podemos respirar.

O Holocausto foi um período obsceno na história da nossa nação. Quero dizer, na história deste século. Mas todos nós vivemos neste século. Eu não vivi neste século.

Com toda a franqueza, os professores são a única profissão que ensina os nossos filhos.

Meus amigos, por mais duro que o caminho possa ser, podemos e nunca nos renderemos ao que está certo.



Mereço respeito pelas coisas que não fiz.

Acontece que sou um presidente Republicano... ah, o vice-presidente.

É maravilhoso encontrar-me aqui, no grande estado de Chicago. (Illinois)

Trata-se de um óptimo livro histórico sobre história.

Quem joga bowling vota. Os jogadores de bowling não são a elite cultural.


Infelizmente, as pessoas da Luisiana não são racistas.

Os Estados Unidos têm um interesse vital nessa parte do país. (América Latina)

Os falhanços bancários são causados por depositantes que não depositam dinheiro suficiente para cobrir as perdas devidas à má gestão.

Deixem-me dizer-vos... Equanto percorríamos o armazém, Marilyn e eu sentimo-nos verdadeiramente impressionados com todo o tipo de pequenas coisas que se podem obter para o Natal. E todas as pessoas que lá estavam para ajudar, estavam vestidas com coisas que diziam "Eu acredito no Pai Natal". E eu só conseguia pensar: "Eu acredito em George Bush".



E assim fica colmatada mais uma das terríveis falhas a que a nossa memória de teflon nos impele. Justiça feita, sempre há gente digna de ser lembrada! Beijocas e mordidelas do vosso Master.

sábado, agosto 27, 2005

Bushismos



E pronto. Quando não há mais ninguém em quem bater, arranja-se uma vítima fácil e já está! Deixo-vos algumas citações do presidente George W. Bush, de quem dizem as más línguas que tem o QI mais baixo dos presidentes norte-americanos, se exceptuarmos o seu próprio pai...



2000


Uma das grandes coisas dos livros é que, por vezes, têm algumas imagens fantásticas. (3 de Janeiro)

Eu sei que homens e peixes podem coexistir em paz. (29 de Setembro)

Acho que deveríamos subir a idade em que os mais novos podem possuir uma arma. (18 de Outubro)


2001

Por cada tiroteio fatal, houve cerca de três tiroteios não-fatais. E, amigos, isso é inaceitável na América. Simplesmente inaceitável. Vamos fazer algo quanto a isso. (14 de Maio)

Uma ditadura seria muito mais fácil. Que não restem dúvidas quanto a isso. (27 de Julho)

As relações fronteiriças entre o Canadá e o México nunca estiveram melhores. (21 de Setembro)



2002


O problema dos franceses é que não têm um termo para entrepreneur.

A guerra contra o terror involve Saddam Hussein devido à natureza de Saddam Hussein, à história de Saddam Hussein e ao seu desejo de se aterrorizar a si mesmo. (29 de Janeiro)



2003

Antes de mais, deixem-me
clarificar que os pobres não são necessariamente assassinos. Só porque se é rico, isso não significa que se queira matar. (15 de Maio)

Também não sou muito analítico. Sabem, não gasto muito tempo a pensar em mim, porque é que faço as coisas. (4 de Junho)



2004

Sinto-me honrado por apertar a mão de um corajoso cidadão iraquiano a quem Saddam Hussein cortou a mão. ((25 de Maio)

Espero que saiam daqui e comentem: "O que é que ele disse?" (13 de Agosto)

A questão, se virmos bem, é que Saddam ainda estaria no poder se fosse o presidente dos Estados Unidos e o mundo estaria muito melhor. (8 de Outubro)


2005

Quem poderia ter previsto uma erecção - uma eleição, no Iraque nesta altura? (10 de Janeiro)

Essa ideia de que os Estados Unidos se preparam para atacar o Irão é simplesmente ridícula. Isso dito, todas as opções são válidas. (22 de Fevereiro)

Pretendemos sossegar a imprensa livre quanto ao facto de não lhes estarem a ser negadas informações que não deveriam ver. (13 de Abril)

Vou gastar muito tempo com a Segurança Social. Gosto disso. Gosto de falar nisso. Acho que deve ser a mãe em mim. (14 de Abril)

Penso que aos trabalhadores mais jovens - antes de mais, aos trabalhadores mais jovens, foram prometidos benefícios - promessas que foram prometidas, benefícios que não podemos conceder. É assim e pronto. (4 de Maio)

Planeámos o caminho de avanço para o Iraque, a importância de uma democracia no grande Médio Oriente, de forma a deixar para trás o amanhã pacífico. (10 de Maio)

Compreendam, na minha linha de trabalho, temos que repetir as coisas vezes sem conta para a verdade cair, para, tipo, catapultar a propaganda. (24 de Maio)


Espero que se tenham divertido. Ainda que seja de mau tom rir com coisas sérias... Façam o favor de considerar tudo isto uma tragicomédia em dois actos e não deixem de debater o assunto com os vossos parceiros logo à noite, antes de dormir e uma vez reguladas as necessárias obrigações maritais. Abraço do Master.

Citações de http://politicalhumor.about.com, mas o que não falta é citações do George W.
Imagens de http://newsimg.bbc.co.uk, http://news.bbc.co.uk, www.baptiststandard.com e www.rotten.com.

sexta-feira, agosto 26, 2005

A arte... mas o que é a arte?

Achei piada a este graffiti...

Só que vocês não querem saber o que eu acho dos graffitis... Por outro lado e como só sei que nada sei, a minha opinião passa a ter uma validade relativa e temporalmente localizada, se é que o tempo de facto existe, sendo que a ciência parece inclinar-se um pouco para que ele possa não existir. Também seria possível que nem graffitis nem polícia existissem, o que levaria a que nem sequer vos estivesse a mostrar graffiti nenhum nem a falar de coisa alguma. Se eu, por meu turno, não existir, e vocês igualmente, o que resta? Complicado... Embora a complicação não passe de um estado do espírito...
Bom, assim sendo, seja lá que coisa seja o ser, e tendo em conta que nem ninguém está a escrever, nem ninguém está a ler, nem há coisa nenhuma de que falar, cá vai um conjunto de afirmações reaccionárias:
O graffiti é um subproduto urbano-suburbano que se tenta afirmar como arte mas que possui a extremada fraqueza de que os seus autores não possuem qualquer tipo de formação artística, pelo que a estabelecer uma distinção (ilusória) entre alta arte e baixa arte, o graffiti parece situar-se na segunda.
Uma percentagem muitíssimo elevada de graffitis nem sequer pode dar por esse nome, visto tratar-se meramente de assinaturas ilegíveis e que não interessam a ninguém, colocadas em elevadores, autocarros, combóios e onde mais quer que possam estragar o que custa trabalho e dinheiro a quem custar. Mas o que interessa isso aos artistas urbano-suburbanos? Quando o dinheiro é dos outros, não custa nada a ganhar. Além do mais, quem quer que tenha dinheiro para pintar o que quer que seja tem obviamente que ser um porco capitalista e o artista é o total oposto do capitalismo, embora adorasse ganhar uma pipa de massa e fazer férias nas Bahamas.
Numa palavra, eu que sou um capitalista paupérrimo, se um artista revolucionário e rebelde me pintasse a parede sem pedir autorização (indeferida), acho que deveria pagar novas tintas de alta qualidade do seu próprio bolso, voltar a pintar (sem qualquer gosto artístico, porque numa monótona cor única e bem representativa dos gostos decadentes dos burgueses malditos) com a língua a propriedade privada danificada (Propriedade privada? O que é isso? Tudo é de todos, sobretudo o que os outros tiveram que conquistar) e sofrer uma multa que os levasse a pensar duas vezes antes de não usar uma tela.
Um graffiti não é um mural!
Mas parece que está muito na moda adorar o graffiti, o rap, o crack e essas coisas todas fixérrimas...
Perdoem-me. Talvez esteja mal disposto e não se deve escrever críticas quando o estado de espírito não o permite. Mas faço-o no perfeito uso do meu direito democrático de me expressar.
E disse. Quem quiser que discorde. Sempre vivemos num país livre, se é que há países ou seja lá o que for...

Já agora, aquele que continua a ser o meu graffiti favorito:


Abraço desinspirado mas assertivo (talvez não-existente, no entanto... isto ainda vem na sequência daquele Zen todo) do vosso Master.

Fotos de www.lausanne-graffiti.ch e www.troutmaskreplicas.com.

Para meditarem na beleza profunda do nada


Não sei, mas acho que é porque vim no carro com um piqueno que adoro a massacrar-me a sensibilidade com uma música dos xatos dos Xutos... Subitamente, senti-me muito filosófico... Muito zen... Peguem lá, vocês também, uma cuidadosamente elaborada recolha de ditos Zen para meditar. Ah, não esperem aprender coisa nenhuma porque, uma vez que nada existe, nada há para aprender!

Se compreenderes, as coisas são exactamente como são. Se não compreenderes, as coisas são exactamente como são.

O obstáculo é o caminho.

O que quer que te encontres a fazer, todas as vinte e quatro horas do dia, em todas as tuas diferentes actividades, há algo que transcende os Budas e os Mestres do Zen. Mas que logo que o compreendas, deixa de lá se encontrar. Não se encontra lá de facto. Assim que tentes prestar-lhe atenção, já desse algo te afastaste. É por isso que digo que vês mas nada podes fazer quanto a isso.

Não conquistes o mundo através da força, porque a força apenas gera resistência. Os espinhos crescem quando um exército passa. Anos de miséria seguem-se a uma grande vitória. Faz apenas o que deve ser feito. Sem usar de violência.

Pensa nas árvores: elas permitem às aves empoleirar-se e voar, sem intenção de as chamar quando vêm e sem ansiar pelo seu regresso quando partem. Se os corações humanos forem como as árvores, não se encontrarão ausentes do Caminho.

Aquele que, onde quer que vá, não se prender a ninguém nem a lugar algum por laços carnais, que aceite de igual modo o bem e o mal, nem saudando um nem encolhendo-se diante do outro - esse alguém terá atingido a Perfeição.

Independentemente de quantos anos te sentes a praticar o zazen, nunca te transformarás em nada de especial.

O único Zen que encontrarás no topo das montanhas é o Zen que para lá transportares.


O Zen não confunde espiritualidade com pensar em Deus enquanto se descascam batatas. A espiritualidade Zen reside simplesmente em descascar batatas.

O mundo é como um espelho: sorri e os teus amigos sorrir-te-ão de volta.

Aprender o Zen é uma fábrica de ouro e excrementos. Antes de o encontrares é como ouro. Depois de o encontrares, é como excrementos.

Não ganhei nada com a iluminação suprema. É por isso mesmo que lhe chamo iluminação suprema.


Desejos (embora o desejo seja o caminho mais longo para o nirvana) de uma boa não-existência do vosso Master.

quinta-feira, agosto 25, 2005

Um gostinho acre de poesia erótica



Nascido a 16 de Dezembro de 1865 no Rio de Janeiro e falecido a 28 de Dezembro de 1918, na mesma cidade, Olavo Bilac foi a figura máxima do parnasianismo brasileiro. Boémio inveterado durante todos os seus 53 anos de vida, começou Medicina no Rio e Direito em São Paulo, mas não chegou a concluir qualquer dos cursos. Poeta, jornalista literário, autor de crónicas, conferências literárias, de livros infantis e didácticos, e ainda professor, inspector escolar, secretário do Congresso Panamericano e fundador da Agência Americana, publicou Poesias, o seu primeiro trabalho, em 1888. Membro-fundador da Academia Brasileira de Letras em 1896, foi também o autor da letra do Hino à Bandeira. Em 1900 partiu para a Europa como correspondente da publicação Cidade do Rio, ano a partir do qual passou largas temporadas em Paris. Bateu-se, nos seus últimos anos, pelo serviço militar obrigatório, por considerar tratar-se de uma das melhores formas de lutar contra o analfabetismo.
Dele disse Saul de Navarro: "A graça sensual de um satírico, na selva lírica da nossa alma de gigante adolescente. Pàssaro do idioma. Gorgeio da raça. Príncipe dos poetas".
Segundo parece ainda, nos seus últimos momentos de vida, já agonizando, terá exclamado: "Amanhece... Vou escrever!"
A questão aqui não é a de uma mera biografia de um poeta maior, mas sim de como terá arranjado tempo para fazer tudo o que fez e ainda aproveitar a vida como parece que terá aproveitado, escrevendo, pelo meio, versos certamente chocantes para a época como os que hoje vos trago...


DELÍRIO

Nua, mas para o amor não cabe o pejo
Na minha a sua boca eu comprimia.
E, em frêmitos carnais, ela dizia:
- Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo !

Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente, a minha boca obedecia,
E os seus seios, tão rígidos mordia,
Fazendo-a respirar em doce arpejo.

Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
- Mais abaixo, meu bem !- num frenesi.

No seu ventre pousei minha boca,
- Mais abaixo, meu bem !- disse ela, louca,
Moralistas, perdoai ! Obedeci...




Votos de perfeita boémia do vosso Master...

Informações de www.astormentas.com, http://orbita.starmedia.com e www.secrel.com.br
Fotos de www.cosmo.com.br e www.shadesbeyondgray.com

quarta-feira, agosto 24, 2005

Tempestade do deserto mesmo - uma efeméride

Com a declaração unilateral de independência do Estado de Israel a 14 de Maio de 1948, situação que em muito contou com a ajuda preciosa das potências ocidentais, ergueu-se uma tempestade no deserto cujo fim nunca se chega a vislumbrar muito claramente.
Aproveito a efeméride do nascimento de Mohammed Abad Arouf Arafat, vulgo Yasser Arafat, a 24 de Agosto de 1929, há precisamente 76 anos, para vos dar a conhecer um conjunto de declarações históricas do histórico líder palestiniano, falecido em Paris a 11 de Novembro de 2004, somando-lhe ainda mais algumas declarações de David Ben-Gurion, conhecido fundador do Estado de Israel.
Para os mais interessados e muito brevemente, Arafat licenciou-se em engenharia no Cairo. Fundou a Fatah e a OLP, tendo sido nomeado seu presidente em 1969. Foi, em 1974, o primeiro representante de uma organização não-governamental a dirigir-se à Assembleia Geral da ONU. Em 1994 recebeu o Prémio Nobel da Paz, conjuntamente com Itzakh Rabin e Shimon Peres. Presidente da Autoridade Palestiniana desde 1996, viveu os seus últimos dias, a partir de 2002, cercado pelas forças militares israelitas no quartel-general de Ramalah.




Yasser Arafat citado:

Planeamos eliminar o Estado de Israel e estabelecer um Estado unicamente Palestiniano. Tornaremos a vida insuportável aos judeus através da guerra psicológica e de uma explosão demográfica... Nós, Palestinianos, assumiremos o controlo total, inclusive de Jerusalém.

Conservai as vossas pressões, soldados da liberdade! Não cederemos até que o sangue de cada judeu, da mais jovem criança ao idoso mais idoso, sejam derramados para redimir a nossa terra.

A paz, para nós, equivale à destruição de Israel. Estamos prontos para uma guerra sem fronteiras e destinada a durar gerações.

Quem quer que se posicione por uma causa justa e lute pela liberdade e pela libertação da sua terra das mãos dos invasores e colonos não pode, de forma alguma, ser apelidado de terrorista.

Esta é a minha pátria, ninguém de cá me pode expulsar!

A marcha da vitória prosseguirá até que a bandeira Palestiniana flutue em Jerusalém e em toda a Palestina.





David Ben-Gurion citado:


Temos que expulsar os árabes e tomar as suas terras.

Temos que usar o terror, o assassínio, a intimidação, a confiscação de terras e o corte de todos os serviços sociais para livrar a Galileia da sua população árabe.

As povoações judias foram erigidas onde antes havia povoações árabes. Vocês nem sequer sabem o nome dessas povoações e disso não vos censuro porque os livros de geografia já não existem. Não só já não existem como também as povoações árabes já lá não se encontram. (...) Não existe um só local construído nete país que não tenha antes albergado população árabe.

Devemos preparar-nos para a ofensiva. A nossa meta é esmagar o Líbano, a Transjordânia e a Síria. O ponto mais fraco é o Líbano, pelo facto de o seu regime islâmico ser artificial e facilmente minável. Estabeleceremos aí um Estado cristão e seguidamente esmagaremos a Legião Árabe e eliminaremos a Transjordânia. A Síria cairá às nossa mãos. Por fim, bombardearemos e tomaremos Port Said, Alexandria e o Sinai.

Se eu fosse um líder árabe, nunca assinaria um acordo com Israel. É verdade que Deus nos prometeu esta terra, mas que interesse pode isso ter para eles? O nosso Deus não é o deles. Houve anti-semitismo, os nazis, Hitler, Auschwitz, mas que culpa têm eles nisso? Eles vêem apenas uma coisa: chegámos e roubámos o seu país. Porque haveriam de o aceitar?

E é assim mesmo! Desejos de continuação de um santo dia do vosso Master.

Citações de www.allgreatquotes.com, http://en.thinkexist.com, www.saidwhat.co.uk e www.everything2.com

Fotos de www.leksikon.org e www.brownsteins.net

Insecticida contra spammers


Amiguinhos e amiguinhas, muito obrigado por todas as visitas que este mefistofelica-angelicamente humilde blog tem recebido, como constato pelo meu contador. Para mim é um sucesso e motivo mais do que suficiente para continuar a trabalhar para quem gosta de me ler!
Mas a net é um sítio muito, muito, muito perigoso! A prova é que nem este blog tem estado a salvo dos malvados spammers, os quais, das suas máquinas infernais, me enviaram já por várias vezes comentários gerados automaticamente e com links para sites ou blogs que não interessam nem ao menino Jesus, a paz seja com Ele!
Foi por isso que optei por passar a usar o controlo de palavras, o qual funciona como quando, tantas vezes, instalamos um programa novo. Uma vez escrita a vossa mensagem, suponho, surgir-vos-á um conjunto de letras que terão que ser transcritas conforme são vistas para que o comentário possa ser publicado. Pessoas reais podem fazê-lo. Máquinas não! Perdoem-me este pequeno incómodo e não se inibam de me enviar os vossos comentários sempre desejados... Acho que nem vou conseguir pegar no sono só em antecipação de tudo o que me possais dizer!
Uma boa noite e sonhos depravadamente bons é o que vos deseja o vosso Master.
Imagem retirada de www.nicholsoncartoons.com.au

terça-feira, agosto 23, 2005

Um pouco mais de Campos



Fernando Pessoa nasceu a 13 de Junho de 1888 em Lisboa, cerca de dois anos antes de Álvaro de Campos, poeta nascido a 15 de Outubro de 1890 em Tavira, com quem fundou as revistas Orfeu e Portugal Futurista e a propósito do qual o igualmente co-fundador dessas revistas, Mário de Sá Carneiro, chegou a afirmar que a obra de Campos sobreviveria à sua própria e à de Pessoa.

Os percursos de Pessoa e de Campos foram diversos. Pessoa, que se auto-classificou como "tradutor" ou mais precisamente "correspondente estrangeiro em casas comerciais", conheceu a experiência de uma juventude na África do Sul, entre 1896 e 1905, na sequência da morte de seu pai e, no ano seguinte, do seu irmão Jorge, assim como da amizade entre sua mãe e o cônsul de Portugal em Durban. Poeta muito prolífico e interessado em astrologia e misticismo, Pessoa teve um único livro publicado em vida: Mensagem, ganhador do segundo prémio de um concurso cujo vencedor, como tão habitual é, mergulhou para sempre no esquecimento.

Já Álvaro de Campos estudou engenharia naval em Glasgow e percorreu demoradamente o Leste antes de se instalar em Lisboa. Curiosamente, as personagens de ambos confundiam-se ao ponto de o próprio Pessoa ter afirmado, partindo do princípio de que seria ele que de alguma forma talvez mediúnica, passava para o papel os versos de Campos, que o escrevia "quando sinto um súbito impulso para escrever e não sei o quê".

Pessoa faleceu em Lisboa, no hospital de São Luís, vítima de uma grave crise hepática resultante de muitos anos de contacto íntimo com a bebida. Estava-se a 30 de Novembro de 1935. Estranhamente, também Álvaro de Campos faleceu por essa altura, o que não deixa de tornar nos nossos espíritos curiosa a teoria das almas-gémeas...

De Pessoa, apesar do seu incontestável e incontestado génio, nada vos trago. Campos é mesmo, sempre foi, o meu favorito. Ofereço-vos, então, um díptico, que não começou por ser díptico, desse mesmo autor. Perdoem-me o exagero se porventura o for... Se realmente aqui transcrevesse todos os poemas de Campos que mais aprecio, a começar pelo genial e incontornável pequeno-grande poema da "Vénus de Milo", o vosso It takes two teria que passar a chamar-se Aliás, Álvaro de Campos...





Símbolos! Estou farto de símbolos...
Mas dizem-me que tudo é símbolo.
Todos me dizem nada.
Quais símbolos? Sonhos. -
Que o sol seja um símbolo, está bem...
Que a lua seja um símbolo, está bem...
Que a terra seja um símbolo, está bem...
Mas quem repara no sol senão quando a chuva cessa,
E ele rompe as nuvens e aponta para trás das costas
Para o azul do céu?
Mas quem repara na lua senão para achar
Bela a luz que ela espalha, e não bem ela?
Mas quem repara na terra, que é o que pisa?
Chama terra aos campos, às árvores, aos montes,
Por uma diminuição instintiva,
Porque o mar também é terra...
Bem, vá, que tudo isso seja símbolo...
Mas que símbolo é, não o sol, não a lua, não a terra,
Mas neste poente precoce e azulando-se
O sol entre farrapos finos de nuvens,
Enquanto a lua é já vista, mística, no outro lado,
E o que fica da luz do dia
Doura a cabeça da costureira que pára vagamente à esquina
Onde se demorava outrora com o namorado que a deixou?
Símbolos? Não quero símbolos...
Queria - pobre figura de miséria e desamparo! -
Que o namorado voltasse para a costureira.



PSIQUETIPIA (OU PSICOTIPIA)

Símbolos. Tudo símbolos...
Se calhar, tudo é símbolos...
Serás tu um símbolo também?

Olho, desterrado de ti, as tuas mãos brancas
Postas, com boas maneiras inglesas, sobre a toalha da mesa,
Pessoas independentes de ti...
Olho-as: também serão símbolos?
Então todo o mundo é símbolo e magia?
Se calhar é...
E porque não há-de ser?

Símbolos...
Estou cansado de pensar...
Ergo finalmente os olhos para os teus olhos que me olham.
Sorris, sabendo bem em que eu estava pensando...

Meu Deus! E não sabes...
Eu pensava nos símbolos...
Respondo fielmente à tua conversa por cima da mesa...
"It was very strange, wasn't it?"
"Awfully strange. And how did it end?"
"Well, it didn't end. It never does, you know."
Sim, you know... Eu sei...
Sim, eu sei...
É o mal dos símbolos, you know...
Yes, I know.
Conversa perfeitamente natural... Mas os símbolos?
Não tiro os olhos de tuas mãos... Quem são elas?
Meu Deus! Os símbolos... Os símbolos...


E assim vos deixo com mais este momento de kultura, que é também um pouco o que me acontece "quando sinto um súbito impulso para escrever e não sei o quê". Abraços do Master.

Fotografias de www.arlindo-correia.com, www.christiansyou.com e www.studiopenumbra.com

segunda-feira, agosto 22, 2005

A guerra e a religião

Todos sabemos (ou fingimos não saber) até que ponto guerra e religião formam o casal perfeito; mas o que parecemos ignorar, por vezes, é até que ponto não se trata sempre de uma mera atitude hipócrita dos profetas do poder, mas sim de um seguir correcto dos mandamentos da própria religião. As religiões, Deus à parte, que Deus existente ou não-existente, é toda uma outra questão, foram criadas por homens para servirem interesses de coesão, organização e moral. Mas mesmo a atitude das diferentes religiões perante a guerra pode variar como a água e o vinho. Lembrei-me de vos trazer meia dúzia de citações de diferentes livros sagrados para que, por vós mesmos e nunca pelo que um padre, um papa, um imã, um eremita, um xamã ou um grande feiticeiro vos impinjam, possais concluir qualquer coisita. Poderia trazer-vos muito mais citações de muito mais religiões, uma vez que as religiões abundam como as direcções do vento, mas confesso que seria demasiado trabalho e que para isso escreveria antes um livro. Dentro do que pode caber num blog, aqui vão as vossas citações:


Deus ordenou-me que combatesse os outros até que testemunhem do facto de não haver Deus senão Alá e que Maomé é o seu mensageiro, e que orem e paguem o Zakat. Se assim fizerem, o seu sangue e a sua propriedade estarão a salvo de mim. (Corão)

É certo que exigirei o sangue da vossa vida; de cada animal o exigirei. E de cada homem, do irmão de cada homem exigirei a vida do homem. Quem quer que derrame o sangue do homem, também o seu sangue será derramado pelo homem uma vez que Deus fez o homem à Sua imagem. (Antigo Testamento)

Vós ouvisteis dizer: ama o teu vizinho e odeia o teu inimigo. Mas eu vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por quem vos persegue, sede filhos do vosso Pai no céu. Ele faz com que o sol se erga para bons e maus e envia a chuva a justos e injustos. (Novo Testamento)

Não deveis matar qualquer criatura vivente, nem levar à sua morte. Não causeis ferimento a qualquer criatura, seja ela forte ou fraca, no mundo. (Budismo)

Com equanimidade face à alegria e à tristeza, ao ganho e à perda, à vitória e à derrota, combate. Dessa forma, não estarás cometendo qualquer pecado. (Hinduismo)

Salve, Marte vermelho-sangue!

Arauto da guerra e do combate.

O teu escudo e lança sempre prontos

A desafiar e conquistar teus inimigos.

Os que procuram a vingança,

A sua justa fúria dando-nos o poder

Até ao final do combate.

Tu, vermelho,

Tu, desafiador,

Nós te agradecemos

Pela força

Que permite levar as batalhas ao seu termo. (Wicca)

E assim vai o mundo. Guerra para aqui, guerra para ali, para para acoli, paz para acolá. Escolhei em paz e que a vossa escolha seja convosco! Desejo do vosso Master.

Fotografia de http://speddmn.com

Kiss









Kiss

U don't have 2 be beautiful
2 turn me on
I just need your body baby
From dusk till dawn
U don't need experience
2 turn me out
U just leave it all up 2 me
I'm gonna show u what it's all about

U don't have 2 be rich
2 be my girl
U don't have 2 be cool
2 rule my world
Ain't no particular sign I'm more compatible with
I just want your extra time and your

Kiss

U got to not talk dirty, baby
If u wanna impress me
U can't be 2 flirty, mama
I know how 2 undress me (Yeah)
I want 2 be your fantasy
Maybe u could be mine
U just leave it all up to me
We could have a good time

U don't have 2 be rich
2 be my girl
U don't have 2 be cool
2 rule my world
Ain't no particular sign I'm more compatible with
I just want your extra time and your

Kiss

Yes
I think I wanna dance
Gotta, Gotta
Little girl Wendy's parade
Gotta, gotta, gotta

Women not girls rule my world
I said they rule my world
Act your age, mama (Not your shoe size)
Not your shoe size
Maybe we could do the twirl
U don't have 2 watch Dynasty
2 have an attitude
U just leave it all up 2 me
My love will be your food
Yeah

U don't have 2 be rich
2 be my girl
U don't have 2 be cool
2 rule my world
Ain't no particular sign I'm more compatible with
I just want your extra time and your

Kiss

(Prince)



E perontos! Todos somos necessários para fazer o mundo... Uma boa semana procês do vosso Master!

Fotos de www.poster.net/arellano-migdaglia/, www.free-lesbia-gallery.org e www.jonathanfrancescass.com

Grande poesia no feminino - Sylvia Plath

Estudei Sylvia Plath com a poeta Ana Luísa Amaral e gostei. Ainda me lembro de ter gostado, o que não é mau para quem tem memória de teflon. De certeza que gostei. Porque não impingir-vos, então, mais um pouco de poesia de qualidade, desta feita com a característica de vir em inglês (e não, não vou traduzir, tirem um diploma de Cambridge se vos aprouver, a poesia é sempre melhor não traduzida)?
Sylvia nasceu em Jamaica Plain, no Massachussets, a 27 de Outubro de 1932. Foi sempre uma aluna excelente e uma autora prolífica. Casada com o poeta britânico Ted Hughes a 16 de Junho de 1956, menos de quatro meses após se terem conhecido numa festa e após uma sucessão de romances e casos falhados, Sylvia mudou-se para a sombria Inglaterra, cujo clima geral certamente terá contribuido para o seu estado depressivo, permanentemente escondido sob uma capa de força e alegria de viver. Tiveram uma filha e um filho com um caso de aborto pelo meio. Cada vez mais isolada após a mudança do casal para o Devon, Sylvia pôs enfim termo à vida (já se tentara suicidar sem sucesso em 1953) a 11 de Fevereiro de 1963, sufocada pelo gás de um fogão onde introduzira a cabeça. Para os interessados, existe um filme com Gwyneth Paltrow na figura principal sobre a vida da poeta: Sylvia.
Deixou-nos, entretanto, uma obra brilhante e variada, de que o presente poema, bastante simples na estrutura, é um caso perfeito da força que caracterizou a sua expressão literária.




Never try to trick me with a Kiss

Never try to trick me with a kiss
Pretending that the birds are here to stay;
The dying man will scoff and scorn at this.

A stone can masquerade where no heart is
And virgins rise where lustful Venus lay:
Never try to trick me with a kiss.

Our noble doctor claims the pain is his,
While stricken patients let him have his say;
The dying man will scoff and scorn at this.

Each virile bachelor dreads paralysis,
The old maid in the gable cries all day:
Never try to trick me with a kiss.

The suave eternal serpents promise bliss
To mortal children longing to be gay;
The dying man will scoff and scorn at this.

Sooner or later something goes amiss;
The singing birds pack up and fly away;
So never try to trick me with a kiss:
The dying man will scoff and scorn at this.

E é isso. Durmam bem, porque tudo vem e vai mas há coisas como a poesia que podem ficar, pelo menos durante um tempinho...

Fotografia retirada de www.sc.edu/fitzgerald/jpegs/plath1500.jpg

domingo, agosto 21, 2005

Mourinho e os bueiros do Dragão

Embora o vosso Master se esteja total, absoluta e completamente nas tintas para o futebol que tão bizarramente povoa as mentes de milhões de portugueses mais do que a política, a economia, os copos ou a qualidade das quecas dadas, dei ontem uma volta completa ao Estádio do Dragão. Uma peregrinação, diria quase, que só não fiz de joelhos porque poderia ficar arranhado, vulgo lesionado. O Estádio do Dragão, onde o Porto se ufanou a perder a quase totalidade dos jogos ali disputados às mãos do desvario estranhíssimo de um ano em que três, sim três treinadores inteiros, passaram pelo clube, é uma obra arquitectónica interessante. Para os fãs de futebol que desconhecerem a palavra e uma vez que é sempre bom ir ocasionalmente aprendendo algo de novo, sugiro que procurem o termo arquitectura (ou architecture para os que utilizam daqueles horrendos tradutores electrónicos que talvez decifrem, por exemplo, Mourinho como Little Man from the Morocco ou, no máximo, Little Man from Lisbon) no Google ou no Alltheweb.



Dei eu, então, uma esforçadissima volta em torno do Dragão e notei que, numa espécie de tampas de bueiro a todo o redor, se encontram assinaladas datas, nomes, figuras importantes para o FCP. Uma espécie de Walk of Fame com um pouco menos de gosto, mas ainda assim uma ideia certamente original e uma atitude certamente louvável. O Pedroto está lá, está lá o Pavão, estão lá tantos outros...

De José Mourinho, o treinador que em 2002/2003 trouxe ao clube o trio de vitórias da Liga, da Taça e da UEFA e que, no ano seguinte, ainda lhe logrou somar uma vitória memorável na Liga dos Campeões, nem pó! Ainda imaginei que se tratasse de um esquecimento desastroso, possivelmente motivado pelo facto de os arquitectos não perceberem népias de futebol... Mas acabei por chegar à triste conclusão de que o senhor José Nuno Pinto da Costa e demais direcção do clube das Antas, perdão do Dragão, enfim, o Dragão fica mesmo à beira das Antas, devem ter optado por apagar das memórias do clube o nome incómodo de alguém que talvez tenha tido personalidade a mais correspondendo a resultados reais, o que na nossa terra sempre equivale a "arrogância", "armanço" e "rebelião intolerável". Fiquei triste. Quase me surgiu uma lágrima ao canto do olho. Mas é uma imagem muito real do nosso país onde gente como o major Valentim Loureiro ou a senhora Fátima Felgueiras se habilitam a verdadeiramente manter o santo caciquismo que os tem perpetuado no poder ou onde figuras tão características como o senhor Alberto João Jardim podem dedicar a vida a sugar cubanos e a pisotear os seus conterrâneos sem que nenhuma alma mais inteligente se lembre de oferecer a merecida indepemdência à Madeira, o que não me parece que desencadeasse qualquer epidemia de choros convulsivos no Continente. Mourinho foi, então, apagado do Dragão como se se tratasse de algum treinador de segunda que até nem nada fez pelo Porto...





Penso que será perante uma tão grande injustiça que o homem patenteia este ar preocupado e pensativo. Ou então, está-se nas tintas! Como eu para o futebol nas suas triquices que nos desviam do que realmente conta, do que faz com que cada vez vivamos pior enquanto os sinhores risonha, despudorada e despreocupadamente mantêm e acrescem as suas vidas de luxo, nos seus automóveis de luxo, vivendas de luxo, férias de luxo e festas de luxo. Mas é claro que se todos passamos mal, talvez isso seja, na verdade, culpa e pecado mortal dos incompetentes funcionários públicos dedicados a sabotar o país que tão afincada e eficazmente trabalha. Seja!


Eis, por curiosidade e interesse documental, algumas das primeiras declarações de Mourinho à imprensa inglesa, quando para o reino dos sugadores reais britânicos se deslocou, revelando no Chelsea que não se trata de nenhuma fraude e que os empresários russos (santos icónicos ou mafiosovskia) sabem bem o que querem e fazem, ao contrário dos nossos competentíssimos dirigentes que preferem continuar a iludir o puabo com palavras de ordem do género O Puarto é uma naçõe, em lugar de pensar e agir com eficácia:

Temos jogadores de topo e lamento ser um pouco arrogante, temos um treinador de topo.

Sou o campeão europeu. Acho que sou especial.

Já li que tenho que dar grandes provas no futebol inglês. Sir Alex Ferguson é o único campeão europeu neste país, ninguém mais, o que é que tenho que provar então?

Ah, ganda Mourinho, homem de tomates! Gosto. Gajo arrogante no léxico nacional com tantas provas dadas no estado da nação. Mas o Master está-se também nas tintas para o léxico nacional. Há quem diga que precisávamos de um Salazar a cada esquina... Cada cabeça sua sentença. Eu acho antes que precisávamos de substituir as nossas classes política e empresarial por homens como o Mourinho. Depois se veria... Ah, e acho, claro está, que talvez não fosse de mau tom realizar uma pequena, humilde e singela (bem à maneira portuguesa) alteração nas tampas de bueiro do Dragão. Just a thought...
Citações de Mourinho de www.blogs.com/famous/mourinho/html

Como já disse, este é um blog para entendedores...




















Boa noite e durmam bem. Abraços do vosso Master.

Imagens de www.freenaturephotos.com, www.odysseetheater.com e http://northcoastcafe.typepad.com

sábado, agosto 20, 2005

Quem dá uma, dá duas

Eis, procês, mais um belo poema de Carlos Drummond de Andrade. Se não o acharem belo, passem à frente, ou atrás, ou ao lado, no problem. De qualquer forma, este blog é só para entendedores...




Viagem na família

A Rodrigo M. F. de Andrade

No deserto de Itabira
A sombra de meu pai
Tomou-me pela mão.
Tanto tempo perdido.
Porém nada dizia.
Não era dia nem noite.
Suspiro? Vôo de pássaro?
Porém nada dizia.

Longamente caminhamos.
Aqui havia uma casa.
A montanha era maior.
Tantos mortos amontoados,
o tempo roendo os mortos.
E nas casas em ruína,
desprezo frio, umidade.
Porém nada dizia.

A rua que atravessava
a cavalo, de galope.
Seu relógio. Sua roupa.
Seus papéis de circunstância.
Suas histórias de amor.
Há um abrir de baús
e de lembranças violentas.
Porém nada dizia.

No deserto de Itabira
as coisas voltam a existir,
irrespiráveis e súbitas.
O mercado de desejos
expõe seus tristes tesouros:
meu anseio de fugir;
mulheres nuas; remorso.
Porém nada dizia.

Pisando livros e cartas,
viajamos na família.
Casamentos; hipotecas:
os primos tuberculosos;
a tia louca; minha avó
traída com as escravas,
rangendo seda na alcova.
Porém nada dizia.

Que cruel, obscuro instinto
movia sua mão pálida
sutilmente nos empurrando
pelo tempo e pelos lugares
defendidos?

Olhei-o nos olhos brancos.
Gritei-lhe: Fala! Minha voz
vibrou no ar um momento,
bateu nas pedras. A sombra
prosseguia devagar
aquela viagem patética
através do reino perdido.
Porém nada dizia.

Vi mágoa, incompreensão
e mais de uma velha revolta
a dividir-nos no escuro.

A mão que eu não quis beijar,
o prato que me negaram,
recusa em pedir perdão.
Orgulho. Terror noturno.
Porém nada dizia.

Fala fala fala fala.
Puxava pelo casaco
que se desfazia em barro.
Pelas mãos, pelas botinas
prendia a sombra severa
e a sombra se desprendia
sem fuga nem reação.
Porém ficava calada.

E eram distintos silêncios
que se entranhavam no seu.
Era meu avô já surdo
querendo escutar as aves
pintadas no céu da igreja;
a minha falta de amigos;
a sua falta de beijos;
eram nossas difíceis vidas
e uma grande separação
na pequena área do quarto.

A pequena área da vida
me aperta contra o seu vulto,
e nesse abraço diáfano
é como se eu me queimasse
todo, de pungente amor.
Só hoje nos conhecermos!
Óculos, memórias, retratos
fluem no rio do sangue.

As águas já não permitem
distinguir seu rosto longe,
para lá de setenta anos...

Senti que me perdoava
porém nada dizia.
As águas cobrem o bigode,
a família, Itabira, tudo.

Desejos de um bom fim de semana do vosso Master.

Foto do deserto de http://mandos.org